Apesar de controvérsias mundiais, agrotóxico que pode causar Parkinson está entre os mais utilizados no país.
A pesquisadora norte-americana Julie Kay Andersen, do Instituto Buck de pesquisas em envelhecimento, situado na Califórnia, EUA, estará no Brasil, entre 09 e 13 de setembro para participar da XXXIV Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE), em Campos do Jordão, São Paulo. Andersen apresentará alguns resultados de sua pesquisa sobre os riscos da exposição ambiental ao herbicida Paraquat, cujo nome comercial é Gramoxone 200, um dos mais usados no mundo.
O Paraquat é mundialmente controverso. Extremamente tóxico, é proibido em mais de 50 países e em toda a União Europeia desde 2007. No Brasil, é um dos agrotóxicos mais utilizados. Em setembro de 2017, a Anvisa proibiu o seu uso, mas voltou atrás dois meses depois, estendendo o seu uso por mais três anos, até que possa ser então descontinuado.
De acordo com Luís Eduardo Rangel, ex-secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a decisão demonstrou uma visão acertada e alinhada com o que há de melhor na política pública de pesticidas no mundo, preconizados pelas agências de segurança da Europa (EFSA) e dos EUA (IPIE).
Para o ex-secretário Rangel, o Ministério da Agricultura está alinhado com a preocupação toxicológica que a Anvisa coloca em relação ao produto e sua decisão regulatória. A agência, por sua vez, está também sensibilizada quanto a importância do Paraquat para a agricultura nacional. “Prevaleceu o bom senso”, disse o ex-secretário para justificar a decisão de estender o uso do agrotóxico.
Paraquat, cujo nome comercial é Gramoxone 200 e a nomenclatura conforme a IUPAC é 1,1′-dimetil-4,4′-bipiridina-dicloreto é um viológeno. É um composto quartenário do amônio utilizado como herbicida e altamente perigoso para os humanos, caso ingerido. Esse composto sólido cristalino é instável em meio alcalino, solúvel em água, pouco solúvel em álcool e insolúvel em solventes orgânicos não polares.
A substância promove o acúmulo de células envelhecidas no cérebro, que podem contribuir para a degeneração de neurônios e causar doença de Parkinson. Os resultados dessa pesquisa foram publicados em 2018 na revista Cell Reports.
A pesquisadora explica que a doença de Parkinson ocorre por uma combinação de fatores genéticos, envelhecimento e exposição ambiental. Outros estudos epidemiológicos já apontavam que o herbicida Paraquat parece ter correlação ao desenvolvimento de Parkinson. Além disso, outras pesquisas com animais também já mostraram que esse herbicida danifica neurônios. No entanto, este estudo observou que a substância atinge principalmente outro tipo de célula cerebral que não são neurônios. Se trata dos astrócitos, que ocupam os espaços entre os neurônios, fornecendo suporte físico e regulando a concentração de substâncias essenciais para o funcionamento adequado do cérebro.
Os pesquisadores observaram que concentrações mínimas do herbicida fazem os astrócitos de camundongos se comportarem como células já idosas, de forma bem semelhante à observada em biópsias de humanos com Parkinson, inclusive conferindo aos animais os sintomas motores característicos da doença. O processo de envelhecimento das células é chamado de senescência e faz com que as células parem de se dividir e percam boa parte de suas funções.
Os pesquisadores comprovaram que as células ‘envelhecidas’ são as principais responsáveis pelos sintomas motores destes animais. Para isso, usaram uma linhagem de camundongos mutantes, criados especificamente com um marcador que permite eliminar facilmente as células senescentes. Após a remoção destas células, as sequelas motoras foram revertidas e os camundongos voltaram a circular pela gaiola, de forma bastante parecida aos animais saudáveis.
Em conclusão, os resultados do grupo americano mostraram que os astrócitos sofrem senescência em resposta ao estressor ambiental Paraquat, contribuindo para a neuropatologia relacionada à doença de Parkinson.
“Nossos resultados sugerem que as células senescentes podem ser um novo alvo terapêutico para a doença de Parkinson e outras doenças neurodegenerativas“, explica a pesquisadora. “Porém, no momento não temos a terapêutica necessária para isso. Ainda não conseguimos atingir apenas as células ruins.“