A temporada 2018/19 foi mais alcooleira na região Centro-Sul do Brasil, devido ao maior direcionamento da cana-de-açúcar para a produção do etanol.
Em São Paulo, maior estado produtor, após manter o mix de produção mais açucareiro por duas temporadas (2016/17 e 2017/18), o percentual de cana direcionado à produção de açúcar se reduziu, passando para 41,60% em 2018/19 (nas safras 16/17 e 17/18, o percentual médio era de 53), segundo levantamento divulgado pela Unica em dezembro/18. No acumulado da safra (de abril/18 até a primeira quinzena de dezembro/18), a produção do açúcar no estado de São Paulo totalizou 17,981 milhões de toneladas, volume 26,20% menor em relação ao mesmo período de 2017. Segundo dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, os preços médios do açúcar, tanto no mercado doméstico paulista quanto no externo, não reagiram à queda da produção no Brasil, apresentando um patamar inferior aos do ano passado.
Em grande parte do período de abril/18 a dezembro/18, no mercado spot do estado de São Paulo, os preços médios mensais estiveram abaixo dos observados no mesmo período de 2017. Em agosto/18, o Indicador CEPEA/ESALQ do açúcar cristal, cor Icumsa entre 130 e 180 (estado de São Paulo) registrou média de R$ 51,95/saca de 50 kg, em valores reais, a menor das últimas dez temporadas. Apenas em setembro/18 e outubro/18, as médias do Indicador CEPEA/ESALQ superaram as dos mesmos meses de 2017. Isso porque os preços domésticos foram sustentados pela valorização do dólar, devido às incertezas políticas – uma vez que o País exporta aproximadamente 2/3 de sua produção – e a chuvas nessa época do ano.
De abril/18 a dezembro/18, a média do Indicador CEPEA/ESALQ do açúcar cristal foi de R$ 60,11/saca de 50 kg, queda de 14,38% frente à temporada passada (R$ 70,20/saca de 50 kg de abril/17 a dezembro/17), em termos reais – valores deflacionados pelo IGP-DI de novembro/18.
De maneira geral, a fraca demanda foi um dos fatores determinantes para as baixas nos preços internos. Como já observado há alguns anos, compradores consultados pelo Cepea fecharam contratos antecipados com as usinas e, em 2018, mostraram pouca necessidade de realizar negociações adicionais no mercado spot. Esse cenário pode ser parcialmente atribuído à mudança do perfil do consumidor final, que tem diminuído o consumo de produtos à base de açúcar. Segundo levantamento do Cepea, as vendas totais de açúcar das usinas do estado de São Paulo, de abril/18 a novembro/18, recuaram 7,5% se comparadas às do mesmo período de 2017.
A queda na produção no Brasil não deu suporte aos preços do demerara negociado na Bolsa de Nova York (ICE Futures), que, por sua vez, caíram e também influenciaram fortemente o comportamento dos valores nacionais. Enquanto de abril a dezembro de 2017 o primeiro vencimento variou entre 13 e 16 centavos de dólar por libra-peso, no mesmo período de 2018, esteve entre 10 e 14 centavos de dólar por libra-peso (este último patamar foi atingido no final de outubro). Esse cenário esteve atrelado ao superávit global do adoçante. Segundo a OIA (Organização Internacional de Açúcar), a safra mundial 2017/18 operou com excedente de 10,51 milhões de toneladas.
Segundo o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), países importantes como a Índia – maior consumidor mundial de açúcar – aumentaram em aproximadamente 53% sua produção na 2017/18, que terminou em setembro/18. A União Europeia e a Tailândia também produziram 14,10% e 46,60% a mais, respectivamente, de açúcar frente à safra passada.
Em 2018, o barril do petróleo no mercado mundial foi negociado no intervalo de 54 a 86 dólares, acima do observado no ano anterior – entre 47 e 66 dólares. Nos picos de alta, o preço internacional do petróleo deu suporte às cotações do demerara em Nova York, mas ainda ficaram em médias inferiores às do ano passado.
De acordo com a Secex (Secretaria de Comércio Exterior), o Brasil exportou 21,3 milhões de toneladas de janeiro/18 a dezembro/18, gerando receita de US$ 6,525 bilhões. No mesmo período de 2017, o País enviou 28,7 milhões de toneladas, com receita de US$ 11,411 bilhões.
NORDESTE – Os preços no mercado nordestino de açúcar registraram quedas até maio/18. Nesse período, apesar de algumas usinas terem finalizado seus estoques, a demanda retraída e o início da safra na região Centro-Sul do País levaram algumas unidades produtoras a reduzirem os valores de suas ofertas. Aliado a esses fatores, também contribuíram para as baixas a instabilidade política no Brasil e as cotações em queda no mercado internacional. Porém, com as elevações nos valores dos fretes e do adoçante em Goiás, entre junho/18 e julho/18, o ritmo de negociação se aqueceu e os preços subiram.
Já em agosto/18, mesmo com um maior número de usinas do Nordeste iniciando a moagem da nova safra 2018/19 apenas em setembro/18, os preços voltaram a cair. Diante disso, compradores se retraíram do mercado, na expectativa de quedas mais expressivas. Em setembro/18, apesar do recuo das médias dos Indicadores mensais do açúcar no mercado spot, os valores chegaram a registrar pequenas altas em alguns períodos do mês. Esse cenário pode estar atrelado ao aumento dos valores do adoçante no Centro-Sul do País e ao fato de que algumas usinas não disponibilizaram o cristal no mercado interno, priorizando a produção de etanol e do açúcar VHP para exportação.
Da segunda quinzena de outubro/18 a primeira semana de dezembro/18, as negociações seguiram lentas no spot e os preços, em queda. Segundo colaboradores do Cepea, algumas usinas flexibilizaram suas ofertas, com objetivos de diminuir seus estoques e “fazer caixa”, enquanto outras, mais capitalizadas, aumentaram os preços de venda. Já a partir de meados de dezembro, a liquidez aumentou fortemente, impulsionada pela presença mais ativa de agentes de usinas.
De acordo com o Sistema de Acompanhamento da Produção Canavieira (Sapcana) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a região nordeste produziu 20,42 milhões de cana-de-açúcar e 1,08 milhão de toneladas de açúcar no período de 1ª de abril a 15 de novembro de 2018.
Fonte: Cepea