Se você resolveu abrir este artigo é porque está interessado, assim com eu, em expandir o seu conhecimento a respeito do complexo e desafiador setor leiteiro.
Antes de mais nada, temos que esclarecer aos amigos leitores que não são relacionados a atividade leiteira, que o Leite não vem da caixinha, como muitos acreditam ser. O Leite, para chegar a sua mesa passa por um longo e criterioso processo, cheio de exigências, burocracias e detalhes que vamos começar a esclarecer a partir de agora.
Então vamos começar de forma lúdica e criativa, com uma didática que até mesmo as crianças conseguem entender, para isso vou recorrer a nossa amiga Mika, uma garotinha de quatro anos, junto com seus amigos imaginários – Puquê, Blablá, Bru, Javô, Abelhuda e Lilá, descobriram em suas aventuras que o Leite não vem da caixinha. Assista e depois continue a leitura.
Fantástico não é mesmo? Até eu me surpreendo com isso. As vezes esqueço que o leite vem das vacas, principalmente para nós cidadãos urbanos que temos acesso a esta delícia da natureza, apenas quando vamos ao supermercado.
Bem, entendido até aqui que o leite não vem da caixinha, vamos expandir um pouco mais a nossa reflexão sobre o assunto. Se o Leite não vem da caixinha e sim é produzido pelas vacas, QUEM CUIDA DAS VACAS? COMO ELAS SÃO TRATADAS? COMO O LEITE É RETIRADO? COMO ELE É ARMAZENADO? QUANTO CUSTA TUDO ISSO? AI MEU DEUS, EU NEM SABIA QUE ISSO EXISTIA…. Exatamente isso, nem todos sabem que existem muitos processos executados para que o leite seja comercializado. Como podem ver, dariam vários episódios para nossa amiga Mika explicar. Mas vamos continuar a nossa reflexão, para que você consiga entender um pouco mais sobre o complexo mundo leiteiro.
Para responder estas perguntas, ninguém melhor que o responsável por tudo isso… O inabalável, compreensivo, persistente e sensacional “PECUARISTA DE LEITE“… Com a palavra o nosso amigo produtor…
Só tenho uma palavra para expressar meus sentimentos neste momento, LAMENTÁVEL!!!!
Agora que nós já sabemos que o Leite não vem da caixinha e que existe um “SER MITOLÓGICO“, quase um “Semideus”, com habilidades extraordinárias e capacidades incríveis de suportar longas jornadas de trabalho, aguentar pressões comerciais, concorrência desleal e até mesmo dedicar a sua vida inteira a esta amargurante(da forma como se encontra) profissão “PECUARISTA DE LEITE“, simplesmente para que nós, meros mortais, possamos tomar um copo de leite puro. Então podemos dar continuidade.
Bom, se você chegou até aqui, tenho certeza que a sua visão expandiu-se um pouco mais, começou a entender que a atividade leiteira não é brincadeira de criança e que existe muito trabalho árduo na ponta do processo. Então a partir de agora, entendido que o Leite não vem da caixinha e que o Pecuarista é o cara que alimenta e cuida das vacas, vamos apresentar alguns números do setor:
O economista Paulo do Carmo Martins, chefe-geral da Embrapa Gado Leite avaliou que 2018 foi um ano desafiador para todos os setores da economia brasileira. Nós tivemos em algumas bacias, o leite subindo a R$ 0,20 o litro. E o final do ano agora, tem sido um momento de menor margem para o produtor porque os preços estão caindo vertiginosamente; tanto para o produtor, como também no atacado e no varejo.
Segundo o compêndio, Pecuária Leiteira: “Análise dos Custos de Produção e da Rentabilidade nos Anos de 2014 a 2017”, publicado pela CONAB, entre 2008 e 2016, o Brasil foi responsável, em média, por 7% da produção mundial de leite, o que o coloca na quinta posição em termos de volume. Os quatro maiores produtores no período foram União Europeia (30,47%), Estados Unidos (19,6%), Índia (12,8%) e China (7,21%) que, junto com a produção brasileira, somam 76% do total Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda). A Rússia, o sexto colocado em termos de média produzida, foi responsável por 6,5% da produção. Os países mais populosos do mundo (China e Índia) foram responsáveis por cerca de 20% da Produção leiteira.
Este mesmo estudo aponta que há lentidão no avanço da produção de leite no Brasil, e você sabe por que?
Segundo a entidade, o rebanho leiteiro de vacas ordenhadas no País teve o seu ponto máximo no ano de 2011, com 23,2 milhões de gados. O rebanho foi reduzido nos dois anos seguintes. No ano de 2014, teve um crescimento que chegou pouco mais de 23 milhões de cabeças.
O volume de vacas ordenhadas tem reduzido, chegando ao ponto mínimo no ano de 2016, levando em consideração a série analisada, com 19,7 milhões de gados.
Esta é a análise da CONAB, os números não mentem, mas o que o relatório não aponta com clareza, são as causas fundamentais para que haja esta diminuição considerável no número de animais e consequentemente produtividade, quer saber? Então vamos lá…
Você lembra do depoimento do nosso amigo “Pecuarista de Leite” que assistimos no início da matéria? Bem, se analisarmos com calma o desabafo dele, vamos perceber detalhes importantes em sua fala, um dos principais é a política de preços adotada pelo setor. Como pode a indústria captar toda a demanda produzida e pagar somente depois de 45 dias? E além disso, o preço só é informado 30 dias depois de já ter sido entregue, como assim?
Isso mesmo, as empresas beneficiadoras recolhem o leite produzido e informam quanto vão pagar depois de 30 dias, e o pior de tudo isso, é que esta embasado em Lei (Lei 12.669). Vamos assistir agora mais um depoimento, desta vez da produtora Nilza Menezes, de Viamão/RS, para esclarecer melhor o entendimento sobre os preços pagos ao produtor, acompanhe…
Lamentável não é mesmo? imagine a seguinte situação: Você é um produtor, artista, empresário, autônomo, profissional liberal, não importa a atividade, se eu disser pra você, “VOU LEVAR A SUA MERCADORIA AGORA, DAQUI A 30 DIAS EU VOLTO E FALO QUAL É O PREÇO QUE EU VOU PAGAR, MAIS UM DETALHE SERÁ PAGO APÓS MAIS 15 DIAS E VOCÊ TEM QUE CONFIAR EM MIM PORQUE A LEI ESTABELECEU ISSO”, Qual seria a sua resposta? (cuidado nosso site tem bloqueio para palavras de baixo calão.. kkk). Brincadeiras a parte, a situação é muito séria e como disse antes lamentável.
Agora voltando aos números divulgados pela CONAB, você consegue perceber que outros fatores devem ser levados em consideração para a diminuição da nossa produtividade, como o desânimo por parte dos produtores em se manter na atividade, as políticas públicas que não atendem a demanda do setor e o preço pago ao produtor. Este cenário gerou diversas manifestações como você pode acompanhar logo abaixo, abra em uma nova janela para que você possa ler depois, é importante que continue acompanhando até o final deste artigo:
- Produtores reivindicam divulgação antecipada do preço do leite pela indústria
- Produtores de leite fazem abaixo-assinado para entregar ao presidente Bolsonaro
- CRISE DO LEITE: Vídeos de produtores chamam a atenção nas redes sociais
Não pretendo estender muito este artigo para que não fique cansativo a nossa conversa, na internet existem muitos vídeos compartilhados nas redes sociais com outros depoimentos tão fortes como estes que vimos aqui. É importante que você saiba que a cada 11 min um Pecuarista de Leite deixa a atividade, conforme notícias divulgadas pelas entidades do setor.
Minha intenção é de chamar a sua atenção para uma classe esquecida no tempo, por isso cheguei a usar a expressão “SER MITOLÓGICO“, porque está quase entrando em extinção. Se continuar desta forma como está, sem a intervenção do poder público, será uma profissão esquecida de fato no tempo, uma lembrança, os livrinhos de histórias infantis irão contar “Era uma vez uma fazendinha, e lá viviam um produtor e sua vaquinha…”
Como está escrito no título deste artigo “Pense fora da caixinha”, faça a sua parte e compartilhe este material nas suas redes sociais e se você é jornalista, comunicador, youtuber, liderança política ou não, nos ajude a fazer esta mensagem chegar a outras pessoas, não só produtores, mas à toda humanidade que precisa de leite para sobreviver.
Você também pode conferir as notícias mais relevantes do leite, classificadas pelo Google News: Leite Google News
Por: Vicente Delgado DRT 2364/MT – AGRONEWS BRASIL