Não há dúvidas de que um dos maiores desafios da humanidade no século XXI consiste em compatibilizar a oferta de alimentos e energia a toda a população do planeta sem destruir os recursos naturais. E também não há dúvidas que ao agronegócio brasileiro cabe um papel de grande destaque nesse cenário.
Para confirmar isso basta voltar ao estudo do USDA mostrando que nos próximos dez anos a oferta mundial de alimentos vai continuar crescendo, e que o Brasil é o país que mais pode aumentar sua produção, com crescimento projetado de mais de 40%, praticamente o dobro do que o mundo poderia alcançar (20%).
Quadro 1 – Projeção do aumento da produção de alimentos até 2026/27
Aliás, desde o começo desta década, a ONU vem divulgando estudo segundo o qual até 2050, quando a população global ultrapassará 9,3 bilhões de pessoas, será preciso aumentar em mais de 50% a produção de comida. Interessante é o fato da ONU se preocupar com segurança alimentar. Por trás disso está certamente um conceito óbvio: a ONU tem por responsabilidade explícita a defesa e a manutenção da paz mundial, no que, diga-se de passagem, tem enfrentado algumas dificuldades, mas sabe que não haverá paz onde imperar a fome, de modo que segurança alimentar é também segurança de paz. Prova mais recente disso são as trágicas imigrações de asiáticos, africanos e do Oriente Médio para a Europa Ocidental em busca de comida e trabalho, não encontrados em seus países de origem em função das guerras.
Mas em que se baseia o estudo do USDA para dar ao Brasil esta enorme responsabilidade de aumentar em 41% sua produção de alimentos em dez anos? Em três pilares principais: tecnologia, disponibilidade de terra e gente capaz em todos os elos das cadeias produtivas.
O primeiro tem a ver com a tecnologia tropical sustentável de nossos órgãos de pesquisa e desenvolvimento, liderados pela Embrapa e implementados por universidades, instituições públicas e privadas atuando em todo o território nacional. O quadro abaixo mostra avanços notáveis em relação à produção de grãos desde 1990, ano do Plano Collor, até agora.
Quadro 2 – Produção brasileira de grãos – Safra 1990/91 a 2017/18
De fato, o Plano Color causou um duro descasamento de renda no campo, expulsando milhares de produtores rurais da atividade, o que se acentuou mais tarde, em 1994, com o Plano Real. Os agropecuaristas se socorreram das tecnologias existentes e aumentaram a produtividade por hectare. No período, a área plantada com grãos cresceu 61% no país, enquanto a produção aumentou 312%, cinco vezes mais. Esses números ficam ainda mais expressivos ao considerarmos que, se a produtividade por hectare fosse hoje (a mesma que tínhamos em 1990), seriam necessários mais 95 milhões de hectares para colhermos a safra 2016/17. Em outras palavras, estes 95 milhões de hectares de florestas ou cerrados não foram desmatados, provando a sustentabilidade da nossa atividade rural.
Mas não foi só nos grãos que a tecnologia evoluiu. O mesmo aconteceu com as carnes, como mostra o quadro abaixo.
Quadro 3 – Produção brasileira de carnes (em milhões de toneladas)
Também no caso da carne bovina, a sustentabilidade está evidente, como mostra o Quadro 4, em que se nota que a área de pastagem vem diminuindo no país, enquanto aumenta a produção.
Quadro 4 –Evolução da área de pastagens e da produtividade da pecuária brasileira
O mesmo fenômeno se repete em culturas permanentes (frutas, café) e semipermanentes como a cana-de-açúcar. Em todos os casos, a área plantada cresceu menos do que a produção, poupando terras florestadas do desmatamento.
Mas os saltos tecnológicos não param por aí. Vem vindo uma espetacular onda de inovações no campo, sobretudo no que diz respeito à conectividade, que fará as máquinas e equipamentos agrícolas conversarem entre si, e em breve teremos colhedeiras trabalhando sem operador, manejadas do escritório.
São centenas as startups que buscam soluções de TI na gestão das fazendas e empresas do agro, como as cooperativas e as agroindústrias. Drones já voam sobre as fazendas brasileiras identificando áreas que precisam de combate a pragas e doenças, reduzindo custos operacionais. Nanotecnologia e biotecnologia aplicadas ao campo reduzirão ainda mais os custos com melhoria de produtividade.
E existem ações mais concretas em franco desenvolvimento no interior, como é o caso do Programa ABC do Ministério da Agricultura, composto de uma série de projetos direcionados à sustentabilidade, que nos permitirão cumprir o compromisso assumido na COP 21 de reduzir as emissões de gases de efeito estufa (com base no que foi emitido em 2005) em 37% até 2025 e 43% até 2030. Entre os projetos mais notáveis, está o da Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), um ovo de Colombo que permite fazer duas atividades por ano nas regiões onde não chove no inverno: uma cultura no verão e pecuária no inverno. É muito simples: quando o ciclo da cultura de verão estiver terminando, o produtor semeia o pasto, de modo que, quando a colheita do grão se realiza, já existe uma pastagem rica e verde onde, em condições normais, o capim já estaria seco. E aí se pratica uma bovinocultura sustentável, até que chegue o próximo verão e se plante nova cultura de grãos. Isso reduz a demanda por mais desmatamento, aumentando a renda rural e integrando as atividades. Esta tecnologia se soma a outras já praticadas há tempos, todas sustentáveis, como o plantio direto, por exemplo. Atualmente, a estimativa é de que já existem 14 milhões de hectares com a ILPF, e milhares novos estão se somando a esses (Quadro 5).
Aliás, já temos hoje mais de 7 milhões de hectares de florestas plantadas, e também aumentando, seja para a utilização em papel e celulose, seja na siderurgia, seja para carvão industrial.
Quadro 5 –Metas do PlanoABC para 2020
Quadro 6 – Plano ABC – Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)
Outro setor do agronegócio muito sustentável é o sucroenergético, sobretudo para a produção de energia. A geração de etanol de cana, por exemplo, emite apenas 11% do CO2emitido pela gasolina. Mas além do etanol, a cogeração na indústria canavieira está produzindo energia elétrica a partir da queima do bagaço resultante da moagem e também das folhas secas que podem ser removidas do canavial. Este capítulo se insere num tema muito importante para o mundo contemporâneo, que é a segurança energética, dentro da mesma preocupação com a sustentabilidade exigida na produção de alimentos, em que se deve buscar a produção de energia renovável, como a agroenergia, a solar e a eólica, além da hidroelétrica.
E também nesse quesito o Brasil dá exemplo de eficiência. O quadro abaixo mostra a diferença entre a matriz energética global e a brasileira, indicando a expressiva participação da cana-de-açúcar na nossa energia renovável. A recente aprovação do RenovaBio, legislação que garante previsibilidade nos resultados de investimentos nesse campo, é um fator que viabilizará a retomada da agroenergia em nível mais coordenado e sistêmico.
Quadro 7 – Matriz Energética (2016) – o exemplo do Brasil
Quadro 8 – Ciclo de vida do etanol de cana – Balanço das emissões de CO2
Todas essas informações mostram o quanto temos evoluído nas tecnologias geradas e utilizadas em todo o país, tropicalizadas e sustentáveis. Mas há muito mais a ser feito, e uma das áreas mais críticas está na defesa sanitária, tanto animal quanto vegetal. Faz-se necessária a desburocratização dos mecanismos de reconhecimento de novas moléculas de agroquímicos, cuja avaliação chega a demorar sete anos ou mais, enquanto nos países desenvolvidos esse tempo dificilmente é maior que dois anos. E temos de investir em novas formulações de fertilizantes, uma vez que importamos mais de 70% de nosso consumo. Os organo-minerais precisam crescer para reduzir a crescente demanda de importação.
Outro tema estratégico tem a ver com a agregação de valor. Embora possamos ficar ainda muitos anos à frente exportando commodities agrícolas, é de todo interessante verticalizar a produção de alimentos, gerando mais renda e empregos no país. E esta questão não passa apenas pela construção de indústrias de transformação: está diretamente ligada às regras da OMC no que diz respeito à escalada e aos picos tarifários. Os países desenvolvidos colocam barreiras tarifárias para importação de nossos produtos industrializados, para favorecer a indústria deles, enquanto as tarifas sobre as matérias-primas são menores ou até nulas. Exemplo interessante é o café: o Brasil exporta mais de 25% do café em grão comercializado globalmente, e menos de 2% do café torrado e moído, porque este tem tarifa alta na importação. Com isso, os países que mais exportam café industrializados são Alemanha e Itália, que não têm uma única árvore de café plantada. Acordos bilaterais ou multilaterais entre países são essenciais para resolver essa questão. Outro caso exemplar é a soja que exportamos para a China: vai quase toda em grão, e os chineses fazem farelo e óleo lá, quando poderíamos exportar estes produtos e ainda mais, como o frango, o laticínio e o suíno com a soja e também o milho já embutidos nas proteínas animais.
Uma segunda vantagem comparativa que temos em relação a nossos concorrentes na produção de alimentos, energia e fibras, é a disponibilidade de terra. Com a tabulação dos dados do Cadastro Ambiental Rural determinado pelo nosso rigoroso Código Florestal, a Embrapa mostra que a área total utilizada pelo agropecuário nacional não chega sequer a um quarto do território, como se observa no quadro abaixo.
Quadro 9 – Uso da terra no Brasil
E ainda mais, a área com vegetação nativa atinge mais de 65% do território, seja por causa dos milhões de hectares preservados pelos produtores rurais, seja pelas reservas nacionais, estaduais e municipais públicas e privadas, seja pela área reservada para índios e quilombolas, seja pelos parques preservados. Tais elementos mostram um potencial de novas áreas a serem cultivadas que dependerão de mudanças em algumas regras e/ou legislações atualmente em vigor, além de capital para tanto, inclusive externo.
Finalmente, um terceiro fator indutor do nosso crescimento agro se deve aos recursos humanos que temos em todas as cadeias produtivas do setor. Ao contrário de outros países do mundo, estudo recente da Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio (ABMRA) mostra que a idade média do produtor rural brasileiro vem caindo, assim como a participação das mulheres na gestão das fazendas vem aumentando.
Em ambos os casos, moças e rapazes que estão assumindo o comando das propriedades rurais têm formação técnica e acadêmica superior à de seus pais e avós, garantindo a assimilação de novas tecnologias não só na produção, mas principalmente na gestão. São jovens afeitos à TI que sabem, em tempo real, o que vale cada produto em cada mercado no mundo, tomando decisões sobre o que e quanto plantar de cada cultura, com redução dos riscos comerciais. Sabem exatamente as condições de clima no Brasil e fora, conhecendo assim a posição dos competidores.
Mas talvez seja no cooperativismo brasileiro que se encontre a mais notável mudança para melhor nas lideranças, nos funcionários e até mesmo na compreensão dos associados quanto ao papel de cada um e de todos no processo produtivo. Para isso, tem sido exemplar o trabalho da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) na formação, capacitação e treinamento de pessoal nos três níveis referidos. Com mecanismos ligados ao S do cooperativismo – o Sescoop – a OCB tem estimulado progressos em gestão e governança das cooperativas, levando-as a assumir crescente importância no cenário produtivo: cerca de 50% da produção agrícola nacional passa por cooperativas, que estão assim garantindo a permanência e o crescimento dos pequenos produtores, essenciais para o equilíbrio do tecido social no campo.
Por outro lado, as cooperativas de crédito estão ampliando sua participação na oferta de recursos aos associados, cobrindo uma lacuna que os bancos comerciais não se interessam em assumir.
Também o Sistema Sindical, liderado pela CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária), por meio do SENAR, tem contribuído de forma exemplar para a formação de novos dirigentes e líderes para o agronegócio, investindo pesado no treinamento de jovens agricultores. Sem gente preparada, treinada e motivada, não se constrói nada: nem uma empresa, nem um setor, nem uma nação.
Com todas estas características, a contribuição do agronegócio para a sócio-economia nacional tem sido relevante, seja na sua participação junto ao PIB, seja na geração de empregos, seja na balança comercial.
Quadro 10 – A importância do Agronegócio para a economia brasileira
Note-se que a maior parte do PIB do agronegócio se concentra no “depois da porteira” (industrialização e distribuição), dado característico de países agricolamente desenvolvidos.
Mas embora o valor percentual das exportações do agro no ano passado tenha ficado em 44% do total exportado, o quadro abaixo mostra que o saldo comercial do setor é responsável pelo saldo brasileiro há muitos anos, e assim deve continuar ainda por um bom tempo.
Quadro 11–Desempenho do comércio exterior brasileiro (US$ bilhões)
Curiosidade referente às exportações pode ser observada no Quadro 12 abaixo, que mostra o espetacular crescimento da presença global do agro desde o ano 2000, apesar da forte crise financeira que varreu o mundo entre 2008 e 2010, quando o comércio mundial refluiu. Pois o agronegócio brasileiro praticamente quintuplicou suas expectações.
Quadro 12 – Exportações do Agronegócio – Produtos
E estes números implicam outra análise: no mesmo período, as exportações relativas para Estados Unidos e União Europeia caíram bastante, embora tenham também crescido em termos absolutos. E isso se explica pelo crescimento relativo das exportações para China, Ásia sem China, e até África, onde os países emergentes registram maior aumento das populações e de sua renda per capita, o que incrementa sua demanda por alimentos, conforme mostra o Quadro 13 abaixo.
Quadro 13 – Exportações do Agronegócio – Destinos
Seja como for, o Brasil já se apresenta globalmente como um grande player no comércio agrícola, com destaque em algumas culturas, como se vê no quadro abaixo.
Quadro 14 – Liderança do Brasil no Ranking Mundial 2016/17
Pena que são poucos os produtos em que temos destaque, e muito pode ser feito para incorporar diversos em que ainda não temos expressão mundial, como é o caso de frutas e flores, pescados, lácteos, raízes e tubérculos, orgânicos e outros, inclusive industrializados.
Conhecidos os dados até aqui elencados, restam duas perguntas: a primeira é se o Brasil tem condições de atender à demanda colocada pelo estudo do USDA de aumentar sua produção de alimentos em 41% em 10 anos. E a segunda é se vamos atender a ela. Seremos campeões mundiais da segurança alimentar e da paz nesse tempo disponível?
A resposta à primeira pergunta é positiva. Sem dúvida temos as condições necessárias para isso. Trabalhos recentes organizados pelo Ministério da Agricultura mostram essa possibilidade real, como se vê pelo Quadro 15.
Quadro 15 –Projeções de produção e exportações brasileiras – 2016/17 a 2026/27
A segunda pergunta tem resposta mais complexa, e fica no condicional: se tivermos uma estratégia bem articulada, com políticas públicas adequadas e somadas a compromisso explícito do setor privado, sim.
Mas sem isso, não.
E aqui vale reiterar que muitas políticas públicas ao longo dos anos passados tiveram papel preponderante para o sucesso aqui demostrado, tanto no que diz respeito a ações do executivo quanto do legislativo federais. Foi assim com o aumento de recursos mais baratos para o crédito rural, notadamente para investimentos (caso do Moderfrota, que permitiu renovar toda a sucateada frota de máquinas e equipamentos que tínhamos nos anos 90 do século passado), seja com o apoio às cooperativas de crédito e a criação de novos documentos para comercialização, seja nas discussões da Rodada de Doha da OMC, na modernização de várias legislações obsoletas, como o próprio Código Florestal, a lei de Biossegurança, a dos Orgânicos, o notável avanço na legislação trabalhista, entre muitos outros.
Portanto, temos condições de conseguir o almejado título de campeão mundial da paz, mas precisamos organizar a estratégia para isso.
E é extremamente necessário investir no agro brasileiro.
Considerando o que foi exposto até aqui, podem ser elencados diversos segmentos das cadeias produtivas que demandam investimentos, inclusive externos, para os quais, evidentemente, o país tem de oferecer a indispensável segurança jurídica.
Em logística e infraestrutura
Este talvez seja nosso maior Calcanhar de Aquiles. Já existem dezenas de excelentes estudos mostrando onde investir em ferrovias, rodovias, portos, hidrovias, armazéns, comunicação, etc. Mas faltam recursos oficiais suficientes e não há horizontes de curto prazo indicando mudança desde cenário. Os investimentos devem sair de parcerias público- privadas, considerando a prioridade para as estruturas por onde passarem os maiores volumes de cargas. As recentes privatizações de algumas rodovias estaduais mostram o bom retorno para quem investir nesse item.
Em tecnologia
Embora tenhamos excelentes recursos humanos e instituições de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) no Brasil, também falta dinheiro para implementar os saltos de produtividade lastreados em produção sustentável. Há espaço para a criação de novas variedades de plantas e também de aperfeiçoamento das técnicas de cultivo e manejo. No setor de TI e de conectividade há grande espaço para investimentos. Também no segmento das energias renováveis há oportunidades muito interessantes, mormente com a chegada do RenovaBio. Por fim, vale referir a necessidade de investimentos na produção de máquinas e equipamentos de última geração, bem como de novos agroquímicos, tanto em defensivos agrícolas quanto em novas fórmulas de fertilizantes. Um problema bastante tratado nas cadeias produtivas do agro é o desperdício, além das perdas na colheita, transporte e armazenagem. Precisamos de investimentos para reduzir este prejuízo incalculável.
Em mecanismos de renda
Há uma tendência de redução dos recursos para crédito rural como conhecemos no Brasil, abrindo espaços para novos modelos de financiamento à produção, com possíveis parcerias com o cooperativismo de crédito. Também no seguro agropecuário há um grande espaço: embora a lei criadora do seguro no país seja de 2003, não chega a 10% a área cultivada por ele coberta. É muito pouco, e investimentos em seguro podem ser muito interessantes.
Em indústrias de transformação
Eis um campo em grande expansão e que oferece poucos riscos ao investidor sério. A preocupação com a segurança do alimento é tão grande quanto com a segurança alimentar, e consumidores do mundo todo estão atentos a esse capítulo. Modernização de equipamentos industriais e instalação de projetos que agreguem valor às matérias-primas são essenciais.
Em comércio
Embora tenhamos uma Bolsa funcionando a pleno vapor no país, é importante dar maior visibilidade aos novos papéis de comercialização interna que já representam atualmente um relevante volume de recursos que podem aumentar a oferta de crédito rural. Também a discussão de acordos internacionais que consolidem mercados conhecidos e conquistem novos passa a ser um tema crucial para o futuro do acesso de produtos brasileiros em outros países. Investimentos estrangeiros na produção agrícola e agroindustrial aumentarão o interesse nesse trabalho.
Em energia
Tão importante quanto a segurança alimentar para o mundo, é a segurança energética. A recente crise econômica interna acabou inibindo o consumo de energia, mas um salto na economia vai criar uma demanda que exigirá investimentos grandes nesse tema. A agroenergia terá avanços com o RenovaBio, mas a energia elétrica derivada de hidroelétricas e de outras fontes renováveis também deve ser implementada.
Em defesa sanitária
Como foi já explicitado, a produção e uso de agroquímicos cada vez menos agressivos ao meio ambiente depende muito da desburocratização e flexibilização de serviços públicos. Mas o investimento em novas unidades industriais é igualmente uma necessidade inadiável.
Em recursos humanos
Neste quesito temos obtido avanços interessantes, como foi visto. Mas também foi dito que não se constrói nada sem gente preparada, e há bom espaço, sobretudo na formação de técnicos de nível médio, que demanda investimentos amplos, em especial para jovens que atuem no tema gestão.
Em instituições
A modernização do campo passa pela modernização das instituições que atendem ao campo, desde as de ensino, pesquisa e extensão, até as de crédito e seguros, passando pelas representações dos diversos segmentos das cadeias produtivas. Consultorias independentes com experiência em reformas de estruturas e estratégias seriam bem-vindas.
Em comunicação
Há aqui uma questão essencial. Os produtores brasileiros têm grande orgulho dos avanços experimentados nos últimos anos, inclusive na conquista de mercados nos quatro cantos do mundo. Mas esse orgulho ainda não é compartilhado com os cidadãos urbanos. E sem estes últimos, o campo não teria conseguido chegar onde chegou. Porque? Porque a indústria de máquinas, equipamentos e implementos é urbana.
Urbanos são os bancos e seguradoras, assim como as empresas de tecnologias e as produtoras de insumos agrícolas. São urbanas as indústrias de transformação e de alimentos, as de embalagem e a distribuição. Propaganda e marketing são feitas por empresas urbanas, assim como o comércio. As construtoras e empreiteiras que montarão a infraestrutura são urbanas. Enfim, o sucesso do campo deve ser compartilhado pelas cidades: ambos estão indissoluvelmente ligados. Por isso precisamos investir em comunicação, para que todos os brasileiros tenham orgulho do seu trabalho que deu origem às conquistas do agro pelo mundo afora.
Em resumo, o agro brasileiro tem todas as condições necessárias para assumir a liderança mundial de segurança alimentar e da agroenergia. Mas não tem as condições suficientes, e essas viriam por meio da formulação de uma estratégia completa e de investimentos nos temas alinhavados e em muitos outros de menor extração. Ora, quem se associar ao Brasil nessa atividade será também campeão mundial, e este troféu dificilmente mudará de mãos em curto espaço de tempo.
Quem não quer ser campeão mundial da Paz?
Por: Roberto Rodrigues – Coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, embaixador especial da FAO para as Cooperativas e presidente do LIDE Agronegócio.