Estudo mostra que a atual relação de troca da soja por adubo está entre 20% a 25% abaixo da média dos últimos cinco anos
Uma análise sobre o mercado de fertilizantes elaborada pelo analista do Rabobank Brasil, Victor Ikeda, conclui que apesar da alta recente nos preços do insumo, o momento ainda pode ser interessante para adquirir os fertilizantes para a próxima safra, “desde que o produtor adote uma estratégia de vender sua produção no mercado futuro e travar seus custos com adubação levando em conta a commodity que produz”.
Segundo Ikeda, considerando os valores dos fertilizantes nos atuais níveis e as cotações da soja na Bolsa de Chicago, verifica-se que as relações de troca estão em patamares muito próximos aos verificados nesse mesmo período do ano passado. No comparativo com a média histórica dos últimos cinco anos, a o poder de compra do produtor de soja em relação ao adubo está entre 15% a 20% melhor.
Ele observa que a melhora no poder de compra resulta em menores custos de produção ao produtor em termos relativos de soja. Ikeda calcula que, nos atuais patamares de preços dos fertilizantes, se produtor travar o preço da soja utilizando os contratos futuros de março em Chicago, o gasto com adubação seria de 9,2 sacas por hectare em Sorriso (MT), ante as 9,7 sacas da mesma época do ano passado e as 11,2 sacas da média entre 2010 e 2014.
O analista lembra que para aproveitar as relações de troca favoráveis, o produtor precisa estar atento a alguns detalhes no momento de negociar seus fertilizantes, para otimizar seus resultados. Ele destaca que para o custo da adubação (relação de troca) ser efetivamente menor, o produtor rural precisa alinhar a estratégia de compra com a venda da produção, utilizando ferramentas de mercado futuro.
Ele diz que o uso de ferramentas financeiras (hedge) no travamento de preço da commodity agrícola pode ser uma alternativa interessante para não comprometer a entrega do produto físico ao final da safra. Outro ponto é ter atenção aos pacotes oferecidos nas operações de troca do insumo pela soja, principalmente no que diz respeito a taxa de juros e o valor de venda fixado, “que podem não ser tão interessantes ao produtor”.
Ikeda salienta que o produtor também precisa ficar atento ao “casamento de moedas”. Isto é, comprar o fertilizante em dólar o ideal é vender a produção também na moeda americana para não ser surpreendido pelos efeitos da volatilidade cambial. Ele observa que o “casamento de moedas” deve ser feito não apenas considerando as vendas futuras da produção, mas a receita que o produtor pretende usar para pagar os fertilizantes, que geralmente tem um prazo mais curto de pagamento.
Outro ponto destacado é o desconto disponível para pagamento adiantado dos adubos. Ikeda explica que apesar do prazo de pagamento de fertilizantes ser relativamente curto (dois a três meses, em média), existem casos em que o produtor está capitalizado pela venda de sua produção ou com recursos de bancos a taxa de juros mais atrativas, de forma que pode valer a pena verificar o desconto e adiantar o pagamento do fertilizante ao distribuidor.
Tendências
Em relação às tendência de mercado, Ikeda comenta que os aumentos nos preços dos fertilizantes nesse início de ano estão relacionados à uma retomada da demanda nos países do Hemisfério Norte, que se preparam para o cultivo de sua safra de verão, com perspectiva de melhora nas margens agrícolas em países europeus e movimento de desvalorização cambial no Canadá, que tem favorecido os preços de grãos exportáveis pelo país.
Ele acredita que nos EUA, principal importador mundial de fertilizantes, o mercado deve voltar a se normalizar em 2017, com a retomada da adubação. “Vale lembrar que os produtores americanos atrasaram ou reduziram as aplicações de adubos na safra 2015/2016 como forma de reduzir custos em um cenário de preços de grãos pressionados”, diz ele.
Segundo Ikeda, nos próximos meses os preços dos fertilizantes devem manter a trajetória de alta, ou pelo menos ficar estáveis, até que se encerre o período de adubação da safra de verão do Hemisfério Norte. “Porém, o Rabobank acredita que após essa demanda mais intensa, os fundamentos apontam para nova pressão sobre os valores dos adubos”, diz ele.
Entre as principais variáveis baixistas se destaca o aumento das capacidades globais de produção, pois são esperados o início de atividades e retomada de unidades de produção de nitrogenados na China e EUA. No caso do potássio uma nova mina também deve começar a ser explorada esse ano. A redução dos custos das matérias-primas da indústria de produtores de fertilizantes fosfatados também é outro fator, pois deve manter as margens do setor mesmo num cenário de recuo das cotações deste insumo. Um terceiro fator é o desequilíbrio entre oferta e demanda global, que deve continuar pressionando os preços das commodities agrícolas.