Expansão do volume exportado para a China também impacta oferta para países árabes
Os países árabes, que em conjunto são o segundo principal parceiro comercial agrícola brasileiro, apresentam uma forte retração na compra da carne brasileira. Depois que suas importações chegaram a crescer 200% nos últimos dez anos, os embarques de carne bovina caíram quase 30% nos primeiros nove meses do ano sobre o mesmo período do ano passado. Nesse intervalo, os embarques de frango encolheram 18,5%. Não que os árabes tenham perdido o apetite, nem reduzido a demanda. As encomendas desabaram por culpa da logística global tumultuada pela pandemia e pelo enorme poder de compra da China.
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“Estamos em um ano atípico. As exportações foram muito impactadas pela pandemia e as relações econômicas não andaram como esperávamos”, afirma Tamer Mansour, secretário geral da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB). Além da falta de contêineres refrigerados no mercado global, os chineses abocanharam fatia maior da carne brasileira. “Foi uma questão comercial e de concorrência”, diz Mansour.
Como o Brasil importa pouco do mercado árabe, os navios voltam vazios, somando custos àqueles já inflados pela logística caótica imposta pela pandemia. Enquanto faltavam navios refrigerados para transporte da carne, sobravam contêineres para esse tipo de carga no porto de Xangai. Outro fator foi a forte demanda por parte da China que, além de maior importadora da carne brasileira, também comprava 15% de todo o frango que os Estados Unidos colocavam no mercado externo. Atritos comerciais entre os dois países levaram os chineses a reduzir os negócios com os americanos e a aumentar as compras do Brasil. O resultado foi uma menor participação das importações árabes.
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Números da CCAB mostram que entre janeiro e setembro houve retração de 28,2% nos embarques de carne bovina em relação ao mesmo período de 2019: 211,76 mil toneladas. A receita caiu 21%, para US$ 763,53 milhões. Com isso as participações dos países árabes no faturamento global brasileiro e em volume recuaram 9,3% e 0,7%, respectivamente.
Os embarques de frango encolheram 18,5% na receita, com US$ 1,5 bilhão e registraram queda de 5,8% no volume, que fechou o período com 1.078,56 toneladas. Porém, a participação global no faturamento diminuiu 25,8% e em toneladas recuou 7,9%. No mesmo período, os embarques totais de carne bovina brasileira aumentaram 10% em volume e 20% em receita, totalizando 1,4 milhão de toneladas e receita de US$ 6,1 bilhões, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras (Abiec).
“A China é a principal importadora da carne bovina e o Egito o vice-líder, seguido do Chile, Rússia e Estados Unidos”, afirma Antonio Jorge Camardelli, presidente da Abiec. Entre os países árabes, os principais importadores do frango brasileiro são Arábia Saudita, seguido por Emirados Árabes, Egito e Kuwait. O mercado árabe é relevante para o Brasil, diz o executivo, com enorme potencial de crescimento.
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“Se o cenário tivesse sido como esperávamos no início do ano, ao invés de queda teríamos registrado crescimento entre 12% e 15% no ramo de aves e de 25% ou mais em carne bovina”, diz Mansour.
As expectativas repousavam, sobretudo, na reabertura de novos mercados, como Egito, Kuwait, Catar, entre outros. O Egito, por exemplo, habilitou 42 novos frigoríficos brasileiros para fornecimento de carnes, 27 de frango e 15 de carne bovina. Além de renovar a habilitação de 95 empresas, 82 de carne bovina e 13 de frango.
Mansour vê o próximo ano com otimismo. “Enxergo 2021 um ano muito promissor com expansão nas exportações e boas parcerias estratégicas, com aumento de investimentos de ambas as partes”, prevê. “Temos muitos pedidos de informações de países árabes querendo importar mais. E o Rio Grande do Sul é importantíssimo nessas relações”, diz o secretário da CCBA.
Segundo a Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), o Estado, terceiro maior exportador do produto halal, embarcou 505 mil toneladas de frango entre janeiro e setembro deste ano, 24% acima do mesmo período do ano passado. “Entre 25% e 30% dessas exportações foram para países árabes”, diz José Eduardo dos Santos, diretor executivo da Asgav.
Para Antonio da Luz, economista chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) uma queda nas exportações com destino árabe é eventual e compreensível. “Não estamos exportando menos para os países árabes”, diz. “É que estamos exportando mais para os outros. Esse é o grande vetor”, afirma.
Por sua vez, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, já propôs montar um grupo de planejamento estratégico mais ousado entre países árabes e Brasil. “Somos parceiros muito antigos e gostaríamos de estreitar e aumentar a eficiência desse nosso comércio”, diz.
Por Rosângela Capozoli – Valor Econômico
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