O visionário Malcom McLean imaginou como os contêineres poderiam criar um novo sistema de comércio internacional e simplesmente colocou a ideia em prática.
Há 60 anos, um homem com uma ideia brilhante mudou o curso do comércio mundial e lançou as bases para o que se tornaria o maior negócio de transportes marítimos do mundo. No dia 26 de abril de 1956 marca o início do que foi descrito como a “revolução dos contêineres”: 58 caixas foram carregadas a bordo do petroleiro convertido Ideal-X e navegaram de Newark, Nova Jersey a Houston, Texas – o empresário americano Malcom McLean, que mais tarde fundou a Sea-Land Services, havia inventado o moderno contêiner de transporte intermodal.
Na época, a carga era geralmente carregada e descarregada à mão, custando 5,86 USD a tonelada em comparação com 16 centavos de tonelada usando o Ideal-X; o valor das “economias de escala” foi introduzido. A viagem para Houston reflete como uma ideia simples – embalar mercadorias em uma caixa de 35 pés e seis lados e mover aquela caixa entre diferentes modos de transporte – eventualmente revolucionou o comércio mundial e lançou as bases para o maior negócio de contêineres do mundo, a Maersk Line.
Hoje cerca de 90% do comércio internacional é transportado por via marítima. As exportações do agronegócio, computadores da China, camisetas de Bangladesh, cobre do Chile, carros do Japão, tomates da Espanha — tudo que você possa imaginar viaja em uma das 20 mil caixas de metal que um navio de carga costuma transportar.
Uma caixa de aço com 548 mil bananas, 55 geladeiras, 400 televisores, 13 mil garrafas de cachaça ou um carro.
Abaixo você pode conferir um vídeo animado que mostra estra trajetória de sucesso. (Ligue a legenda)
Um mero contêiner
“A globalização, como conhecemos hoje, não teria sido possível sem o contêiner”, diz Marc Levinson, economista, historiador e autor de livros como A Caixa, em que explica como a inovação possibilitou a expansão do comércio internacional, e Fora da Caixa, em que reflete sobre a história e o futuro da globalização.
Pouca atenção havia sido dada aos contêineres até a crise da cadeia de suprimentos deste ano (derivada da pandemia de covid-19), que deixou muitos dos produtos que consumimos regularmente presos em um dos portos por onde transitam as mercadorias.
O fato é que não podemos viver sem eles. Embora a história nos diga que nem sempre foi assim.
A primeira viagem de contêineres bem sucedida comercialmente aconteceu em abril de 1956 a bordo de um navio militar convertido, o Ideal X, que transportou 58 contêineres de Nova Jersey ao Texas, onde 58 caminhões aguardavam sua chegada para transportar as mercadorias.
O arquiteto da travessia foi Malcom McLean, o criador visionário do moderno sistema de transporte marítimo comercial com contêineres.
Poderíamos chamá-lo de “senhor contêiner”, reconhecendo que foi ele que inventou o sistema de logística, além da caixa de metal propriamente dita.
E se tornou bilionário.
Como surgiu a ideia
Antes de McLean — um empreendedor do ramo de caminhões nascido em 1914 em uma família de agricultores da Carolina do Norte — usar o contêiner como a peça-chave de seu império comercial, o transporte marítimo era quase um pesadelo.
Na década de 1950, a logística de carga e descarga de navios era por si só um desafio gigantesco.
Os estivadores encarregados da tarefa empilhavam, por exemplo, barris de azeitonas e caixas de sabão em um palete de madeira.
Este era içado com uma corda grossa e depositado no porão do navio, onde outros estivadores acomodavam cada item para otimizar o espaço ao máximo e para que a carga não se movesse em alto mar.
Costumava haver guindastes e empilhadeiras disponíveis, mas no fim das contas muitas das mercadorias acabavam sendo colocadas manualmente.
Era um trabalho muito mais perigoso do que a manufatura ou construção. Nos grandes portos, a cada poucas semanas, havia uma fatalidade.
A carga e descarga de um navio levava o mesmo número de dias que a viagem marítima.
Precisava haver uma maneira melhor de fazer isso. E foi essa resposta que McLean encontrou.
O empresário atuava no ramo de transporte terrestre de mercadorias.
Ele começou com um único caminhão durante os duros anos da Grande Depressão e terminou com uma frota de 1,7 mil veículos quando vendeu a empresa em meados da década de 1950.
McLean estava convencido de que o uso de contêineres era o futuro do comércio internacional — mas, para isso, era necessário toda uma cadeia logística que viabilizasse o modelo de negócio e convencer todos que participavam do antigo sistema de que deveriam transformá-lo.
O primeiro desafio: como convencer os demais
Para começar, as empresas de transporte rodoviário, as companhias de navegação e os portos não conseguiam chegar a um acordo sobre um padrão comum para a fabricação dos contêineres.
Havia ainda os poderosos sindicatos dos portos, que resistiam à ideia porque a maioria dos estivadores perderia o emprego.
Por outro lado, as autoridades que regulamentavam as cargas pesadas nos Estados Unidos também preferiam o status quo.
Diferentes normas estabeleciam quanto as companhias de navegação e empresas de caminhões deveriam cobrar.
Por que não permitir que cobrem o que o mercado dita? Ou permitir que se unam e ofereçam um serviço integrado?
Não, a primeira resposta foi uma oposição direta às ideias de McLean.
Apesar das dificuldades, o empresário continuou trabalhando em uma maneira de fabricar contêineres que pudessem se ajustar às necessidades de um navio e de um caminhão que fosse capaz de transportar a mesma caixa metálica cheia de produtos.
Até que chegou o dia em que ele conseguiu seu grande cliente: o Exército dos Estados Unidos.
A Guerra no Vietnã
McLean aproveitou uma brecha jurídica para obter o controle de uma companhia de navegação e uma empresa de transporte rodoviário.
Depois, quando os estivadores entraram em greve, ele aproveitou o tempo de inatividade para adequar os navios antigos às especificações dos novos contêineres.
E encorajou a Autoridade Portuária de Nova York a criar um hub para contêineres ao lado do cais da cidade.
Mas a jogada mais importante aconteceu em 1960, quando McLean vendeu a ideia do transporte com contêineres para os militares.
O exército viu na proposta de McLean a solução para seus problemas de enviar equipamento militar ao Vietnã.
O transporte com contêineres é muito mais eficiente se fizer parte de um sistema de logística abrangente, de modo que as Forças Armadas dos EUA eram o cliente ideal.
Além disso, McLean se deu conta de que, ao voltar do Vietnã, seus navios poderiam trazer contêineres cheios de carga útil do Japão, a economia que estava crescendo mais rápido no mundo.
E assim começou a relação comercial transpacífica para valer.
Sete décadas de evolução
Uma relação precipitada por uma guerra que acabou se tornando a base do que hoje é o sistema de comércio internacional.
Atualmente, toda a gestão do transporte marítimo é feita a partir de computadores, que controlam cada um dos contêineres que se movimentam por meio de um sistema logístico global.
Os contêineres refrigerados são colocados no casco, onde há eletricidade e monitores de temperatura, e os mais pesados no fundo.
E enquanto os guindastes carregam o navio, vão descarregando outros contêineres.
“É claro que nem todo mundo desfruta dos benefícios dessa revolução”, disse Tim Harford, um dos autores da série da BBC “50 Things That Made the Modern Economy”.
Muitos portos em países mais pobres, como os da África Subsaariana, se assemelham aos de Nova York da década de 1950.
No entanto, dadas estas exceções, as mercadorias agora podem ser transportadas de forma mais rápida e barata para um número cada vez maior de destinos.
“E isso acontece, em grande parte, graças ao contêiner”, finaliza Harford.
Quem foi Malcom McLean
Malcolm Purcell McLean (14 de novembro de 1913 – 25 de maio de 2001; mais tarde conhecido como Malcom McLean) foi um empresário norte-americano. Ele foi um empresário do setor de transportes que desenvolveu o moderno contêiner intermodal, que revolucionou o transporte e o comércio internacional na segunda metade do século XX. A conteinerização levou a uma redução significativa no custo de transporte de carga, eliminando a necessidade de manuseio repetido de peças individuais de carga, e também melhorou a confiabilidade, reduziu o roubo de carga e cortou os custos de estoque ao encurtar o tempo de trânsito.
Juventude
McLean nasceu em Maxton, Carolina do Norte em 1913. Seu primeiro nome foi originalmente escrito Malcolm, embora ele tenha usado Malcom mais tarde.
Em 1935, quando ele concluiu o ensino médio em Winston-Salem, sua família não tinha dinheiro suficiente para mandá-lo para a faculdade, mas havia o suficiente para Malcolm comprar um caminhão usado.
No mesmo ano, McLean, sua irmã Clara McLean e seu irmão Jim McLean fundaram a McLean Trucking Co.[1] Com sede em Red Springs, Carolina do Norte, a McLean Trucking começou transportando barris de tabaco vazios, com Malcolm como um dos motoristas.
Morte
McLean morreu em sua casa no East Side de Manhattan em 25 de maio de 2001, aos 87 anos, de insuficiência cardíaca
Em um editorial logo após sua morte, o Baltimore Sun afirmou que “ele é classificado ao lado de Robert Fulton como o maior revolucionário da história do comércio marítimo”. A revista Forbes chamou McLean de “um dos poucos homens que mudaram o mundo”.
Na manhã do funeral de McLean, navios de contêineres de todo o mundo sopraram seus apitos em sua homenagem.
*Com informações BBC | Foto de capa colorizada por IA pelo Agronews.
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