“Estão tentando transformar a região do Araguaia, área muito produtiva e com enorme potencial para se desenvolver ainda mais, em um enorme Parque Ecológico”, dispara o presidente da Associação dos Fazendeiros do Vale dos Rios Araguaia, Cristalino e das Mortes (AFAVA), e produtor rural, Hugo Frota Filho, sobre a proposta de Zoneamento Socioeconômico e Ecológico de Mato Grosso. A preocupação é compartilhada com o Fórum Agro MT, que em documento encaminhado ao Governo do Estado já alertava dos problemas para a região, em virtude da extrema restrição das áreas, somada à proposta de criação de unidades de conservação, o que inviabilizará o desenvolvimento da agropecuária e da mineração da região.
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Com propriedades nos municípios de Cocalinho (distante 874 km de Cuiabá) e São Félix do Araguaia (a 1.002 km da Capital), Frota Filho conta que tirou dessas propriedades o sustento de toda sua família, e relembra que por muitos anos a região do Vale do Araguaia foi apelidada de Vale dos Esquecidos. Após anos de árduo trabalho, investimentos e muito planejamento e a força de vontade da própria população, a região conseguiu se desenvolver gerando empregos e renda, consequência da adoção de tecnologias que possibilitaram o desenvolvimento de agricultura e pecuária tecnificadas, que aumenta a produtividade e o desempenho das atividades.
“Como estamos muito distantes da Capital, nossa região sempre sofreu com falta de infraestrutura. Muitos produtores da região abriram estradas que hoje são rodovias estaduais com seu próprio esforço. Nos juntamos para construir escolas, para levar educação às crianças da região. São décadas de trabalho duro de famílias que assim como a minha construíram um legado para as futuras gerações, e agora, tudo isso corre risco de acabar por conta desse Zoneamento”, afirma o produtor rural.
Ele acredita que o estudo não condiz com a atual realidade da região, que se desenvolveu e muito em comparação com o período apurado pela proposta do Zoneamento. Ainda de acordo com Frota Filho, os próprios produtores trabalham de forma sustentável, com preservação do meio ambiente e adoção de práticas que atendem a legislação.
“Acredito que talvez estejam querendo achar uma forma de compensar os danos causados em outras regiões do Estado com esta proposta do ZSEE-MT, mas quem defende esse estudo não conhece a nossa realidade de trabalho sério e dentro da lei. Seria uma verdadeira tragédia instalar parques e áreas de conservação onde famílias dedicaram a vida inteira para crescer e prosperar. Sem contar que acabará com a economia local, que se baseia principalmente na produção e comercialização de produtos relacionados ao agro”, contextualiza.
O deputado estadual e presidente da Comissão Especial que debate o Zoneamento Socioeconômico e Ecológico de Mato Grosso na Assembleia Legislativa do estado, Dr. Eugênio (PSB), defende uma revisão da atual proposta, que segundo ele, impede o crescimento e desenvolvimento de regiões em franco desenvolvimento, como os municípios do Vale do Araguaia.
“Precisamos saber como o Governo está se preocupando com as pessoas e com as regiões afetadas. É preciso haver um equilíbrio, o que é incoerente é as regiões mais pujantes continuarem avançando, e o Araguaia, mais afetado pela proposta, ser lançado à estagnação social e econômica. Um exemplo é a chegada da Ferrovia FICO, que nesta semana, no município de Mara Rosa (GO), a construtora responsável pela obra iniciou a montagem do acampamento para lançar os dormentes da ferrovia. Uma notícia espetacular, e que irá afetar diretamente a região, com a chegada da ferrovia em Água Boa, mas para isso precisamos de segurança jurídica para que as empresas possam investir na região”, frisou.
Eugênio ainda apontou o impacto que será causado na economia de Mato Grosso, caso o ZSEE-MT seja aprovado. “Não podemos impedir o agricultor familiar de crescer. A proposta defende que determinadas áreas estarão impedidas de serem tecnificadas. É um contrassenso que não consigo entender, é o mais preocupante, não percebemos essa mesma indignação por parte do governo. Não queremos [ALMT] precisar fazer substitutivo, mas para que esse estudo seja aprovado tem que haver o interesse do Governo em fazer as ponderações necessárias, com coerência e equilíbrio”, defendeu o deputado estadual Dr. Eugênio Paiva (PSB).
A pauta do Zoneamento também é vista com preocupação pelo prefeito de Cocalinho (distante 877 km de Cuiabá), Marcio Conceição Nunes de Aguiar, mais conhecido com Baco (PSB), que avalia que a atual proposta afetará diretamente pelo menos 17 municípios da região do Vale do Araguaia. “Acredito que Cocalinho será um dos mais prejudicados, pois a criação de áreas de preservação afetará diretamente no desempenho da nossa agropecuária, uma das principais engrenagens da economia da cidade. Estamos trabalhando juntamente com o sindicato rural do município e com a AFAVA, e nos articulado com outros municípios para que o estado reveja a proposta do ZSEE-MT e para evitar que nosso município retroceda nas questões de produtividade”, argumenta.
“Nossa expectativas para o futuro de Cocalinho são as melhores possíveis, desde que essa proposta não seja implantada da forma que está. Acredito que o governo do estado vai ouvir nosso apelo e respeitar nossas reivindicações”, finaliza Baco.
Outra região que o ZSEE/MT prevê a instalação de novas áreas de preservação é a do Vale do Guaporé, composta pelos municípios Pontes e Lacerda, Vila Bela da Santíssima Trindade, Nova Lacerda, Conquista D’Oeste, Comodoro, Figueirópolis D’Oeste e Jauru. De acordo com o deputado estadual Valmir Moretto, com base política na região, as áreas que até o momento estão intocadas e protegidas, só estão nessa situação graças ao trabalho e conscientização dos produtores da região.
“O estado nunca esteve presente nessas áreas, se há preservação nessa região é por conta da consciência e respeito dos produtores com o meio ambiente. Até hoje, esses mesmos produtores não receberam nenhum tipo de compensação financeira por isso, então sou contrário a qualquer medida que amplie áreas de conservação ou até mesmo criação de novas unidades de preservação”, defende.
Moretto reafirma que não é contra a implantação do Zoneamento, desde que seja feito um novo estudo mais atualizado e que retrate a realidade do estado, principalmente em relação ao setor produtivo. “Nós não podemos autorizar ao estado dar mais um “calote”, já existem inúmeras áreas que até hoje o estado não indenizou, e agora podem acontecer de tomarem propriedades particulares preservadas sem as devidas indenizações”, pontua.
Ponto também defendido pelo prefeito de Pontes e Lacerda, importante município da região do Vale do Guaporé, Alcino Barcelos (Republicanos), que enfatizou o trabalho realizado pelos produtores rurais, que investem muito em tecnologia para produzir mais com menos, e consequentemente preservar a maior área possível.
“É claro que somos a favor da preservação ambiental, falo isso como prefeito e como produtor rural, mas não podemos prejudicar hoje o setor do agro, que é o fiel da balança em Mato Grosso e no Brasil, por algo que ele já faz, que é preservar. Precisamos separar o joio do trigo, o verdadeiro produtor respeita e preserva o meio ambiente, às vezes até sem apoio das esferas governamentais, e ainda assim nunca se furtou de preservar”, afirma.
Segundo Alcino, impor a criação de novas áreas de preservação não é a saída. “É preciso apoiar os pequenos e médios produtores, para investirem em tecnologia e conhecimento, para que ele alcance uma produtividade maior ocupando cada vez menos área e ressarcir aqueles que preservam além do que é recomendado”, pontua.
Mineração
O setor mineral é outro que demonstra preocupação com a atual proposta de Zoneamento. O que poucos sabem é que a mineração também está diretamente ligada ao agronegócio e sua produtividade, destaca o empresário e ex-presidente do Sindicato das Indústrias de Extração de Calcário do Estado de Mato Grosso (Sinecal), Kassiano Reidi. “Considerando apenas no calcário, que faz parte da atividade mineral de Mato Grosso, e pode ter sua extração afetada pelo ZSEE/MT, os produtores dessas regiões terão que buscar o produto em outras localidades, o que vai encarecer a produção. Caso os agricultores da região do Araguaia não consigam trazer o calcário de fora terão redução de produtividade de no mínimo 5% a cada ano sem aplicar a quantidade necessária de calcário”, aponta.
O calcário é o principal produto utilizado para corrigir a acidez do solo. Em linhas gerais age reduzindo a quantidade dos elementos nocivos, e aumenta os níveis de Cálcio e Magnésio. Sua aplicação torna o solo mais aerado e permite maior circulação de água e melhor desenvolvimento das raízes e, em consequência, eleva a atividade dos microrganismos, o que faz com que a adubação renda mais e a terra se torne mais produtiva.
Kassiano destaca ainda que há muitas áreas a serem pesquisadas no território de Mato Grosso, e que o Estado ainda é considerado jovem no conhecimento de depósitos de minérios. A criação de áreas de preservação também pode inviabilizar áreas que já são exploradas e afetar o abastecimento dos produtos extraídos. “Todos os municípios, incluindo os que possuem atividades de mineração serão seriamente prejudicados. Principalmente os da região do Araguaia, pois com a proposta do Zoneamento de implantar uma área de conservação na região, inviabilizará as indústrias de calcário e acarretará o fechamento dessas empresas, com queda na arrecadação estadual e prejuízo à economia local, já que os agricultores terão que buscar calcário em outros estados como Goiás e Tocantins, pagando muito mais caro no frete”, pontua.
O presidente do Fórum Agro MT, Itamar Canossa, reforça que o trabalho da entidade é para que a proposta de Zoneamento seja revisada e alterada, para evitar que a economia do estado seja afetada e também para resguardar o trabalho de quem sempre se dedicou a produzir e a cuidar da terra. “Acredito que já está claro o nosso posicionamento em relação ao ZSEE-MT. Não somos contrários à proposta e entendemos a importância da sua implantação, o que estamos pleiteando é que o estudo seja revisado e adequado à nova realidade do setor produtivo de Mato Grosso”, defende.
O Fórum Agro MT é formado pela Acrimat (Associação dos Criadores de Mato Grosso), Acrismat (Associação dos Criadores de Suínos de Mato Grosso), Ampa (Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão), Aprosmat (Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso) e Famato (Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso) e recentemente tem se articulado junto aos Poderes Executivo e Legislativo para um novo debate sobre o Zoneamento. O trabalho tem gerado frutos e recentemente a ALMT instalou a Comissão Especial para debater o ZSEE-MT.
Por Acrimat
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