Itens do setor agropecuário começam a ganhar espaço na pauta de exportações brasileiras para o país centro-americano, hoje dominada por automóveis e autopeças.
Desde que o presidente americano Donald Trump enterrou o tratado de livre comércio da América do Norte (Nafta) e forçou os vizinhos a negociar um novo acordo, que ainda não entrou em vigor, o México tem buscado diminuir a dependência econômica em relação à terra do Tio Sam, de onde vêm quase 50% de suas importações e para onde vão 80% das exportações. E um dos países com maior potencial para aumentar a parceria com o México é justamente o Brasil, que nos últimos três anos quase dobrou o envio de carnes para lá e praticamente triplicou os embarques do complexo soja, além de abrir um espaço inédito para o milho.
Em 2017, no auge do atrito comercial com os EUA, o México importou 567 mil toneladas de milho do Brasil, contra zero do ano anterior e um “recorde” de 160 mil toneladas em 2012. No ano passado, depois de aparadas as arestas entre México e EUA, a exportação do milho brasileiro ao país centro-americano caiu para 128 mil toneladas. Mas o canal com novos clientes permanece aberto. E o potencial é enorme: terra das tortillas e burritos, o México importa 16,7 milhões de toneladas de milho por ano diante de um consumo total de 43,7 milhões de toneladas.
Brasil pode aumentar comércio Agro com o México
Alysson Paulinelli, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho) e ex-ministro da Agricultura, garante que o pico de meio milhão de toneladas exportadas para o México não foi apenas uma venda de ocasião, motivada por oportunidade passageira. “Eles ficaram encantados com o milho brasileiro. Gostaram demais. O nosso milho não entra em secador, as vacas leiteiras deliram. Eles perguntaram se dava para fazer negócio de produtor para produtor e eu disse que era perfeitamente possível, especialmente com as cooperativas ou grandes produtores do Mato Grosso. E os coloquei em contato. Mas o Trump é muito vivo, ele morde de um lado e assopra do outro. O Brasil vender milho na porta dos EUA é quase uma provocação, mas é possível devido à qualidade de nosso milho”, diz Paulinelli.
A pauta de comércio entre Brasil e México é dominada pela indústria de automóveis, com 30% de participação do volume total de 9,5 bilhões de dólares anuais. Em março, começou a valer o livre comércio para importação de automóveis e autopeças entre os dois países. No setor agropecuário, os produtos florestais são o principal item brasileiro da pauta de exportações, alcançando US$ 321 milhões anuais.
Não é só na área de automóveis, madeira ou grãos que o comércio bilateral tem potencial para deslanchar. Em novembro do ano passado, os mexicanos habilitaram 26 novas plantas frigoríficas do Brasil para exportar carne de frango, totalizando 46 abatedouros credenciados. O resultado foi quase imediato: em janeiro deste ano houve aumento de 30% nos embarques de carne de frango para o México, em comparação ao mesmo período do ano passado.
O país é o décimo do ranking de importadores, com 111,2 mil toneladas em 2018 (2,8% dos embarques totais do Brasil). “Além de expandir as vendas em aves, está nos planos do Brasil viabilizar as vendas de carne suína e de ovos para este importante mercado”, disse em fevereiro o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, quando seis frigoríficos brasileiros participaram da Expo Carnes y Lacteos 2019, uma das mais importantes feiras da indústria de alimentos mexicana, em Monterrey.
Os mexicanos têm vocação para negócios. Enquanto a participação brasileira no comércio mundial patina há anos na faixa de 1,2%, o México, segunda maior economia da América Latina, com 129 milhões de habitantes (pouco mais de metade da população brasileira), exporta quase o dobro e responde por 2,35% das transações internacionais. Grande parte deste comércio, 80% das exportações e 46% das importações, é realizada com os Estados Unidos, mas o governo mexicano sabe que não é prudente depender excessivamente de um país cujo governo insiste em levantar um muro gigante na fronteira.
Em relação à comunidade internacional, o Índice de Liberdade Econômica 2019 (divulgado com exclusividade pela Gazeta do Povo) põe o México na 66ª posição (moderadamente livre) num ranking de 180 países em que o Brasil aparece na 150ª posição (majoritariamente não-livre).
“Há muitas oportunidades de parceria sim, especialmente no momento de tensões com os EUA. O recente acordo de livre comércio que substituiu o NAFTA ainda não passou pelo congresso americano e os EUA não retiraram as sobretaxas impostas sobre a importação de aço e alumínio mexicanos. A insegurança em relação a esse acordo afeta os mercados”, aponta Tatiana Palermo, ex-secretária internacional de agronegócio do Ministério da Agricultura e colunista da Gazeta do Povo, baseada em Washington.
Palermo observa que as pautas exportadoras de produtos agropecuários dos EUA e do Brasil são parecidas e, por isso, as negociações de acesso sempre foram difíceis. “Mas considerando o clima atual, talvez o México tenha mais incentivos para diversificar seus parceiros. E o Canadá também está avançado na negociação com o Brasil. O ministro Paulo Gudes está querendo abrir nossa economia, aumentando a participação do comércio exterior no PIB. O México pode ser um bom parceiro”, avalia.
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Por: Marcos Tosi – Gazeta do Povo