Segundo Edeon Vaz Ferreira, alta no frete tem atrasado escoamento do milho e chegada dos fertilizantes.
Produtores de Mato Grosso estão buscando alternativas para contornar a incerteza e o aumento dos custos decorrente do tabelamento do frete. Segundo Edeon Vaz Ferreira, diretor executivo do Movimento Pró-Logística do Estado, várias iniciativas, como a compra de caminhões, já estão sendo colocadas em prática. “Você tem produtores que tinham caminhões e mantinham eles somente para a safra e agora estão colocando esses veículos para rodar, e tem também a locação de caminhões. O produtor aluga e contrata o autônomo como motorista”, disse Ferreira no 28º Congresso Fenabrave.
De acordo com ele, em Mato Grosso, o tabelamento do frete tem resultado em alta de 30% a 50% nos valores do transporte, dependendo da região. O principal problema está no escoamento da safrinha, porque a saída da soja atrasou. Com isso, já existem casos de milho a céu aberto. “Há também a questão dos fertilizantes, que ainda não chegaram. Começamos o plantio em meados de setembro, então está apertado”.
O Movimento Pró-Logística é contra o tabelamento e espera que a medida seja considerada inconstitucional pelo ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal. Ele deve tomar uma decisão apenas após a audiência pública de 27 de agosto. “Frete é reflexo de mercado. Se você tem muito caminhão e pouca carga, o valor cai. Se tem muita carga e pouco caminhão, o frete sobe. O tabelamento é uma defesa dos autônomos que não fecha a conta e está sendo ruim para eles mesmos, que estão sem carga. E não é bom para a sociedade, porque tem impacto no preço de vários produtos”, afirmou Ferreira.
Caso o ministro do STF considere a medida constitucional, o setor terá que aguardar a publicação da nova tabela pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Segundo Ferreira, o órgão já afirmou que só liberará uma nova versão depois das audiências públicas. “A nossa previsão é que saia por volta de outubro. Até lá vamos ter que nos virar”.
Em relação à dependência do modal rodoviário no país, o diretor executivo acredita que o problema está nas longas distâncias. “Não vamos ficar sem o transporte rodoviário. Precisamos alimentar as ferrovias e as hidrovias, então sempre vamos precisar dos caminhões. O que a gente busca é que o caminhão faça o frete curto: entre a unidade produtora e o trem ou a hidrovia e pare com esse negócio de transportar grão por 2 mil km”. Segundo ele, os principais projetos de logística para o escoamento de grãos de Mato Grosso têm avançado – uns ainda na fase de estudos e outros já em obras.
Investimentos chineses
Sobre a possibilidade de os chineses investirem em infraestrutura no Brasil para facilitar o escoamento da soja, por conta da guerra comercial, Ferreira disse que ainda não tem visto nada de concreto. “Os chineses pensam muito para tomar uma decisão. Até agora não decidiram nada. Entraram no mercado brasileiro comprando tradings, projetos de portos e empresas de engenharia. Mas ainda não houve manifestação deles de investir diretamente em uma ferrovia, uma hidrovia”. Para ele, a insegurança jurídica, a falta de bons projetos e a demora no licenciamento ambiental são problemas que podem afastar esses investimentos de empresas e governos estrangeiros.