A baixa no ciclo bienal, quando a safra é naturalmente menor que a anterior, e um longo período de secas, que levou os estoques do país a caírem, já afetaram significativamente a cafeicultura brasileira
Mas agora os produtores estão enfrentando um problema ainda mais devastador, que pode reduzir substancialmente a produção da cultura cafeeira: 2017 já registra o pior nível de infestação por broca-do-café dos últimos anos.
Segundo Júlio Cesar de Souza, entomologista da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), os ataques dessa praga apareceram em áreas que respondem por cerca de 50% da safra nacional, com danos estimados entre 5% e 30% dos grãos de café verde.
“Já estamos buscando reverter essa situação por meio de pesquisa”, informa.
De acordo com ele, as infestações no sul de Minas, onde há maior concentração da produção cafeeira, são raras e que a última incidência da praga havia sido registrada em 2010, devido às chuvas no período de entressafra.
RESPONSABILIDADE
Diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Nathan Herszkowicz afirma que um dos principais responsáveis pelo cenário atual do café está ligado à norma RDC 14, da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), que proibiu, no ano de 2013, o uso do endosulfan, princípio ativo eficaz no controle da broca-do-café.
“Após essa proibição, as lavouras foram muito afetadas por essa praga, principalmente na região do Cerrado e Sul de Minas Gerais, maior produtor de café do Brasil, com cerca de 50% do parque cafeeiro e do volume total da produção nacional do grão”, informa.
Os produtores, além disso, também enfrentam um clima adverso e a fadiga das plantas, após uma colheita recorde. Conforme Herszkowicz, o governo brasileiro já esperava uma queda de 11% na produção de café neste ano, antes mesmo de o problema com a praga surgir em território nacional.
Em sua opinião, a incidência da broca, os fatores climáticos e a fadiga das plantas “podem causar um prejuízo enorme e, talvez, até mesmo insuportável para a cafeicultura nacional”.
“Como a broca diminui o valor de venda dos grãos, se nossa produção ficar conhecida como vítima de uma infestação dessa praga, vamos ter problemas sérios de vendas, até para a exportação, diminuindo o valor do café brasileiro e reduzindo a oferta de grãos de melhor qualidade que o mercado mundial precisa e paga”, alerta o executivo.
RECOMENDAÇÕES
De acordo com ele, a Abic recomenda que os industriais de café só aceitem lotes de café comprados com, no máximo, 5% de broca.
“Hoje, o mercado traz lotes com níveis de broca muito superiores a isso, mas o uso de café nessas condições submete a indústria a ficar irregular em relação a norma RDC14 da Anvisa”, observa Herszkowicz, complementando que isso implicaria em autuações e notificações de irregularidade, o que causaria danos ainda mais sérios à cafeicultura brasileira.
Fonte: SNA/SP