A convite da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), representantes dos 13 laboratórios de classificação de algodão por HVI (High Volume Instrument), que atendem aos produtores brasileiros, participaram, nos dias 12 e 13 de junho, de um workshop com um dos mais respeitados especialistas em classificação de algodão do mundo, Axel Drieling, do Centro Global de Testagem e Pesquisa do Algodão (ICA Bremen), instituição de referência mundial que congrega o Faserinstitut Bremen, o Bremen Fibre Institute (FIBRE) e o Bremer Baumwollboerse (BBB). A oficina encerra a temporada de uma semana de Drieling no Brasil, que incluiu uma imersão no Centro Brasileiro de Referência em Análise de Algodão (CBRA) da Abrapa, e faz parte dos preparativos da entidade para a futura certificação internacional do seu laboratório de referência.
O objetivo da Abrapa é, tendo como balizador o CBRA, harmonizar os resultados em todos os laboratórios de classificação do Brasil, como parte do seu programa de qualidade Standard Brasil HVI – SBRHVI. A classificação de algodão fidedigna serve de parâmetro tanto para os contratos de comercialização da pluma dentro e fora do Brasil, como nas arbitragens de contenciosos, além de servir de referência em diversas etapas da cadeia produtiva, desde a remuneração do cotonicultor, que pode ser melhor pela qualidade do seu algodão, até o beneficiamento, e a indústria de fiação e tecelagem.
Drieling afirma ter ficado impressionado com o que viu no CBRA. “É evidente que houve um planejamento detalhado por trás daquela estrutura, com atenção a detalhes técnicos, como isolamento térmico, dutos de ar condicionado e isolamento da sala de equipamentos. Tudo foi concebido de maneira muito cuidadosa”, afirma o especialista, ressaltando que esse cuidado faz com que o CBRA se torne um exemplo para os outros laboratórios do Brasil e também um parâmetro de boas práticas para aqueles interessados em comprar o algodão brasileiro. “Se os compradores tiverem chance de conhecer o nível de excelência que este laboratório alcança, isso pesará muito sobre a sua opinião”, disse.
Processo complexo
Inaugurado em dezembro de 2016, com capacidade para o equivalente ao dobro da safra brasileira de algodão em curso, estimada em 1,5 milhão de toneladas, o CBRA foi planejado para a conquista da certificação internacional. O processo, segundo Axel Drieling não é fácil, pois envolve testes intensos e diversas etapas. “Só certificamos os laboratórios muito bons”, lembra Drieling. O processo, que começa com o pedido do laboratório que deseja a certificação, inclui questionários, auditorias presenciais pela parte do ICA Bremen – instituição certificadora – pela análise dos relatórios dos auditores e da documentação, por um comitê em Bremen, além da participação do laboratório requerente em quatro rodadas internacionais de julgamento.
“As rodadas do CSITC (Comercial Standardization of Instrument Testing of Cotton) acontecem ao longo de um ano. O CBRA já participou da primeira, em janeiro, participará de outra em junho, e, ainda que a auditoria possa acontecer antes do final de todas elas, a avaliação definitiva acontecerá apenas após as quatro rodadas de julgamento. Supondo que a Abrapa entre com o pedido de certificação no segundo semestre, já tendo participado da rodada de janeiro, podemos pensar no processo de auditoria para a certificação para o primeiro semestre de 2018”, conjectura.
A Abrapa representa 99% dos cotonicultores do Brasil e o CBRA é voltado à parametrização dos laboratórios que atendem a esses produtores e aceitam participar do programa. A estimativa é de analise de 1% da produção brasileira a cada safra. “A harmonia entre os resultados terá como ‘diapasão’ o laboratório central, o que justifica os investimentos da Abrapa na qualificação desses laboratórios”, explica o gestor do Programa de Qualidade da Abrapa, Edson Mizoguchi.
Logística reavaliada
A vinda de Axel Drieling para o Brasil e os três dias de imersão no CBRA resultou em uma alteração significativa da logística de checagem dos fardos. Antes, os laboratórios precisavam passar a amostra-padrão produzida pelo CBRA pelas suas máquinas HVI a cada 100 fardos analisados e verificar se os índices aferidos anteriormente batem com os mesmos da amostra oficial. O modelo foi repensado e se chegou à conclusão de que o melhor será a inserção do padrão a cada 200 análises, o que resulta em quatro testes sobre a mesma amostra.
“O CBRA somente terá de fazer metade da quantidade de amostras e pode intensificar outros testes, sem perder a eficiência, e otimizar seu espaço físico. Essa mudança na logística foi resultado de três dias de discussões intensas que envolveram, além de mim, a equipe da Abrapa e do CBRA, além dos estatísticos que a associação contratou para ajudar na avaliação dos dados para concluir o que era desejável e o que era viável. Não foi algo aleatório”, conclui. O workshop terminou com a visita dos representantes dos laboratórios e do especialista alemão à estrutura do CBRA.
De acordo com o presidente da Abrapa, Arlindo de Azevedo Moura, embora a padronização do algodão do Brasil seja mantida pela iniciativa privada, o objetivo da Associação é manter o mesmo nível dos centros internacionais, cuja gestão é pública. “A ideia de tomar para nós, cotonicultores, a responsabilidade de criar um centro de referência no Brasil surgiu das necessidades do dia a dia em vários âmbitos, e prevê a celeridade necessária e a fidedignidade do processo, que é complexo e caro para ser assumido pelo Governo Federal. Viajamos mundo afora promovendo o algodão do Brasil e sempre nos preocupou a questão da imagem do país em certificação. Estamos investindo muito nisso, porque pretendemos ser classificados pelas melhores instituições do mundo. Nessa visita, em três dias, entendemos que poderíamos fazer algumas mudanças operacionais e otimizar o processo e efetivamos as alterações”, diz Arlindo Moura.