Comparando-se o comportamento do ovo e do frango no decorrer de 2018, não escapa que no mês de março, enquanto o ovo apresentava excelente desempenho (período de Quaresma), o frango enfrentava aquele que seria um de seus piores resultados do ano. Pois seis meses depois, o quadro observado é totalmente oposto: o frango registra seu melhor desempenho no ano e o ovo retrocede a um dos menores preços do corrente exercício
O retrocesso em si não chega a ser ocorrência inesperada, pois a curva sazonal de preços do ovo mostra que, em relação ao pico de março, o preço de setembro sofre significativo retrocesso (cerca de 15% a menos na média dos últimos 17 anos). O que surpreende em 2018 é o alto índice de redução acumulado nestes últimos seis meses, superior a 25%.
Para simplificar basta dizer que há quase doze meses o ovo não obtém, na média mensal, preço igual ou melhor que o de um ano antes. Aliás, até em junho, quando a greve dos caminhoneiros (final de maio) ocasionou uma explosão artificial nos preços do setor, o valor médio mensal – mesmo correspondendo ao melhor preço do ano – continuou aquém do registrado em junho de 2017.
A realidade é que, além de ter fechado setembro com um preço médio 4,11% e 21,85% menor que os registrados, respectivamente, em agosto de 2018 e em setembro de 2017, o ovo completa três quartos do ano valendo, em termos nominais, 18,55% menos que em idêntico período do ano passado. Mas não só isso, pois em comparação aos mesmos nove meses de 2016 o retrocesso ficou próximo dos 15%. Culpa de quem?
A perda, contínua e crescente, da capacidade aquisitiva dos consumidores é fato inconteste. Não se sabe quanto, mas está claro que o consumo direto e indireto do ovo (in natura ou via pratos prontos, doces, etc.) caiu sensivelmente, tanto em nível doméstico como no “food service”.
Mas o que agrava sensivelmente os problemas do setor é a produção, que cresce na contramão da economia. E os números do IBGE comprovam isso. Em 2016 foram produzidos, nacionalmente, pouco mais de 3,8 bilhões de dúzias de ovos, volume 1% superior ao de 2015. Já em 2017 a produção nacional subiu para 4,245 bilhões de dúzias, quase 12% a mais que no ano anterior.
Em outras palavras, dois anos atrás o crescimento registrado ficou um pouco acima do crescimento vegetativo da população, inferior a 1% ao ano. Já no passado a expansão foi pelo menos 10 vezes superior ao aumento da população.
Os primeiros dados relativos a 2018 são ainda mais preocupantes. Pois, a partir do cruzamento de dados dos levantamentos efetuados em granjas com plantel superior a 10 mil poedeiras, levantam-se indicativos de que a produção desde ano pode ter aumentado mais de 20% em relação a 2015.
Infelizmente, o aumento registrado vem sendo ocasionado não só pela manutenção das poedeiras além da idade de descarte sugerida (as linhagens atuais são mais longevas), mas também (e sobretudo) por um incremento expressivo do plantel produtor. Este último fator, principalmente, dificulta a adequação da produção ao restrito consumo dos últimos tempos.