A finalização da colheita de verão permite calma no planejamento para o inverno. Neste momento, os investimentos em cultivos de grãos já estão definidos, mas a decisão por opções de cobertura do solo acaba sendo postergada
A Embrapa Trigo alerta para a importância de manter o solo coberto no inverno, preparando a base para os próximos cultivos de verão.
“A melhor safra de verão é preparada no inverno”. A afirmativa é do Chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Trigo Jorge Lemainski. Segundo ele, a soja deixa o residual aproximado de 3,5 toneladas de raízes e palhas. Somando-se o pousio no inverno, com rebrote do azevém guacho (espontâneo), o volume de palha não chega a 6 toneladas, quando o ideal para um solo fértil seria entre 8 a 12 toneladas de material orgânico.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Trigo, Alfredo do Nascimento Junior, para reduzir os riscos com estiagens no verão, é preciso investir em culturas de inverno que ofereçam maior volume de palha. “Em experimento conduzido em Boa Vista das Missões, município ao noroeste do Rio Grande do Sul, observamos o melhor desenvolvimento da soja sobre palhada de centeio em comparação com a soja sobre palhada de aveia preta. A explicação é o volume de palha que cobriu completamente o solo durante o déficit hídrico nos meses de dezembro a janeiro”, conta Alfredo.
Da mesma forma, segundo o pesquisador, a escolha da cobertura deve considerar períodos de inverno rigoroso. “A geada afeta praticamente todas as culturas, mas algumas espécies, ou mesmo variedade, sofrem de forma diferente os efeitos da geada. Enquanto a aveia morre, o centeio continua em pé”, conta Alfredo. O pesquisador lembra de um experimento em Carazinho, RS, onde a produtividade do milho foi de 7 toneladas por hectare (t/ha) sobre aveia preta, mas chegou a 13 t/ha quando cultivado sobre ervilhaca.
No trabalho de pesquisas com cereais de inverno, a Embrapa Trigo desenvolve diversos experimentos com culturas como trigo, cevada, centeio, triticale, aveia e canola, além de culturas de verão como milho e soja, e opções de forragem animal. Para garantir a cobertura no inverno e a recuperação de solos degradados, uma das principais alternativas é o centeio, espécie rústica, bem adaptada a solos fracos e arenosos.
“Em função da monocultura da soja – até o milho está sumindo das lavouras – encontramos dificuldade para adquirir sementes de cobertura. Mas a demanda fomenta a produção e podemos aguardar um colapso do sistema baseado na monocultura. Quando o produtor começar a avaliar perdas e ganhos na produção de grãos, acredito que voltaremos a acreditar na importância das plantas de cobertura”, conclui Alfredo do Nascimento Junior.