Entidade comenta que o cultivo de arroz no Brasil não mais apresenta segurança aos produtores e, talvez, somente o desabastecimento mude esse contexto
O plantio de arroz no Rio Grande do Sul está na reta final e as condições para a semeadura foram favoráveis. Dados do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) apontam que a área nesta safra deverá ficar em torno de 1,07 milhão de hectares. A expectativa é que para quem plantou na época indicada, as condições da colheita devem ser favoráveis. Entretanto, a perspectiva de preços para a colheita, que inicia em março, não é animadora.
Conforme o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Henrique Dornelles, ainda é muito cedo para falar em tamanho de safra, pois o nível de tecnologia utilizado em parte das lavouras é uma incógnita. Isso se deve a descapitalização do produtor de arroz em função de dois anos de preços com baixa remuneração.
Para o dirigente, a atual situação dos custos altos de produção já são uma apreensão muito forte entre os produtores. “A Federarroz alerta que não adianta somente produzir e vender abaixo do custo de produção, ano após ano. Diminuir a lavoura ou mesmo parar é uma atitude de gestão, pois quando se está no vermelho, quanto mais se produz, maior é o prejuízo”, salienta.
Dornelles ressalta que o mercado doméstico tem sido depreciativo à quem produz. Qualquer pretexto de fragilidade, acaba contribuindo para queda dos preços pagos aos produtores. Assim, mesmo com a maioria dos fundamentos sendo positivos ao fortalecimento dos preços, o recuo acontece. “A atual conjuntura da produção de arroz é de enfraquecimento do setor produtivo, do fortalecimento do varejo e organização do setor industrial. Isso tem penalizado os produtores, elo mais fraco, trazendo insegurança às famílias, observa.
O presidente da Federarroz reforça que a entidade tem uma postura pragmática e um compromisso com as pessoas, os produtores e sua família, e não simplesmente com a cultura do arroz. Desta forma, aconselha aos produtores que estão pegando recursos para a safra com vencimento na colheita, onde os preços historicamente são mais baixos, que não plantem para não aumentar o prejuízo. “Melhor exemplo para isto é que em plena entressafra o mercado está fragilizado, apesar de fortes movimentos de exportação, baixo estoque de passagem e uma safra futura equalizada com a demanda em todo Mercosul”, informa.
O dirigente lembra que em função dos custos de produção, onde a Federarroz prevê uma alta no desembolso de 20%, trará uma necessidade de preços ainda maiores dos que estão sendo faturados neste momento, em torno de R$ 42,00. “Aconselhamos o arrozeiro que busque uma diversificação dos negócios para não ficar refém a uma cultura que não tem trazido muita felicidade aos seus empresários. Assim, tem a obrigação de começar a diversificar com o objetivo de no futuro dar uma guinada no seu negócio”, pondera, acrescentando que ainda assim, lamenta que o produto arroz perdeu valor e respeito, gerando insegurança.
Dornelles diz que mais uma vez a Federarroz faz um alerta aos produtores que possuem contratos de Cédula de Produto Rural (CPR) que este sistema faliu e trará o fortalecimento apenas de um setor, que vem obtendo bons lucros em cima de serviços e resultados financeiros, além da oportunidade de contar com a entrega do produto à preços mais baixos do ano. “Além do que, estes serviços não tem conotação de fomento do setor produtivo. Os produtores que estão ligados ao sistema de CPRs assumem juros de 2,5% ao mês com vencimento somente favorável ao credor”, pondera.
O presidente da Federarroz enfatiza que a realidade dos produtores é variada, pois há casos com custo de produção total por saco ao redor de R$ 35,00 e outra realidade com R$ 50,00. “Apesar de distintas, mesmo produzindo com custo mais elevado, o produtor segue cultivando o grão, ano após ano, sem tomar qualquer atitude como mudança da matriz produtiva, sistema de cultivo, reescalonamento da área, ou mesmo quebras de contratos. Essa postura tem sido importante somente para setor industrial ou varejo, que desfruta da segurança de abastecimento e a baixos preços”, afirma.
Para amenizar a situação, a Federarroz está trabalhando em busca de novos mercados, especialmente o africano, com o objetivo de incrementar as exportações do casca nos próximos seis meses. Dornelles lembra também que o setor produtivo está trabalhando na abertura de novas oportunidades, como o México, que tem algumas exigências a serem vencidas e em breve poderão ser uma surpresa positiva para os orizicultores.
Além disso, o setor está confiante com a atuação da nova ministra da Agricultura, Tereza Cristina (DEM/MS), que já reforçou em resolver os problemas relativos ao Mercosul, já reclamados pelos arrozeiros em outras oportunidades. “Ela tem falado que o Mercosul não tem servido aos agricultores do Brasil. Esperamos o questionamento destas diferenças competitivas que tanto afetam a renda no campo”, conclui Dornelles.
Foto: Fagner Almeida/Divulgação
Por: Nestor Tipa Júnior/AgroEffective
Por: Nestor Tipa Júnior/AgroEffective