Uma redução de R$ 86 milhões por ano sem a vacinação, estes foram alguns dos resultados apresentados durante o 2º Fórum Estadual de Vigilância contra a Febre Aftosa “O caminho para tornar MT livre sem vacinação”, realizado nesta quinta-feira (22), no auditório da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (FAMATO).
O chefe da Divisão de Febre Aftosa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Diego Viali dos Santos, apresentou números relacionados aos custos diretos do produtor em todo o processo de vacinação contra a febre aftosa em Mato Grosso. Segundo o especialista, o valor destinado à vacinação é de R$ 86 milhões por ano. Este levantamento levou em consideração os custos na aquisição da vacina (R$ 64 milhões/ano), somados às perdas no frigorífico provenientes das lesões da aplicação (R$ 19 milhões/ano) e perdas na produção de leite após a vacinação (R$ 3 milhões/ano). Vale lembrar que não foram incluídos outros custos/perdas como: manejo, custo de mão-de-obra, custo com material e outros.
Para ampliar o entendimento sobre a importância do estado de Mato Grosso no Plano Estratégico do Programa Nacional de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa (PNEFA), Diego faz um comparativo da população bovina de MT com outros países sul-americanos. “Se o Mato Grosso fosse um país, dentro da América do Sul, ele seria em tamanho de população bovina o segundo maior país.“, esclarece Diego.
A importância do produtor rural
Para vice-presidente do Sistema FAMATO, Francisco Pugliesi de Castro, conhecido como Chico da Paulicéia, é muito importante a participação do produtor rural nesta caminhada do estado para ser considerado livre da febre aftosa sem vacinação: “O produtor rural é o grande responsável por conquistarmos a imunização do rebanho. Entendeu a importância de vacinar e cuidar do seu plantel e, por isso, hoje temos condição de retirar a vacinação com segurança e manter a sanidade animal dos nossos rebanhos”, afirmou Chico durante sua participação em um dos painéis do evento.
Esta também foi a observação do responsável pelo programa estadual de vigilância em febre aftosa do INDEA-MT, Dr. Felipe Peixoto, que aproveitou a oportunidade para salientar a importância do produtor na vigilância do controle sanitário, já que este é o responsável pela notificação imediata em caso de suspeitas. Felipe também apresentou o trabalho realizado pela instituição no controle sanitário de MT e as estratégias de cooperação com outros estados pertencentes ao Bloco I.
Mato Grosso teve um avanço significativo com a implantação de barreiras nos municípios de Rondolândia e partes de Aripuanã, Colniza, Comodoro e Juína, para que entrassem na Instrução Normativa nº 52, publicada em 14 de agosto de 2020 pelo Mapa, e fossem reconhecidos como livres de febre aftosa sem vacinação, por fazerem parte do Bloco I. “Mato Grosso e Rondônia tem um grande elo que seria difícil fazer uma divisão em cima da linha de divisa do estado. Nós conseguimos conter este trânsito, puxando pra dentro um pouquinho de Mato Grosso e colocando apenas 2 barreiras, pois utilizamos as barreiras naturais (Rio Roosevelt).”, explica o coordenador do INDEA Felipe Peixoto.
Ainda assim, pelo andamento das ações, até o momento, o panorama do Bloco IV, da qual Mato Grosso faz parte, não é favorável para a retirada da vacina, como apresentado no evento. Isso levando-se em conta que alguns dos 11 estados estão atrasados no cumprimento das exigências.
A criação de fundos privados foi apontada como uma das principais medidas de segurança para os produtores, em casos de ocorrência da doença. Nesse quesito Mato Grosso sai na frente, já que os produtores contribuem para Fundo de Emergência de Saúde Animal do Estado de Mato Grosso (Fesa-MT). “É um momento muito importante para o Programa de Erradicação da Febre Aftosa. A nossa pecuária esta cada dia mais crescente. Nós produtores rurais, enquanto atores e parceiros deste programa, temos que estar muito atentos a esta vigilância“, disse o presidente do FESA-MT, Antônio Carlos.
Abertura de novos mercados
Com a mudança do status atual para livre de aftosa “sem vacinação”, a produção mato-grossense de carne, pode ter uma valorização de mais de 2 vezes no preço que é praticado na exportação, além do aumento no volume destinado a esta modalidade, com o acesso aos novos mercados estrangeiros. Isso é o que relata o superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA), Daniel Latorraca. Fazendo um comparativo com outros países, Latorraca mostra como estamos perdendo oportunidades financeiras com a manutenção da vacinação contra febre aftosa. “A Austrália atende estes mercados (Japão, EUA, Coreia do Sul e Tailândia), e nós estamos chamando a atenção, porque eles pagam mais pela carne. Quando a gente pega o preço médio do ano passado da carne bovina em MT – carne congelada $ 4 dólares/kg e a carne fresca ou refrigerada $ 4,76. Na carne congelada não tem grande diferença (apontando o gráfico comparativo), mas na carne resfriada o preço pago (para a Austrália) é quase 2 vezes o preço que hoje é pago à Mato Grosso.“, avalia o superintendente do IMEA.
Segundo dados apresentados por Daniel, o destino da produção em 2019 foi distribuído da seguinte forma: 68,8% comércio interestadual; 24,2% exportações; e 7% consumo doméstico. Ele aproveitou para atualizar os números referentes a exportação nos primeiros 6 meses de 2020, que já ultrapassaram o ano anterior, totalizando 34%.
Riscos e preocupações
O coordenador do Centro Pan-Americano de Febre Aftosa (Panaftosa), Alejandro Rivera, destacou os riscos de Febre Aftosa e vulnerabilidades para a reintrodução.
Riviera desmistificou uma das grandes preocupações de contágio, ou seja, as fronteiras da América do Sul. Segundo ele, dos 13 países que fazem parte da Comissão Sul-Americana para a Luta Contra a Febre Aftosa (Cosalfa) – Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Panamá, Paraguai, Peru, Suriname, Venezuela e Uruguai – a Venezuela é a única área de risco que precisa ser mitigada.
O coordenador deu orientações de ações que devem ser adotadas tais como a gestão de riscos e prevenção, gestão de riscos de exposição e propagação, planos de contingência e preparação para emergências. Dr. Alejandro também elencou de forma objetiva os ganhos diretos com a conquista do status de livre de aftosa – sem vacinação. “Tem os benefícios diretos que chegam ao produtor desde o momento que deixa de vacinar, tem outros benefícios que vão chegar ao produtor com a eliminação de perdas causadas pelas injeções e depois tem os outros benefícios. Todos os países que são livre sem vacinação vão impor um protocolo sanitário e quando você é livre sem vacinação você é igual a eles.“, explica Dr. Rivera, se referindo ao tratamento que é dado ao Brasil atualmente com a vacinação, pois mesmo sendo livre de febre aftosa, o país é considerado como infectado e tem que cumprir um protocolo sanitário rigoroso.
O 2º Fórum Estadual de Vigilância contra a Febre Aftosa “O caminho para tornar MT livre sem vacinação”, foi organizado pelas entidades: Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), Famato (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso), Acrimat (Associação dos Criadores de Mato Grosso), Acrismat (Associação dos Criadores de Suínos de Mato Grosso), Aproleite (Associação dos Produtores de Leite de Mato Grosso), Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea-MT), Fesa (Fundo Emergencial de Saúde Animal), CRMV (Conselho Regional de Medicina Veterinária) e Sindifrigo (Sindicato das Indústrias Frigoríficas de Mato Grosso).
Abaixo você pode conferir na íntegra a transmissão do evento:
Por Vicente Delgado – AGRONEWS BRASIL