Embora não seja capaz de compensar plenamente a menor demanda no mercado interno, a exportação passa a ter maior importância para frigoríficos em um cenário doméstico desafiador
A retomada da economia brasileira e, consequentemente, do consumo de carne bovina no mercado interno deve ocorrer somente em 2019, projetam analistas. Nesse cenário, o mercado externo tende a ganhar ainda mais importância para as indústrias.
“Vejo com ceticismo a melhora da economia ainda em 2018, o que ficou adiado, na melhor das hipóteses, para 2019”, afirma o diretor técnico da Informa Economics IEG | FNP, Vicente Ferraz. “Desta forma, o consumo fraco no mercado interno registrado no primeiro semestre do ano deve persistir e as exportações devem se manter em alta”, acrescenta Ferraz.
Ele destaca, no entanto, que essa expansão dos embarques tem limite e que não é capaz de compensar integralmente a redução da demanda doméstica, uma vez que o mercado interno, tradicionalmente, representa em torno de 70% das vendas do setor. “As empresas terão de rever o aumento da capacidade de abate e tentar ampliar as exportações”, avalia.
Mesmo diante de um cenário desafiador, o CEO da Marfrig, Martin Secco, se disse satisfeito com o desempenho das plantas que entraram em atividade recentemente e sinalizou que a estratégia de ampliar a oferta a partir destas unidades de abate deve continuar.
“Nós tomamos essa decisão conscientes de que tínhamos vários desafios pela frente e sentimos que tivemos uma performance boa”, avaliou. No primeiro trimestre deste ano os abates da divisão Beef da companhia aumentaram 50% no Brasil. A Marfrig registrou prejuízo líquido de R$ 206 milhões no período, leve redução ante a perda de R$ 233 milhões registrada no mesmo trimestre de 2017.
Secco destacou o aumento das exportações como “importante frente a um ambiente complexo no mercado interno brasileiro”. O volume foi 67% superior ao registrado no mesmo período do ano passado. Ele ainda afirmou que a venda da Keystone deve ser concluída no curto prazo.
JBS
Maior player do setor no mundo, a JBS registrou lucro de R$ 506,4, milhões no primeiro trimestre do ano. O incremento de 43,5% em relação ao mesmo período do ano passado foi puxado pelo desempenho da companhia no exterior, amparado pelo crescimento da economia norte-americana, no caso da JBS USA, e por um desempenho acima do esperado no México na Pilgrim´s Pride.
A receita líquida da JBS Brasil, porém, recuou 4,7%, para R$ 5,9 bilhões. Em conferência com analistas, o diretor global de operações da companhia, Gilberto Tomazoni destacou o aumento da competitividade na compra do gado e também o aumento da oferta de carnes no mercado doméstico, o que reduziu as margens da companhia. O negócio de bovinos representa 13% do faturamento da empresa. “Focamos no aumento nas exportações, em maior valor agregado e em mercados mais rentáveis”, destacou Tomazoni.
De acordo com a empresa, o número de animais processados cresceu 7% em relação ao primeiro trimestre do ano passado. O valor médio de venda, porém, recuou 4,8% no período, na mesma base de comparação. Já no mercado externo, a companhia registrou aumento de preços, de 5,4%.
O presidente do conselho de administração e diretor de Relações com Investidores, Jeremiah O‘Callaghan comentou o acordo firmado com bancos relativo às dívidas da empresa. “O acordo com bancos foi feito para a preservação das linhas de crédito e manutenção das posições dos contratos”, esclareceu o executivo. O acordo prevê a manutenção de linhas de crédito de R$ 12,2 bilhões por 36 meses a partir de julho. A partir de janeiro de 2019, a JBS deve começar a amortizar cerca de 25% do principal da dívida até fim do período, em julho de 2021. A dívida líquida da companhia encerrou o primeiro trimestre em R$ 45,5 bilhões, 4,8% menor do que nos primeiros três meses de 2017.
Fonte: Diário de Comércio e Indústria