A colheita da safra de algodão no Brasil em 2016/17 ainda não chegou à metade dos seus 926 mil hectares, mas impressionou os visitantes estrangeiros que, a convite da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa)
Conheceram na última semana, entre os dias 9 e 14 de julho, algumas das mais representativas etapas da cadeia produtiva da fibra nos três maiores estados cotonicultores do país, em ordem decrescente de tamanho, Mato Grosso, Bahia e Goiás. A Missão Compradores é uma iniciativa implementada pela Abrapa em 2015, que tem por objetivo promover o algodão brasileiro e prospectar negócios no mercado internacional. Nesta edição, integraram a expedição 15 representantes de indústrias e cinco tradings, de sete países – Peru, Bangladesh, Paquistão, China, Turquia, Coreia do Sul e Índia. Majoritariamente asiáticos, eles fazem parte dos dez maiores compradores do algodão brasileiro. Cinco tradings que atuam no Brasil também assinam a expedição, Ecom, Reinhart, Dreyfus, Cofco e Cargill. Em cada um dos estados visitados, a Abrapa conta com a parceria das associações estaduais, a Abapa, na Bahia, a Agopa, em Goiás, e a Ampa, no Mato Grosso.
Muitos dos visitantes vieram pela primeira vez, e se surpreenderam com a magnitude dos sistemas produtivos, a tecnologia investida pelos produtores brasileiros, e as vastas lavouras do cerrado, bem diferentes do sistema familiar que caracteriza gigantes produtores como a China e a Índia. Veteranos, sobretudo representantes das tradings, destacaram a retomada dos altos níveis de produtividade e qualidade na safra que está sendo colhida, em função da volta à normalidade do clima. A expectativa dos cotonicultores é colher, nesse ciclo, 1,5 milhão de toneladas de pluma, o que representa 20% a mais de produção ante a safra 2015/16, mesmo com a redução de área de 4%.
Para o trader Richard Pollard, da Ecom, o que mais chamou sua atenção este ano foi o reflexo da melhoria do clima sobre as lavouras e no ânimo dos cotonicultores. Ele destaca a importância da Missão para pôr os compradores em contato com uma realidade totalmente diversa. “O Brasil é único, e os investimentos aqui são muito altos. É difícil para um gerente de fiação em Taiwan, na China ou no Paquistão visualizar quão diferentes e profissionais são as operações brasileiras em produção de algodão, até que eles venham para o Brasil e vejam por eles mesmos”, disse.
Maqboll Alam Baig, gerente de compras da Interloop Limited, do Paquistão, foi um desses visitantes de primeira vez. Após conhecer lavouras, beneficiadora e os laboratórios de classificação de fibra por HVI nos três estados, ele se disse muito confortável em negociar algodão com o Brasil. “Ficamos muito satisfeitos com o convite da Abrapa. Pudemos ver o quanto o Brasil está investindo no desenvolvimento da cotonicultura e melhorando a qualidade da sua fibra”, afirmou.
O diretor geral de compras da fiação coreana Kukil Spinning, Hyun Seok Kim, já havia estado no Brasil por duas vezes. “Mas isso foi há muito tempo, quando o país começou a exportar algodão. Hoje, posso dizer que o Brasil é muito bom em qualidade e, por isso, os preços se comparam ao do algodão americano. Estamos muito satisfeitos com a qualidade de vocês”, afirmou.
Pela primeira vez visitando fazendas no país, Babul Chandra Nandi, da Rising Spinning & Rising Industries de Bangladesh, diz que a companhia já era compradora do algodão brasileiro, e vai incrementar o volume de compras. “Esse tour está sendo muito educativo para nós. Bangladesh é um grande importador e é bom ver a realidade de onde compramos”, disse.
Mercado em expansão
O Brasil deve exportar em torno de 610 mil toneladas de pluma em 2017, mas a liberação dos estoques de reserva que vinham sendo mantidos pela China, e que, segundo o mercado, eram suficientes para suprir por um ano a demanda do país, abre espaço para uma presença ainda mais robusta do algodão brasileiro. Segundo Robin Pigot, da Cargill, a grande mudança no mercado asiático deverá ser protagonizada pela China, com o fim do programa de estoque que o governo chinês mantém para a proteção da indústria local. “Esse programa chegará ao fim no ano-safra 2017/18 e a China terá de recuar e voltar a importar. O país importou em torno de 4,5 milhões de fardos no ano passado e deverá comprar entre 10 e 15 milhões de fardos em 2019/20. Assim sendo, poderá facilmente haver um crescimento entre seis e dez milhões de fardos na demanda de importação chinesa. Eu acredito que três milhões de fardos ou mais poderão ser supridos pelo Brasil, se o país produzir mais”, prevê.
Quinta marcha
Durante a missão, em diversos momentos, os visitantes apontaram a abundância de água e a diversidade entre os polos produtores do Brasil, como um trunfo do país frente a adversários como a Austrália, e se disseram impressionados com a evolução da cotonicultura nacional. “Todo mundo fala muito do algodão australiano, mas o que as pessoas muitas vezes não mencionam é que os australianos dependem da água. Se tem uma seca, acaba a produção deles. Esse é um problema que não existe no Brasil. É um player importante, que não pode ser ignorado. Tudo depende do preço, mas o Brasil pode vender a sua produção na segunda metade do ano, e o segundo semestre é muito importante. Antes, nós tínhamos o algodão africano, que era muito forte o ano inteiro. Agora, ele acaba no mês de julho, e é isso que eu explico para todo o pessoal do sudeste asiático está viajando comigo. Outro aspecto muito importante é a reputação o Brasil conquistou como um fornecedor que cumpre os seus contratos”, diz Danny Van Namen, vice presidente da Reinhart para o Sul da Ásia. “Estive muitas vezes no Brasil, inclusive dez ou quinze anos atrás, quando o país era um importador de algodão. Hoje, está na ‘quinta marcha’ e é incrível o que está acontecendo aqui. Viajo para muitos países produtores de algodão pelo mundo afora e o que vejo no Brasil excede as expectativas”, conclui.
Missão cumprida
Para o presidente da Abrapa, Arlindo de Azevedo Moura, a cada ano, reforça-se a certeza de que a iniciativa é importante e traz reflexos diretos nos negócios brasileiros com algodão. “Precisamos levar cada vez mais longe a mensagem de que somos não apenas um grande produtor, mas um fornecedor de algodão de qualidade, produzido em modos sustentáveis tanto do ponto de vista econômico, quanto social e ambiental. Somos o maior produtor de algodão licenciado pela Better Cotton Iniciative (BCI) do mundo, com 71% de certificação da nossa safra, e temos o nosso programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR), que excede em rigor a certificação internacional e hoje já é adotado por 81% dos cotonicultores brasileiros. Mas, para entender tudo isso, quando se está do outro lado do mundo e do outro lado do balcão, nem sempre é fácil. Às vezes é preciso ver de perto para crer”, diz o presidente da Abrapa.
Na Bahia, os visitantes conheceram a Fazenda Busato I, a beneficiadora Warpol, ambas do Grupo Busato, o pátio de armazenamento da trading Ecom e o Laboratório de Análise de Fibra da Abapa. Em Goiás, estiveram no Centro Brasileiro de Referência em Análise de Algodão (CBRA), da Abrapa, na Fazenda Pamplona, do Grupo SLC, e no Laboratório de HVI da Agopa. Em Mato Grosso, o grupo conheceu a Fazenda Cidade Verde (Grupo WDF Agro), as Fazendas Santo Antonio e Philadelphia, ambas do Grupo Bom Futuro, o laboratório de HVI da Unicotton, e visitou a “Expoverde”. Ainda no Mato Grosso, os visitantes estiveram no laboratório de HVI e na fiação da Cooperfibra, assim como na beneficiadora da Cooperbem.
Após a etapa de visitas técnicas, os integrantes da Missão Compradores 2017 encerraram a agenda na Chapada dos Guimarães (MT), onde o grupo participou do XVI Anea Cotton Dinner, promovido pela Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), no dia 14 de julho, no Malai Manso Resort.
Fonte: Abrapa