“Na vida do cidadão brasileiro é impossível ele não consumir pelo menos uma tecnologia da Embrapa por dia. Ao acordar, ao tomar um copo de leite, uma xícara de café, ao comer um pão, há tecnologia da Embrapa”, destacou o diretor-executivo de Inovação e Tecnologia, Cleber Soares. Foi com esse objetivo, divulgar o impacto da ciência agropecuária para a sociedade, que no dia 23 foi realizado um Dia de Campo para assessores parlamentares na Embrapa Cerrados (DF). O encontro faz parte de um conjunto de ações para promover maior aproximação da Empresa com o parlamento.
Este foi o primeiro encontro voltado para assessores parlamentares e a expectativa é que outros centros de pesquisa promovam ações semelhantes em seus estados, convidando parlamentares e assessores técnicos para visitas a seus laboratórios e áreas de cultivos experimentais. “Os assessores parlamentares são profissionais de grande importância estratégica, pois fazem a ponte entre a ciência, a sociedade e o parlamento”, enfatizou o diretor, na abertura do evento.
Além de assessores parlamentares da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, estivarem presentes no evento representantes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), e de instituições com atuação no agronegócio brasileiro, entre elas, a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Syngenta Brasil, além de representações dos governos estaduais em Brasília, como a do Estado do Maranhão.
Essa foi a primeira vez que Luiz Guilherme de Medeiros, assessor do deputado federal Paulo Galindo, visitou um centro da Embrapa e acredita ser muito válida essa aproximação: “No momento em que estamos discutindo fortemente a questão da sustentabilidade, das queimadas na Amazônia, é importante dar conhecimento, tanto para o parlamento quanto para a sociedade, às pesquisas que a Embrapa está desenvolvendo para aumentar a produtividade agrícola e a sustentabilidade do trabalho do produtor brasileiro”. Medeiros afirmou que eventos como esse oferecem informações para que os assessores parlamentares entendam como podem ajudar a Empresa no processo legislativo e a agropecuária brasileira a se desenvolver melhor.
Ao receber os convidados, o diretor da Embrapa falou sobre a importância das tecnologias da Embrapa para o Brasil. “Nossas pesquisas contribuíram para aumentar a exportação de carne. Para se ter ideia do volume do produto, um em cada três bifes comercializados no mundo é produzido no Brasil”, destacou, citando ainda outros dados, como o fato de 97% da cevada produzida do País ter tecnologia da Embrapa. Os resultados, segundo o diretor, mostram a importância de se investir em ciência, tecnologia e inovação na agricultura. “Isso muda a vida de um País”, destacou.
Soares lembrou que em sua trajetória, a Embrapa fez com que o país mudasse de importador de alimentos para um dos maiores exportadores no mundo. “Neste ano vamos fechar a nossa produção de grãos com 240 milhões de toneladas. Somos um país que tem segurança e superávit alimentar, com uma agricultura baseada em mais de 300 cultivos, exportados para mais de 180 países no mundo inteiro, de grãos, à carne, passando pelo leite e outros produtos. Somos um importante player na agricultura mundial”.
O diretor afirmou que isso se deu a partir de investimentos em ciência, tecnologia e inovação. Até há um tempo, segundo Soares, o cidadão brasileiro usava 56% do salário mínimo para comprar a cesta básica, atualmente ela custa em torno de 15% do salário mínimo. Ele finaliza: “A Embrapa ainda é uma Empresa jovem, com 46 anos de idade, que já fez muito pelo país e ainda pode fazer mais”.
Outro exemplo clássico da contribuição da ciência para o agronegócio foi a conquista da região central do Brasil, que até então era considerado uma terra inóspita e improdutiva. Para o chefe-geral da Embrapa Cerrados Cláudio Karia, o centro de pesquisa teve um papel essencial nesse processo. Segundo ele, os conhecimentos gerados, aliados à produção de novas cultivares, viabilizaram a produção do bioma. “Várias tecnologias e produtos desenvolvidos em nossos laboratórios viabilizaram a agricultura no Cerrado e graças a isso temos hoje uma agricultura bastante competitiva no mundo”, destacou.
Os participantes tiveram a oportunidade de conhecer melhor a atuação da Embrapa no País e, em especial, três importantes pesquisas relacionadas à conservação ambiental e à redução do uso de agrotóxicos: o WebAmbiente, sistemas de integração e tecnologias para o uso sustentável do solo.
O WebAmbiente, plataforma desenvolvida para ajudar os agricultores na adequação ambiental da propriedade rural para atender às exigências do Código Florestal Brasileiro, foi apresentado pelo pesquisador Felipe Ribeiro. Nele, estão contidas tecnologias desenvolvidas pela Embrapa para uso na adequação florestal. “Temos 90% dos imóveis rurais como propriedades de pequenos agricultores. Precisamos ter tecnologia para que esses imóveis possam se adequar à lei”.
A plataforma propõe, com base nas informações fornecidas pelos produtores, recomendações para preparo do solo, sistemas de recomposição mais adequados de acordo com a localização do imóvel rural e do seu estádio de degradação, e uma lista de espécies nativas que podem ser usadas na propriedade.
“Quando o produtor tem acesso à lista de opções de espécies florestais recomendadas para sua propriedade, para cada espécie há informações detalhadas sobre seu sistema de produção. Esse com certeza é o maior banco de espécies nativas que existe no planeta. É um produto que só nós, Brasil, temos e que nos diferencia dos outros países”, enfatiza o pesquisador.
O chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Cerrados, Marcelo Ayres, chama atenção para outro componente, o econômico. “O processo de recomposição florestal tem um custo enorme. Existem entre 15 e 17 milhões de hectares para serem reflorestados. A um custo mínimo de R$ 350 por hectare para semeadura direta, o valor a ser gasto ultrapassa R$ 5,2 trilhões. Quem vai pagar essa conta?”, reflete.
Ribeiro apresenta a questão para os assessores parlamentares presentes. Atualmente, o produtor rural recebe apenas pelos produtos que gera – grãos, carnes e fibras. “Qual é o ganho econômico que os sistemas de restauração vão gerar? Como podemos remunerar o produtor rural pela qualidade da água que ele oferta, pela saúde do solo e das pessoas, pelo sequestro de carbono?”, provoca. A questão do pagamento por serviços ambientais é uma pauta que está no Congresso Nacional para garantir o equilíbrio do sistema de produção, tanto ambiental como econômico.
Keide Lacerda, assessora parlamentar do senador Vanderlan Cardoso, presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática do Senado Federal, presente no Dia de Campo, defende a Embrapa precisa dar maior visibilidade ao seu trabalho frente à Câmara e ao Senado Federal: “É importante os assessores e os parlamentares irem aos locais para verificar o trabalho que tem sido feito, assim como o de outros órgãos, empresas públicas e autarquias. Esse conhecimento ao qual tivemos acesso hoje é muito válido”. A assessora defende ainda que não haja cortes para a ciência: “Não há desenvolvimento sem inovação, não há desenvolvimento sem investimento. O Ministério da Ciência e Tecnologia, juntamente com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, tem que mostrar o trabalho que a Embrapa faz”, completa.
Na estação sobre Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), o pesquisador Lourival Vilela destacou que que na década de 1970 a exploração do Cerrado era baseada na pecuária e na abertura de áreas para o plantio de arroz consorciado com capim braquiária. “Só que a agricultura deslanchou na região, graças a uma série de tecnologias de manejo e correção da fertilidade do solo, e a pecuária começou a ficar para trás em termos de inserção de tecnologias. Com a pesquisa em recuperação de pastagens, vieram os trabalhos com rotação lavoura-pastagem”, lembrou.
O experimento da Embrapa mais antigo em Integração Lavoura-Pecuária (ILP) atualmente está localizado na Embrapa Cerrados e foi implantado em 1991, com foco na intensificação do uso da área. “Hoje, podemos praticamente dobrar a produção de grãos no Cerrado sem a necessidade de desmatar um palmo de vegetação, simplesmente introduzindo um sistema desse nessas áreas, começando pela rotação”, explicou.
Segundo o pesquisador, nas fazendas que têm feito ILP, o número de animais por hectare aumentou de três a três vezes e meia em relação ao sistema de pastagens de baixa produtividade, permitindo produção de grãos e uma pecuária com ganhos. Os animais criados a pasto, no período da seca, chegam a ganhar até 1,5 kg/dia. “Aproveitamos esse sinergismo não só do ponto de vista da produção como também com foco na melhoria das propriedades do solo. Comparada ao sistema tradicional, a ILP quase dobra os estoques de carbono”, disse, acrescentando que em algumas situações tem sido possível reduzir em 20% o uso de adubo na propriedade graças à ciclagem de nutrientes no solo promovida pelo sistema.
O Dia de Campo foi finalizado na estação sobre uso sustentável do solo, apresentado pela pesquisadora Ieda Mendes. Ela relembrou as revoluções pelas quais passou a agricultura brasileira com a participação da Embrapa, sendo a primeira a construção da fertilidade do solo do Cerrado, iniciada na década de 1970, a partir de recomendações geradas pela pesquisa.
“O Brasil foi o primeiro país do mundo a fazer agricultura em solos inférteis. Nossa agricultura tropical é única, foi um processo disruptivo que mudou a cara do País”, comentou. Outra marca apontada foi o desenvolvimento de inoculantes com estirpes de rizóbios (bactérias fixadoras de nitrogênio) para a soja, que proporcionou uma economia para o Brasil de US$ 19 bilhões em 2018 em adubos nitrogenados, valor cerca de quatro vezes o orçamento anual da Embrapa.
A última revolução se deu a partir dos anos 2000, com a intensificação sustentável, como o sistema Integração Lavoura-Pecuária-Floresta. Com a introdução do Sistema Plantio Direto, técnica preservacionista adotada em 12 milhões de hectares, e o cultivo de braquiária em consórcio com a lavoura de grãos, houve uma mudança de foco para além da produtividade de grãos e carne, vislumbrando-se solos, plantas, animais e pessoas saudáveis. “A saúde do solo está muito ligada à qualidade ambiental. Solos saudáveis sequestram mais carbono, armazenam mais água, emitem menos gases de efeito estufa e reduzem o tempo de persistência dos pesticidas”, apontou a pesquisadora.
Ieda citou o exemplo de experimento da Fundação Mato Grosso, que comparou uma área com soja em monocultivo e outra com soja plantada após braquiária. Na safra 2013/2014, quando ocorreu um veranico, enquanto o monocultivo de soja produziu 29 sacos, a soja após a braquiária produziu 59 sacos por hectare, apesar de os solos serem quimicamente semelhantes nas duas áreas.
Com o resultado da bioanálise, que mede a atividade biológica do solo, foi solucionada a questão. “Verificamos que o solo com braquiária tinha muito mais atividade enzimática que o outro. Ou seja, havia um solo de baixíssima qualidade biológica (na soja monocultivo) e um solo saudável (soja após braquiária). Numa condição de estresse hídrico, o solo saudável teve uma tolerância muito melhor”, afirmou.
Ieda informou que a partir a safra 2019/2020 os laboratórios vão incluir a bioanálise nas análises de solo. “Pela primeira vez, o agricultor vai saber como está, de verdade, a saúde do seu solo. Somos o primeiro país do mundo a colocar esse parâmetro nas análises de solo”, destacou. Essa informação será um estímulo para quem está fazendo o manejo correto do solo e um alerta para o produtor que o está manejando de forma inadequada, convencendo-o a mudar de estratégia.
A pesquisadora finalizou a apresentação destacando a importância de instituições públicas de ciência: “Pesquisar a saúde do solo e sistemas de manejo que maximizem o sequestro de carbono e o armazenamento de água, por exemplo, só acontece realmente numa empresa de pesquisa pública como a Embrapa”.
Érico Leonardo Feltrin é servidor concursado da Câmara dos Deputados e atua como consultor legislativo na área de agricultura e política rural. Na função, ele escreve justificativas de projetos de lei, que precisam ser bem fundamentadas para dar credibilidade à proposta. Feltrin diz que durante a visita à Embrapa já teve algumas ideias: “Na questão da análise do solo e aplicação de fertilizantes, o conhecimento que eu tinha estava baseado na aplicação de fertilizante químico, e estou vendo que é uma questão bem mais complexa que envolve a biologia do solo e outras questões”. Por isso ele justifica que foi importante a visita à Embrapa Cerrados e ter um canal aberto com instituições como a Embrapa, que é referência para seu trabalho.
A gerente-adjunta de Relações Institucionais e Governamentais da Embrapa, Cynthia Cury, agradeceu aos visitantes pela participação no Dia de Campo. Ela ainda citou a tramitação, na Câmara e no Senado, de um projeto de lei sobre o pagamento por serviços ambientais. “É uma política pública e vocês estão mais do que nunca convencidos de sua importância. Contem com a Embrapa para a discussão e para subsidiar o trabalho de vocês”, disse aos visitantes.
O chefe-geral da Embrapa Cerrados, Cláudio Karia, encerrou o evento colocando como questão a necessidade de se repensar o papel e as prioridades da Embrapa. “Se não tivéssemos priorizado a soja no passado, não teríamos soja no Cerrado hoje. Acredito que, trabalhando em sintonia com as demandas que a sociedade nos coloca, como sustentabilidade e segurança alimentar, e junto com o governo, podemos viabilizar a nossa agricultura para que ela possa prover alimentos seguros e em quantidade e qualidade para a população, e ainda gerar excedentes. Esse é o propósito de uma empresa pública de pesquisa”, finalizou.
“Na vida do cidadão brasileiro é impossível ele não consumir pelo menos uma tecnologia da Embrapa por dia. Ao acordar, ao tomar um copo de leite, uma xícara de café, ao comer um pão, há tecnologia da Embrapa”, destacou o diretor-executivo de Inovação e Tecnologia, Cleber Soares. Foi com esse objetivo, divulgar o impacto da ciência agropecuária para a sociedade, que no dia 23 foi realizado um Dia de Campo para assessores parlamentares na Embrapa Cerrados (DF). O encontro faz parte de um conjunto de ações para promover maior aproximação da Empresa com o parlamento.
Este foi o primeiro encontro voltado para assessores parlamentares e a expectativa é que outros centros de pesquisa promovam ações semelhantes em seus estados, convidando parlamentares e assessores técnicos para visitas a seus laboratórios e áreas de cultivos experimentais. “Os assessores parlamentares são profissionais de grande importância estratégica, pois fazem a ponte entre a ciência, a sociedade e o parlamento”, enfatizou o diretor, na abertura do evento.
Além de assessores parlamentares da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, estivarem presentes no evento representantes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), e de instituições com atuação no agronegócio brasileiro, entre elas, a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Syngenta Brasil, além de representações dos governos estaduais em Brasília, como a do Estado do Maranhão.
Essa foi a primeira vez que Luiz Guilherme de Medeiros, assessor do deputado federal Paulo Galindo, visitou um centro da Embrapa e acredita ser muito válida essa aproximação: “No momento em que estamos discutindo fortemente a questão da sustentabilidade, das queimadas na Amazônia, é importante dar conhecimento, tanto para o parlamento quanto para a sociedade, às pesquisas que a Embrapa está desenvolvendo para aumentar a produtividade agrícola e a sustentabilidade do trabalho do produtor brasileiro”. Medeiros afirmou que eventos como esse oferecem informações para que os assessores parlamentares entendam como podem ajudar a Empresa no processo legislativo e a agropecuária brasileira a se desenvolver melhor.
Ao receber os convidados, o diretor da Embrapa falou sobre a importância das tecnologias da Embrapa para o Brasil. “Nossas pesquisas contribuíram para aumentar a exportação de carne. Para se ter ideia do volume do produto, um em cada três bifes comercializados no mundo é produzido no Brasil”, destacou, citando ainda outros dados, como o fato de 97% da cevada produzida do País ter tecnologia da Embrapa. Os resultados, segundo o diretor, mostram a importância de se investir em ciência, tecnologia e inovação na agricultura. “Isso muda a vida de um País”, destacou.
Soares lembrou que em sua trajetória, a Embrapa fez com que o país mudasse de importador de alimentos para um dos maiores exportadores no mundo. “Neste ano vamos fechar a nossa produção de grãos com 240 milhões de toneladas. Somos um país que tem segurança e superávit alimentar, com uma agricultura baseada em mais de 300 cultivos, exportados para mais de 180 países no mundo inteiro, de grãos, à carne, passando pelo leite e outros produtos. Somos um importante player na agricultura mundial”.
O diretor afirmou que isso se deu a partir de investimentos em ciência, tecnologia e inovação. Até há um tempo, segundo Soares, o cidadão brasileiro usava 56% do salário mínimo para comprar a cesta básica, atualmente ela custa em torno de 15% do salário mínimo. Ele finaliza: “A Embrapa ainda é uma Empresa jovem, com 46 anos de idade, que já fez muito pelo país e ainda pode fazer mais”.
Outro exemplo clássico da contribuição da ciência para o agronegócio foi a conquista da região central do Brasil, que até então era considerado uma terra inóspita e improdutiva. Para o chefe-geral da Embrapa Cerrados Cláudio Karia, o centro de pesquisa teve um papel essencial nesse processo. Segundo ele, os conhecimentos gerados, aliados à produção de novas cultivares, viabilizaram a produção do bioma. “Várias tecnologias e produtos desenvolvidos em nossos laboratórios viabilizaram a agricultura no Cerrado e graças a isso temos hoje uma agricultura bastante competitiva no mundo”, destacou.
Os participantes tiveram a oportunidade de conhecer melhor a atuação da Embrapa no País e, em especial, três importantes pesquisas relacionadas à conservação ambiental e à redução do uso de agrotóxicos: o WebAmbiente, sistemas de integração e tecnologias para o uso sustentável do solo.
O WebAmbiente, plataforma desenvolvida para ajudar os agricultores na adequação ambiental da propriedade rural para atender às exigências do Código Florestal Brasileiro, foi apresentado pelo pesquisador Felipe Ribeiro. Nele, estão contidas tecnologias desenvolvidas pela Embrapa para uso na adequação florestal. “Temos 90% dos imóveis rurais como propriedades de pequenos agricultores. Precisamos ter tecnologia para que esses imóveis possam se adequar à lei”.
A plataforma propõe, com base nas informações fornecidas pelos produtores, recomendações para preparo do solo, sistemas de recomposição mais adequados de acordo com a localização do imóvel rural e do seu estádio de degradação, e uma lista de espécies nativas que podem ser usadas na propriedade.
“Quando o produtor tem acesso à lista de opções de espécies florestais recomendadas para sua propriedade, para cada espécie há informações detalhadas sobre seu sistema de produção. Esse com certeza é o maior banco de espécies nativas que existe no planeta. É um produto que só nós, Brasil, temos e que nos diferencia dos outros países”, enfatiza o pesquisador.
O chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Cerrados, Marcelo Ayres, chama atenção para outro componente, o econômico. “O processo de recomposição florestal tem um custo enorme. Existem entre 15 e 17 milhões de hectares para serem reflorestados. A um custo mínimo de R$ 350 por hectare para semeadura direta, o valor a ser gasto ultrapassa R$ 5,2 trilhões. Quem vai pagar essa conta?”, reflete.
Ribeiro apresenta a questão para os assessores parlamentares presentes. Atualmente, o produtor rural recebe apenas pelos produtos que gera – grãos, carnes e fibras. “Qual é o ganho econômico que os sistemas de restauração vão gerar? Como podemos remunerar o produtor rural pela qualidade da água que ele oferta, pela saúde do solo e das pessoas, pelo sequestro de carbono?”, provoca. A questão do pagamento por serviços ambientais é uma pauta que está no Congresso Nacional para garantir o equilíbrio do sistema de produção, tanto ambiental como econômico.
Keide Lacerda, assessora parlamentar do senador Vanderlan Cardoso, presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática do Senado Federal, presente no Dia de Campo, defende a Embrapa precisa dar maior visibilidade ao seu trabalho frente à Câmara e ao Senado Federal: “É importante os assessores e os parlamentares irem aos locais para verificar o trabalho que tem sido feito, assim como o de outros órgãos, empresas públicas e autarquias. Esse conhecimento ao qual tivemos acesso hoje é muito válido”. A assessora defende ainda que não haja cortes para a ciência: “Não há desenvolvimento sem inovação, não há desenvolvimento sem investimento. O Ministério da Ciência e Tecnologia, juntamente com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, tem que mostrar o trabalho que a Embrapa faz”, completa.
Na estação sobre Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), o pesquisador Lourival Vilela destacou que que na década de 1970 a exploração do Cerrado era baseada na pecuária e na abertura de áreas para o plantio de arroz consorciado com capim braquiária. “Só que a agricultura deslanchou na região, graças a uma série de tecnologias de manejo e correção da fertilidade do solo, e a pecuária começou a ficar para trás em termos de inserção de tecnologias. Com a pesquisa em recuperação de pastagens, vieram os trabalhos com rotação lavoura-pastagem”, lembrou.
O experimento da Embrapa mais antigo em Integração Lavoura-Pecuária (ILP) atualmente está localizado na Embrapa Cerrados e foi implantado em 1991, com foco na intensificação do uso da área. “Hoje, podemos praticamente dobrar a produção de grãos no Cerrado sem a necessidade de desmatar um palmo de vegetação, simplesmente introduzindo um sistema desse nessas áreas, começando pela rotação”, explicou.
Segundo o pesquisador, nas fazendas que têm feito ILP, o número de animais por hectare aumentou de três a três vezes e meia em relação ao sistema de pastagens de baixa produtividade, permitindo produção de grãos e uma pecuária com ganhos. Os animais criados a pasto, no período da seca, chegam a ganhar até 1,5 kg/dia. “Aproveitamos esse sinergismo não só do ponto de vista da produção como também com foco na melhoria das propriedades do solo. Comparada ao sistema tradicional, a ILP quase dobra os estoques de carbono”, disse, acrescentando que em algumas situações tem sido possível reduzir em 20% o uso de adubo na propriedade graças à ciclagem de nutrientes no solo promovida pelo sistema.
O Dia de Campo foi finalizado na estação sobre uso sustentável do solo, apresentado pela pesquisadora Ieda Mendes. Ela relembrou as revoluções pelas quais passou a agricultura brasileira com a participação da Embrapa, sendo a primeira a construção da fertilidade do solo do Cerrado, iniciada na década de 1970, a partir de recomendações geradas pela pesquisa.
“O Brasil foi o primeiro país do mundo a fazer agricultura em solos inférteis. Nossa agricultura tropical é única, foi um processo disruptivo que mudou a cara do País”, comentou. Outra marca apontada foi o desenvolvimento de inoculantes com estirpes de rizóbios (bactérias fixadoras de nitrogênio) para a soja, que proporcionou uma economia para o Brasil de US$ 19 bilhões em 2018 em adubos nitrogenados, valor cerca de quatro vezes o orçamento anual da Embrapa.
A última revolução se deu a partir dos anos 2000, com a intensificação sustentável, como o sistema Integração Lavoura-Pecuária-Floresta. Com a introdução do Sistema Plantio Direto, técnica preservacionista adotada em 12 milhões de hectares, e o cultivo de braquiária em consórcio com a lavoura de grãos, houve uma mudança de foco para além da produtividade de grãos e carne, vislumbrando-se solos, plantas, animais e pessoas saudáveis. “A saúde do solo está muito ligada à qualidade ambiental. Solos saudáveis sequestram mais carbono, armazenam mais água, emitem menos gases de efeito estufa e reduzem o tempo de persistência dos pesticidas”, apontou a pesquisadora.
Ieda citou o exemplo de experimento da Fundação Mato Grosso, que comparou uma área com soja em monocultivo e outra com soja plantada após braquiária. Na safra 2013/2014, quando ocorreu um veranico, enquanto o monocultivo de soja produziu 29 sacos, a soja após a braquiária produziu 59 sacos por hectare, apesar de os solos serem quimicamente semelhantes nas duas áreas.
Com o resultado da bioanálise, que mede a atividade biológica do solo, foi solucionada a questão. “Verificamos que o solo com braquiária tinha muito mais atividade enzimática que o outro. Ou seja, havia um solo de baixíssima qualidade biológica (na soja monocultivo) e um solo saudável (soja após braquiária). Numa condição de estresse hídrico, o solo saudável teve uma tolerância muito melhor”, afirmou.
Ieda informou que a partir a safra 2019/2020 os laboratórios vão incluir a bioanálise nas análises de solo. “Pela primeira vez, o agricultor vai saber como está, de verdade, a saúde do seu solo. Somos o primeiro país do mundo a colocar esse parâmetro nas análises de solo”, destacou. Essa informação será um estímulo para quem está fazendo o manejo correto do solo e um alerta para o produtor que o está manejando de forma inadequada, convencendo-o a mudar de estratégia.
A pesquisadora finalizou a apresentação destacando a importância de instituições públicas de ciência: “Pesquisar a saúde do solo e sistemas de manejo que maximizem o sequestro de carbono e o armazenamento de água, por exemplo, só acontece realmente numa empresa de pesquisa pública como a Embrapa”.
Érico Leonardo Feltrin é servidor concursado da Câmara dos Deputados