Mais de 200 fiscais do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (INDEA-MT) vão percorrer pouco mais de 5.000 propriedades rurais para garantir o cumprimento do vazio sanitário da soja, que se estende até o dia 15 de setembro. Neste período o agricultor não pode semear ou manter a presença de plantas vivas de soja, cultivadas ou guaxas (germinação voluntária), visando o contágio de pragas, por exemplo, a ferrugem asiática.
Mato Grosso é o maior produtor nacional de soja, última safra foram 35 milhões de toneladas, sendo responsável por mais de 10% da produção mundial do grão. A soja é usada como matéria prima para vários produtos alimentícios e está entre as culturas de maior importância na balança comercial do Brasil.
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De acordo com o diretor técnico do INDEA-MT, Renan Tomazele, o valor da multa é R$5.886,60 + R$392,44 por hectare (valor deste mês, variando de acordo com a UPF, uma vez que a multa é de 30 UPFs + 2UPFs por hectare com soja viva), para quem descumprir a Portaria N°306, que institui o Programa Nacional de Controle da Ferrugem Asiática da Soja, no âmbito do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. “Serão percorridas às áreas para verificar a presença de plantas vivas de soja e também a ocorrência de ferrugem nas plantas encontradas”, afirmou Tomazele. A medida objetiva reduzir a sobrevivência do fungo causador da ferrugem-asiática durante a entressafra e assim, atrasar a ocorrência da doença na safra.
O engenheiro agrônomo Ricardo Silveiro Balardin, Phd em Fitopatologia, estuda a ferrugem asiática da soja desde 2002, quando a doença se manifestou nas lavouras brasileiras. Balardin, que é professor aposentado da Universidade Federal de Santa Maria (RS), destaca que o agricultor tem que entender a importância de cumprir esse período do vazio sanitário da soja. “Uma das principais recomendações para controle de doenças em quaisquer cultivos, é a rotação cultural. Similar ao vazio sanitário, ambas estratégias visam impedir a continuidade do ciclo da doença, viabilizando o controle das mesmas”, garante o pesquisador Balardin. Tanto a rotação de culturas como o vazio sanitário consistem em alternar, de forma ordenada, diferentes espécies vegetais em determinado espaço de tempo, na mesma área e na mesma estação do ano. O vazio sanitário traz enormes benefícios à produção da soja exatamente por reduzir a sobrevivência do causador da ferrugem asiática, retardando a epidemia e possibilitando à cultura um manejo mais sustentável.
A ferrugem asiática tem como agente causal o fungo Phakopsora pachyrhizi Sydow, que possui grande potencial de dano à cultura em função da grande agressividade e rápida expansão do amarelecimento e queda prematura de folhas. Caso não seja controlada pode causar 100% de dano, com significativo impacto econômico.
Apesar da ferrugem asiática ser a maior preocupação dos produtores rurais no manejo sanitário da soja, alguns ainda insistem em desrespeitas as orientações do não plantio nesse período em que o fugo necessita de tecido vivo para a proliferação. “A decorrência de não obedecer ao vazio sanitário ou minimizar a rotação de culturas, é exatamente o que estamos vendo, o crescimento descontrolado de doenças de solo, baixa eficácia de controle das doenças de parte aérea, perda completa de fungicidas, pois a grande maioria não atinge a uma eficácia mínimo de 80% no combate ao fungo”, garante Ricardo Balardin, Phd em Fitopatologia. Nas últimas décadas, o uso de fungicidas na agricultura tornou-se fator crucial para o controle efetivo de doenças em plantas, uma vez que infecções fúngicas levam à redução de produtividade de cultivos em todo o mundo.
Em Mato Grosso, no ano de 2020 foram realizadas 4.312 fiscalizações, durante o período do vazio sanitário da soja, e aplicadas 22 multas, totalizando 774,18 ha com soja. Nos últimos anos, houve uma redução substancial da área e número de produtores autuados durante o vazio sanitário. Em 2018 foram 114, em 2019 caiu para 58 propriedades multadas, de acordo com estatísticas do INDEA. “Esperamos que a quantidade de propriedades irregulares continue diminuindo, mas depende muito das condições climáticas ao final da safra, que este ano teve um atraso nas chuvas”, conclui Renan Tomazele.
Por Márcio Moreira – AGRONEWS
AGRONEWS – Informação para quem produz