O Estado de Mato Grosso produziu 59.900 toneladas de peixe em 2016, ficando em 4º lugar no ranking nacional conforme levantamento da Associação Brasileira de Piscicultura (Peixe BR), entidade de representação nacional do setor. Esse número revela uma queda de 19% no volume produtivo em relação ao ano anterior.
Em entrevista ao Agronews, o presidente executivo da Peixe BR, o produtor mato-grossense Francisco Medeiros conta que em 2015 o Estado alcançou a primeira colocação na produção de peixe do Brasil.
Questionado sobre o principal fator que ocasionou a queda, Medeiros apontou duas. “O principal fator é que aqui no Estado praticamente quase toda produção é bancada pelo próprio produtor rural. Ele não usa linha de financiamento. E em função dessa escassez de dinheiro nos últimos dois anos houve uma retração nesse setor”.
Com menos dinheiro, frisa Medeiros, o produtor colocou menos peixe para criar, e aí houve uma queda de 19%. Essa dificuldade também é resultado da dificuldade de licenciamento ambiental da piscicultura.
“Os recursos da safra agrícola também necessitam do licenciamento. Na piscicultura, como a maioria não tem o licenciamento, consequentemente não tem acesso ao crédito”, reclama o presidente executivo da Peixe BR.
Por isso Medeiros, considera estas duas questões, a falta de recursos e o difícil acesso ao licenciamento, como as duas principais que contribuíram para a queda na produção.
Ele aponta a demora na liberação dos processos como o terceiro fato complicador. “Há processos que levam de dois a três anos para sair e também percebemos uma resistência nos órgãos ambientais em dar celeridade nesse processo”.
Mobilização
Tanto a Peixe BR quanto a Aquamat estão fazendo gestões junto a instituições que regulamentam e fiscalização a piscicultura em Mato Grosso no sentido de conquistar uma flexibilização na legislação. “Os estados que mais produzem são os que tem exatamente um licenciamento ambiental mais facilitado, que é Paraná, São Paulo e Rondônia, o que demonstra claramente que se o produtor tem segurança jurídica ele faz investimento substanciais no negócio. Se fizer de forma clandestina o órgão ambiental vai lá e fecha o negócio e ele acaba mudando de ramo.
Onda negativa
Francisco Medeiros vê um momento de negativismo no setor. Ele lembra que quando houve um período de muita publicidade com relação ao negócio da piscicultura, muitas pessoas fizeram investimento. E hoje, com essa dificuldade de dinheiro, ocorre exatamente o inverso. “As pessoas param de fazer investimento e o gerando um impacto reflexo é negativo. Se eles veem os outros diminuindo, resolvem deixar a ideia. E isso é uma onda negativa”.
Sobre o setor, Medeiros observa que se trata de um ramo como qualquer outro do agronegócio. Ele reconhece a piscicultura como um bom negócio, porém os interessados devem ter em mente que é uma atividade igual a qualquer outra do agro, que tem que ter técnica, planejamento, identificação o mercado e nada pode ser feito aleatoriamente.
“É um setor rentável, mas necessita de planejamento, organização, acompanhamento e deixou de ser uma atividade amadora porque as margens foram reduzida, normal em função da grande produção e da demanda, e aí com o aumento da produção o mercado fica mais exigente e a pessoa tem que ser mais eficiente para continuar tendo rentabilidade”, analisa.
Essa eficiência, segundo o presidente executivo da Peixe BR, inclui a eficiência em todos os sentidos, desde o projeto, compra de insumos, manejo com os peixes, uma boa comercialização, uma série de fundamentos essenciais para o sucesso.
Para quem pratica é uma boa atividade. Estou no setor há 25 anos e nunca pensei em desistir. Estou sempre em ir mais adiante”, completa.
Ações do governo
Reconhecendo Mato Grosso como um dos maiores potenciais de crescimento da piscicultura a médio prazo, apesar da redução na produção, o secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ricardo Tomczyk destaca os maiores desafios do estado no fomento da Piscicultura.
Ele cita o direcionamento prioritário dos recursos do Fundo Constitucional do Centro Oeste (FCO) para as atividades de Piscicultura e Irrigação; a elaboração de material informativo sobre a atividade; capacitação de técnicos para a elaboração de projetos para operações financeiras; e palestras técnicas com o tema da piscicultura em feiras agropecuárias do Estado.
“Mato Grosso tem grande potencial para a produção de peixes. Além do clima favorável, nosso Estado é beneficiado pela disponibilidade de água doce e alta oferta de grãos para a ração animal, como soja e milho. Por outro lado, faltam pesquisas para explorar todo esse potencial zootécnico, poucas informações mercadológicas, carência de quantidade e qualidade da mão de obra especializada”, pontua o gestor.
A perspectiva de aumento da população mundial e o consequente aumento na demanda por alimentos saudáveis, elevam a Piscicultura ao patamar de elo para ampliar o desenvolvimento econômico e social, preservando o ecossistema e aliviando a pressão da pesca extrativista.
As principais espécies produzidas no estado são: tambacu e tambatinga correspondendo a 47% da produção, seguidos por pintado, cachara e surubim 23%, tambaqui 23%, pacu e patinga 5%.
Paraná, Rondônia e São Paulo puxam crescimento da Piscicultura no Brasil
A Piscicultura brasileira produziu 640.510 toneladas em 2016. Paraná, Rondônia e São Paulo são principais estados produtores e o Norte é liderança entre as regiões. No total, a atividade movimentou R$ 4,3 bilhões, com geração de 1 milhão de empregos diretos e indiretos. Em 2015, a atividade produziu 638.000 toneladas.
Estes dados fazem parte do inédito levantamento estatístico da atividade feito pela (Peixe BR) e publicado no Anuário Brasileiro da Piscicultura – edição 2016.
O Estado do Paraná é o líder em Piscicultura no Brasil. O levantamento da PEIXE BR mostra que o estado produziu 93.600 toneladas de peixes cultivados, em 2016. O Paraná superou as adversidades do ano e, contando com o indispensável trabalho dos projetos aquícolas independentes e, especialmente, das cooperativas e seus produtores integrados, cresceu 17% em 2016.
A vice-liderança é de Rondônia, que produziu 74.750 toneladas de peixes cultivados em 2016. O crescimento foi expressivo em relação a 2015: 15%. Destaque ao aumento dos projetos de peixes redondos, característica marcante da atividade no estado.
São Paulo é o terceiro maior estado em Piscicultura no Brasil, com 65.400 toneladas produzidas em 2016. O estado cresceu 9% em 2016, mantendo a média anual de crescimento e com tendência de maior evolução em função da assinatura do decreto estadual que regulamenta o licenciamento ambiental.
Mato Grosso é o quarto maior produtor de peixes cultivados do país. O estado produziu 59.900 toneladas em 2016. O estado perdeu espaço na atividade, encolhendo 19% em apenas um ano.
Santa Catarina é um dos estados líderes na produção de peixes cultivados, mantendo também a média anual de crescimento, atingindo 38.330 toneladas em 2016.
Norte lidera entre as regiões
Rondônia contribuiu decisivamente para a região Norte fechar 2016 como líder na produção de peixes cultivados no Brasil. A região produziu 158.900 toneladas, com crescimento de 4,81% sobre 2015.
A região Sul vem em seguida, com 152.430 toneladas, resultado de um excelente desempenho: aumento de 13% sobre os números do ano anterior.
O Centro-Oeste foi a terceira região mais produtiva em 2016, com 120.670 toneladas. Na sequência, vieram o Nordeste (104.680 toneladas) e o Sudeste (103.830 toneladas).
DESEMPENHO DA PISCICULTURA BRASILEIRA EM 2016
|
578.800T |
638.000T |
640.510T |
0,39% |
2014 | 2015 | 2016 | ||
NORTE |
123.500 |
151.600 |
158.900 |
4,81% |
Rondônia | 40.000 | 65.000 | 74.750 | 15% |
Acre | 5.000 | 6.000 | 7.020 | 17% |
Amazonas | 23.000 | 25.000 | 27.500 | 10% |
Roraima | 20.000 | 21.000 | 14.700 | -30% |
Pará | 15.000 | 18.000 | 19.080 | 6% |
Amapá | 500 | 600 | 650 | 8,33% |
Tocantins | 20.000 | 16.000 | 15.200 | -5% |
NORDESTE | 113.500 | 116.600 | 104.680 | -10,22% |
Maranhão | 20.000 | 23.000 | 24.150 | 4,88% |
Piauí | 13.000 | 16.000 | 17.000 | 6,25% |
Ceara | 33.000 | 28.000 | 12.000 | -57,14% |
Rio Grande do Norte | 3.000 | 3.300 | 2.500 | -24,24% |
Paraíba | 1.000 | 1.100 | 2.500 | 127,27% |
Pernambuco | 10.000 | 11.000 | 12.100 | 10,00% |
Alagoas | 2.500 | 2.700 | 2.830 | 4,80% |
Sergipe | 6.000 | 6.500 | 6.100 | -6,15% |
Bahia | 25.000 | 25.000 | 25.500 | 2,00% |
SUDESTE | 90.000 | 101.500 | 103.830 | 2,29% |
Minas Gerais | 25.000 | 25.000 | 23.000 | -8,00% |
Espirito Santo | 11.000 | 12.000 | 10.800 | -10,00% |
Rio de Janeiro | 4.000 | 4.500 | 4.630 | 2,88% |
São Paulo | 50.000 | 60.000 | 65.400 | 9,00% |
SUL | 123.000 | 134.800 | 152.430 | 13,00% |
Paraná | 75.000 | 80.000 | 93.600 | 17,00% |
Santa Catarina | 30.000 | 35.300 | 38.830 | 10,00% |
Rio Grande do Sul | 18.000 | 19.500 | 20.000 | 2,56% |
CENTRO-OESTE | 128.800 | 133.500 | 120.670 | -9,61% |
Mato Grosso do Sul | 20.000 | 23.000 | 24.150 | 5,00% |
Mato Grosso | 75.000 | 74.000 | 59.900 | -19,00% |
Goiás | 33.000 | 34.000 | 34.000 | 0,00% |
Distrito Federal | 800 | 2.500 | 2.620 | 4,8% |
Por: Redação Agronews com informações da Texto Comunicação.