Com a arroba do boi gordo em alta, os pecuaristas estão com um olho no pasto e outro no mercado, já que estamos entrando no período da seca, que a cada ano está cada vez mais severa, e acaba afetando a produção de gado de corte em pastagens.
Mato Grosso possui o maior rebanho bovino do Brasil, com mais de 31 milhões de cabeças. E também, o Estado lidera o ranking das exportações de carne bovina no país, seguido de São Paulo e Goiás.
O gerente de Relações Institucionais da Acrimat (Associação dos Criadores de Mato Grosso), Nilton Mesquita, faz um alerta aos pecuaristas da necessidade de planejamento e ações para enfrentar esse período sem chuva, que vem se intensificando, diante das mudanças climáticas. “Ele precisa pensar na água e no pasto para garantir o bem-estar do animal”, afirma Nilton.
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A doutora em Zootecnia Sandra Aparecida Santos, pesquisadora da Embrapa Pantanal, pontua que o fornecimento de água em quantidade e qualidade que atenda os requerimentos dos animais é de extrema importância, principalmente no período de seca, já que o animal precisa ingerir o líquido para o controle da temperatura corporal. A pesquisadora afirma que quando o calor produzido pelo animal não consegue ser dissipado, o animal sofre estresse térmico. Nesse caso, se a quantidade de calor do animal, associada as altas temperaturas, umidade e radiação solar do ambiente externo pode proporcionar um desiquilíbrio na homeotermia dos animais, caracterizada por hipertermia (quando a temperatura do corpo passa dos 40°C).
O impacto do estresse térmico pode levar o animal adoecer, devido à menor eficiência do sistema de defesa e em algumas situações pode levar os animais à morte. Já em vacas de cria, reduz a eficiência produtiva e reprodutiva dos animais. “Dentre as estratégias destaca-se a escolha de raças e linhagens de animais mais adaptados para enfrentar essas altas temperaturas. Animais zebuínos (Bos Indicus), por exemplo, são mais adaptados à altas temperaturas quando comparados com animais taurinos (Bos taurus), embora tem raças taurinas localmente adaptadas, como o gado Pantaneiro, o Curraleiro Pé-duro, Caracu, entre outras que são adaptadas ao calor, assim como raças sintéticas como o Boi Tropical”, afirma Sandra Santos, pesquisadora da Embrapa Pantanal.
A seca se aproxima e esse período é caracterizado pela menor disponibilidade de forragem para os animais e pela queda do valor nutricional do capim. Nilton Mesquita, diretor da Acrimat, entidade representativa de criadores de gado de corte do Estado de Mato Grosso, destaca algumas estratégias para minimizar os efeitos da redução das chuvas ao orientar aos pecuaristas a mapear as fontes de águas na propriedade, e definir aonde vai levar o animal para beber água (refrescante e limpa). Ele aponta ainda a vedação de pastagem como outro item essencial no planejamento.
“O produtor rural precisar acumular forragem para que o animal possa se alimentar na estação de seca, reduzindo assim, a perda de peso, sem contar da necessidade do uso de suplemento alimentar em alguns momentos da alimentação”, observa Nilton. Devido a temperatura alta, o animal procura sombra, por isso, o pecuarista precisa também definir sombreamento em alguns pastos da propriedade. “Estudos comprovam que a sombra nas pastagens e a quantidade e qualidade de água adequada aumentam os índices de produtividade animal”, garante Sandra Santos, pesquisadora da Embrapa Pantanal.
O pecuarista precisa ficar atento a essas orientações para que a falta de chuvas não afete a alimentação dos bovinos e a produtividade dos gados de leite e de corte durante o período da seca. Afinal, o mercado, principalmente o de exportação, exige práticas de manejo que assegurem o bem-estar animal, garantindo mais eficiência na qualidade da produção. “Quem não faz um planejamento para esse período de seca vai ter um animal mais tardio, caso tenha um déficit alimentar, ou seja, o animal ao invés de ganhar peso, que seria a intenção, ele vai começar a perder peso, e vai recuperar somente no período de chuva, é o famoso efeito sanfona”, alerta Nilton, diretor da Acrimat.
Pesquisa da Embrapa Pantanal aponta que as práticas de manejo visando o bem-estar de animais domésticos devem ser baseadas nas “cinco liberdades” ou princípios definidos pelo Conselho Britânico de Bem-estar de animais domésticos. São elas:
- Liberdade fisiológica (ausência de sede e fome);
- Liberdade sanitária (livre de doenças, maus tratos e dor);
- Liberdade comportamental (expressão do comportamento natural);
- Liberdade ambiental (espaço adequado e conforto);
- Liberdade psicológica (livre de medo e estresse).
Segue abaixo entrevista com a doutora em Zootecnia Sandra Santos, pesquisadora da Embrapa Pantanal:
Por Márcio Moreira – AGRONEWS
AGRONEWS – Informação para quem produz