Em maio, entra em ação o Plano Nacional de Erradicação da Febre Aftosa (PNEFA 2017/2026). Acre e Rondônia, fazem parte do Bloco I e são os primeiros estados à parar a vacinação obrigatória – logo após a imunização em maio. O estado do Paraná solicitou ao governo federal acompanhar AC e RO.
Mas, alguns questionamentos são importantes para esclarecermos como vai ficar a situação do país após a suspensão da vacina. Entre as perguntas mais polêmicas, selecionamos as mais relevantes:
- Os estados estão preparados para deixar de vacinar o rebanho?
- Cada estado está ciente das suas responsabilidades?
- Nossas fronteiras estão protegidas?
- E se houver um surto inesperado, como proceder?
- Vale a pena corrermos este risco em detrimento da abertura de novos mercados?
- Este era o melhor momento para o início do PNEFA?
Para tentar responder estas e outras perguntas, viajamos até Vinhedo/SP, para conhecer de perto a Central de Selagem de Vacinas, que é um serviço prestado pelo operador logístico Armazéns Gerais Vinhedo – AGV (especializado no armazenamento de produtos para saúde animal), o qual, sob a supervisão do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan) e dos laboratórios veterinários, providencia selagem, armazenagem e entrega da vacina.
A unidade armazena 100% das vacinas contra Aftosa usadas para imunização do rebanho brasileiro.
Na ocasião tivemos a oportunidade de falar com o vice-presidente executivo do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), Emílio Salani, que nos contou as preocupações da indústria com o fim da vacinação, como as questões de infraestrutura de barreiras, testes sorológicos e banco de vacinas.
“Dado a complexidade do Plano, a geografia brasileira, o tamanho do rebanho, a distribuição dos animais, a situação econômica e o momento político do país – devido ao início de uma nova gestão, nós consideramos que o Plano deveria ter início em 2021“, afirma Salani.
Estas também foram as mesmas considerações do SINDAN entregues ao Governo Federal, antes da decisão oficial.
“O SINDAN não é, nunca foi e nunca será contra a retirada da vacinação” esclarece o executivo, desde que sejam observadas as medidas preventivas e requisitos necessários para aplicação do plano estratégico.
Como exemplo, Salani cita as preocupações com um estado como o Mato Grosso, com a maior rebanho bovino do país, (que embora esteja no Bloco V, faz divisa com Rondônia, Bloco I), que criou o Instituto Mato-grossense da carne (IMAC), que já vinha conquistando a excelência na produção de carnes, alcançando alguns mercados, trabalhando intensamente para posicionar-se como grande produtor de carnes nobres, de repente toma a decisão de retirar a vacinação: como salvaguardar estas conquistas, sem prejudicar a produtividade caso haja um foco de Aftosa proveniente dos estados vizinhos? Além disso, como sera feita a fiscalização e quem vai pagar a conta?
Bem, para entendermos melhor qual foi a intenção do Governo Federal em retirar a vacinação é importante salientarmos que: o Plano está alinhado com o Código Sanitário para os Animais Terrestres, da Organização Mundial de Saúde Animal – OIE, e as diretrizes do Programa Hemisférico de Erradicação da Febre Aftosa – Phefa, em prol também da erradicação da doença na América do Sul.
Para projetar a transição de status sanitário, as unidades da Federação foram organizadas em cinco blocos, considerando critérios técnicos, estratégicos, geográficos e estruturais. Esse agrupamento visa favorecer o processo de transição de zonas livres de febre aftosa com vacinação para livre sem vacinação de forma regionalizada, com início em 2019 e conclusão em 2023, quando todo país alcançaria a condição de livre de febre aftosa sem vacinação, reconhecida pela OIE.
A conjugação de esforços públicos e privados, a infraestrutura dos Serviços Veterinários e os sólidos fundamentos técnicos são a base para o sucesso do Plano.
Segundo Salani, a implementação do Plano estabelece um investimento privado e um investimento público, mas os estados pretendem se reunir para avaliar a situação atual e talvez criar um fundo nacional. “Vai ter que se elevar as taxas, para captar mais recursos que serão direcionados para a manutenção do Status – Livre sem vacinação“, avalia Emílio Salani. No caso de Mato Grosso, os produtores não suportam mais um aumento nas taxas de produção. “O pior é o reingresso da doença, sem condições de controlá-la. Tem condições de controlar, claro que tem, desde de que se tenha estrutura“, afirma.
Na prática, para o produtor rural não haverá uma redução significativa nos gastos com manejo, como muitos acreditam, pois a estrutura permanece a mesma para aplicação de outras vacinas que ainda são obrigatórias. Além disso o pecuarista deve se conscientizar e estar preparado para eventuais situações, caso aconteçam.
Outra situação importante que não devemos perder de vista é como ficarão as empresas que produzem a vacina. Não há como prever qual será a decisão dos empresários responsáveis, mas é bem provável que muitas delas sejam fechadas ou readequadas à outros tipos de produção, com isso, perderíamos o capital intelectual acumulado ao longo destes anos e não teríamos uma indústria no Brasil disponível para produzir cerca de 200 milhões de doses emergenciais, caso haja algum retrocesso nesta decisão.
Como podemos observar no infográfico abaixo, cada uma das 16 operações, organizadas em quatro categorias, resultará em ações e projetos no âmbito nacional, regional ou estadual, possibilitando o alcance das metas globais previstas no Plano.
Salani sugere aos pecuaristas que procurem as suas lideranças e autoridades para que respondam as seguintes perguntas: “Qual vai ver meu benefício? Eu vou ter uma evolução no meu preço? Eu vou ter um ganho para correr este risco? tudo isso é muito importante que fique bem claro para todos”, finaliza.
Abaixo você confere a entrevista de Emílio Salani concedida ao portal AGRONEWS BRASIL.
Como mencionado anteriormente, aconteceu nesta terça-feira(19), em Cuiabá, a segunda reunião dos Fundos Emergenciais para Saúde Animal. Na ocasião, foi assinado o Protocolo de Intenções entre o Governo de Mato Grosso e Rondônia para a realização de ações integradas em prol do desenvolvimento da cadeia produtiva do agronegócio e de defesa sanitária animal.
De acordo com o governador, Mauro Mendes, a intensão ao firmar parceria com Rondônia é ampliar as atuações dos dois estados na agropecuária.
O secretario de Desenvolvimento Econômico, César Miranda, explicou que Mato Grosso irá participar da retirada da vacina contra febre aftosa nas áreas de fronteira com o estado vizinho.
De acordo com o secretário de Agricultura de Rondônia, Evandro Padovani, a parceria entre os estados possibilita pleitear recursos voltados para infraestrutura em Brasília.
Segundo o presidente do Fundo Emergencial para Saúde Animal de Mato Grosso, Marco Túlio Soares, é necessário discutir estratégias para a criação do fundo nacional no momento em que a vacinação da aftosa está sendo retirada aos poucos no Brasil.
O evento contou com representantes de governos estaduais, do Ministério da Pecuária e Abastecimento, dos serviços veterinários oficiais e os presidentes dos fundos públicos e privados de todos os Estados brasileiros.
Abaixo você confere a matéria completa.
Para concluirmos, queremos deixar claro que ainda existem muitos detalhes a serem observados na implantação do Plano Nacional de Erradicação da Febre Aftosa, como por exemplo, uma comunicação mais clara e objetiva, com os prós e contras (efeitos colaterais) desta decisão. É fundamental termos em mente que para obtermos o sucesso total na aplicação, todos os envolvidos devem cumprir os requisitos mínimos descritos na estratégia de implementação. Isso vai demandar esforços conjuntos, seriedade, celeridade nos processos e investimentos por parte dos estados, mas acreditamos que será totalmente possível.
Iremos acompanhar de perto os desdobramentos das ações para que você possa ficar muito bem informado sobre este assunto tão importante para a pecuária brasileira.
Por: Vicente Delgado – AGRONEWS BRASIL.