Pelo alto volume previsto – perto de 40% a menos – a possível queda nas importações de carne de frango da Arábia Saudita (projetada pelo Departamento de Agricultura dos EUA) assusta, mas não surpreende aqueles que acompanham no decorrer do tempo a evolução das importações efetuadas pelos sauditas, historicamente colocados entre os primeiros e principais adquirentes da carne de frango brasileira
E não surpreende, porque essa redução começou em 2016, apenas acentuando-se em 2017. Assim, como aponta o gráfico à direita, abaixo, mais ou menos dois anos atrás elas chegaram a superar a marca das 75 mil toneladas mensais. Já no final de 2017 estavam reduzidas a, praticamente, metade desse volume – um processo que, aparentemente, se intensificou meses após a divulgação da Operação Carne Fraca, em março de 2017.
Independente dessa, outras causas podem ser arroladas para explicar a redução das importações sauditas. Entre elas o aumento da produção local, a decisão brasileira de reduzir a produção de “grillers” e, ainda, a concorrência de empresas brasileiras a importadores do Oriente Médio.
A produção saudita aumentou, mas ainda não o suficiente para atender plenamente o mercado interno: estima-se que 50% do consumo ainda sejam abastecidos pelas importações.
Já a decisão brasileira de reduzir a produção de “grillers” pode ter tido alguma influência nessas quedas. Por serem mais leves, os “grillers” (28-30 dias de criação) têm a preferência dos sauditas e de seus vizinhos, pois aves mais pesadas (acima de 1.200 gramas) são consideradas velhas ou de carne dura.
Mas para quem os produz, os “grillers” proporcionam rentabilidade mínima, pois a conversão alimentar ideal do frango ocorre com mais dias de idade. Daí a decisão brasileira, tempos atrás, de reduzir a produção e a exportação desse tipo de ave. O efeito desse procedimento é visível na exportação do frango inteiro, continuamente decrescente nos últimos quatro anos e em 2017 mais de 16% inferior à de 2013.
Por fim, menciona-se como uma possível causa da menor importação saudita a concorrência brasileira a importadores locais. Ou seja: exportadores brasileiros instalaram sucursal no Oriente Médio e, a partir dela, passaram a ofertar o produto em condições privilegiadas. A ponto de ocasionarem problemas econômico-financeiros a empresas com grande tradição no setor. E se esta for uma das causas, só se pode entender que a queda observada nada mais é que uma resposta à ação brasileira, considerada predatória.
Porém, qualquer que seja a resposta mais correta, o fato é que a participação brasileira enfrenta, no Oriente Médio, problemas que vão além da Arábia Saudita. E, sob esse aspecto, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), em suas mais recentes previsões, faz ampla análise da presença brasileira no chamado MENA (sigla, em inglês, para pouco mais de duas dezenas de importadores do Oriente Médio e do Norte da África).
A conclusão é a de que, embora esse mercado seja forte e crescente, a participação do Brasil vem sendo um tanto errática.