A dependência da exportação de commodities com baixo valor agregado é apresentada muitas vezes como razão para parte dos problemas da economia brasileira.
Porém, nem todas commodities são iguais. Diferentemente de produtos minerais que são extraídos e exportados conforme a disponibilidade das reservas naturais, commodities agrícolas são produzidas de forma renovável e sua produtividade depende diretamente da tecnologia e conhecimento empregados.
Nas últimas décadas o Brasil se tornou grande ator no mercado mundial de alimentos graças ao desenvolvimento nacional de tecnologias agrícolas que permitiram uma produção cada vez mais ampla e intensa de culturas como a soja, com grande demanda no mercado mundial.
A intensificação do uso de tecnologia nos últimos anos possibilitou um grande aumento de produtividade, ampliando a produção em um ritmo muito mais intenso do que o aumento das áreas utilizadas pela agricultura. São incrementos proporcionados pela biotecnologia, avanços agronômicos, máquinas mais modernas, gestão de conhecimento com agricultura de precisão e agricultura digital, técnicas de irrigação e diversos outros. Quando se exporta safras maiores a cada ano, estamos exportando dentro de cada grão de soja muita tecnologia usada para aumentar a produção das áreas já cultivadas.
Como país que precisa se desenvolver, temos que avaliar o valor da tecnologia empregada e sua origem. Os custos com as novas tecnologias devem ser adequados para deixar no país maior margem pela produção, não podendo ser mais caras que os benefícios que trazem.
Devemos principalmente apoiar o desenvolvimento nacional de tecnologias que sustentam o aumento de produção. Não podemos ficar dependentes apenas de boas tecnologias importadas, pois estas cobrarão os preços pelo desenvolvimento das mesmas. Como nação, se ficarmos apenas como campo de produção usando tecnologias importadas, as margens que teremos para o desenvolvimento do país serão cada vez menores.
Porém, se seguirmos investindo em desenvolver conhecimento agronômico e tecnologia nacionais para serem empregados no crescimento da produção, dentro da cada grão de soja estaremos exportando um pouco do conhecimento, dos insumos e das tecnologias usadas para produzi-lo.
Por: Marcio Albuquerque – Engenheiro, diretor da Falker e presidente da Comissão Brasileira de Agricultura de Precisão