Pesquisadores reafirmam cuidados essenciais para mais produtividade e sustentabilidade na agricultura.
Insumo essencial à atividade agropecuária, o calcário e sua correta prescrição é fundamental para o aumento dos índices de produtividade e lucratividade na soja, milho e outras culturas tradicionais, exigindo ao produtor rural a incorporação de evidências científicas às práticas da lida no campo. Renomados pesquisadores da área agronômica fazem um alerta importante: na maioria das vezes, os critérios de recomendações de calcário subestimam a real necessidade de aplicação de doses nas lavouras.
Essa conclusão, segundo os especialistas Silvino Guimarães Moreira (Universidade Federal de Lavras) e Leandro Zancanaro (Fundação Mato Grosso), é muito importante para o momento da abertura de áreas para introdução da agricultura. Já no sistema de plantio direto, é necessário o manejo da calagem com antecedência ao nível crítico de acidez do solo, num cuidado preventivo, pois o efeito do calcário em profundidade é lento e dependente da dose ideal. O efeito em profundidade é maior ao longo do tempo nas dosagens maiores, porém, é também necessário ter cuidado com doses exageradas, que poderão elevar o pH excessivamente, induzindo a deficiência de micronutrientes e perdas por nematoides cistos na cultura da soja.
De modo geral, também no sistema de plantio direto, com aplicação superficial de calcário, as quantidades do mineral necessárias para atingir de fato os níveis desejados de saturação por bases (o chamado V%) ou teores de cálcio e magnésio são maiores que as prescritas nos manuais de recomendação.
“Porém, se a calagem no sistema de plantio direto não for feita da forma adequada, o produtor, no decorrer dos anos, vai se deparar com uma condição de acidez de solo prejudicial às culturas, afetando a produtividade”, alerta Leandro Zancanaro.
Estudos e evidências científicas trazem luzes a equívocos não raramente cometidos por produtores rurais. Para o início de um bom sistema de plantio direto, por exemplo, é necessário corrigir a acidez do solo em profundidade de forma adequada. Após essa etapa, é obrigatório ter cobertura permanente de solo e rotações de culturas. A rotação, muitas vezes pelas condições logísticas e comerciais em Mato Grosso, nem sempre é possível em grandes extensões de áreas, tendo a sucessão soja-milho como o sistema predominante no Estado.
“Tendo uma correção prévia, cobertura do solo permanente e maior diversidade possível de culturas, garante-se maior probabilidade de longevidade ao sistema de plantio direto. Com o tempo, o sistema de plantio direto agrega aumento de produtividade, aumento de estabilidade e eficiência de uso de nutrientes. Portanto, é necessário adotar estratégias adequadas de manejo da acidez em sistema de plantio direto, através da calagem superficial, feita sob critérios técnicos”, reforça Leandro Zancanaro.
Silvino Guimarães Moreira observa que estudos realizados em área de plantio direto ao longo de 12 anos apontam para uma maior resistência das plantas quando adotada a subsolagem. O rompimento de camadas do solo com maior resistência de penetração em profundidade ocasiona, assim, melhor ambiente para um maior desenvolvimento das raízes e mais absorção de nutrientes pelas plantas.
Estudos da década de 90 também já evidenciavam o maior enraizamento das plantas, maior absorção de água do solo e maior absorção de nutrientes, com destaque ao nitrogênio e potássio, dados os efeitos benéficos da introdução da calagem em perfis mais profundos do solo. “Em solos tropicais, naturalmente ácidos, construir fertilidade de solo implica no manejo adequado da calagem. Então, antes de entrar no sistema de plantio direto, é preciso fazer a lição de casa. O que está sendo o nosso desafio: muitos produtores, depois de entrar no plantio direto, já até venderam as grades para o ferro velho. Precisamos incorporar o calcário de forma profunda ao solo e muitas vezes o produtor sequer tem o maquinário básico necessário”, alerta Silvino Moreira.
Cuidado integrado e especializado – Leandro Zancanaro, da Fundação MT, adverte que negligenciar técnicas de manejo e produtividade já amplamente fundamentadas podem colocar em xeque, no médio a longo prazo, o vantajoso sistema de plantio direto, já adotado em profusão na agricultura brasileira de larga escala.
“Primeiramente, o produtor precisa ser honesto consigo e perguntar: estou realmente fazendo um sistema de plantio direto de qualidade? Estou cuidando do meu sistema? A calagem de forma adequada entra para ajudar a manter o sistema, junto com todas as demais práticas agronômicas. Tudo isso precisa ser observado, analisado e manejado pelo produtor. Daí a importância de boas assistências técnicas. A ciência está aí para auxiliá-lo nesse desafio constante que é produzir”, ressalta o diretor-técnico da Fundação MT. A entidade privada, com sede em Rondonópolis, galgou espaço de destaque no universo científico nacional, contribuindo para o desenvolvimento da agropecuária no Estado e produzindo pesquisas que são hoje referência a todo o Brasil e países vizinhos.