As prisões dos irmãos Batista, proprietários da holding J&F e do grupo frigorífico JBS, silenciaram agentes do mercado de carne bovina em Mato Grosso
No Estado que detém o maior rebanho bovino de corte do Brasil (cerca de 29 milhões de cabeças) e onde o grupo empresarial possui o maior número de frigoríficos do país, os negócios na pecuária de corte se mantiveram estáveis nesta quarta-feira (13). O preço da arroba do boi estava cotado a R$ 132,59 (à vista) nesta quarta-feira (13), estável em relação ao aos R$ 132,96 de sexta-feira (8).
Ao todo, a companhia mantém 18 frigoríficos no território mato-grossense, dos quais 7 estão fechados. O número de plantas da JBS em Mato Grosso equivale a 40,9% do total de unidades aptas à exportação, que somam 44, segundo levantado do Sindicato das Indústrias Frigoríficas (Sindifrigo/MT). Na capital mato-grossense, a Âmbar Energia, uma das empresas da J&F, administra a Usina Governador Mário Covas (Termelétrica de Cuiabá), desde novembro de 2015.
Na manhã desta quarta-feira (13), a Polícia Federal prendeu o empresário Wesley Batista, irmão de Joesley Batista, detido desde domingo (10) por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin. Os 2 são donos da multinacional de carnes JBS. O episódio refletiu na cotação das ações da companhia, que desvalorizaram.
As ações contra os irmãos Batista fazem parte da 2ª fase da Operação Tendão de Aquiles. Os mandados foram expedidos pela 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo, a pedido da Polícia Federal, que investiga o uso indevido de informações privilegiadas em transações no mercado financeiro entre 24 de abril e 17 de maio deste ano. No período foram divulgadas informações relacionadas a acordo de colaboração premiada firmado pela J&F com a Procuradoria-Geral da República (PGR).
A investigação apura ordens de venda de ações de emissão da JBS S/A na Bolsa de Valores pela empresa controladora, a FB Participações S/A, e a compra dessas ações em mercado, por parte da JBS. Com as irregularidades, o mercado era manipulado, fazendo com que os acionistas absorvessem parte do prejuízo gerado pela baixa das ações. Outra situação foi a intensa compra de contratos de derivativos de dólares pela JBS S/A, em desacordo com a movimentação usual da empresa, que se favoreceu com a alta da moeda norte-americana após o dia 17.
Os suspeitos poderão responder por crime de uso de informação relevante, ainda não divulgada ao mercado, para propiciar vantagem indevida com valores mobiliários. As penas variam de um a cinco anos de prisão e multa de até três vezes o valor da vantagem ilícita obtida.
Voltando ao mercado da pecuária, meses atrás, após ser deflagrada pela Polícia Federal a Operação Carne Fraca, a direção do grupo JBS suspendeu temporariamente a aquisição de bovinos e abates em algumas unidades do Estado. Os pagamentos aos pecuaristas que vendiam o gado ao grupo frigorífico também deixaram de ser à vista e passaram a ser realizados no prazo de 30 dias. Esta situação ainda se mantém. A Operação Carne Fraca foi desencadeada após denúncias de corrupção e fraudes na emissão de licenças sanitárias para frigoríficos, inclusive da JBS. Além disso, desde que Joesley e Wesley Batista firmaram acordo de colaboração premiada com a PGR, a companhia passou a executar um programa de desinvestimentos. Neste processo se desfez de suas operações de carne bovina na Argentina, Paraguai e Uruguai. “Mas essas grandes empresas mantêm uma gestão muito organizada, em diversos canais e níveis de controle. Então, as operações continuam funcionando. Acredito que manterão os contratos estabelecidos e permanecerão atuando normalmente”, avalia o economista especializado em Comércio Exterior, Vítor Galesso. Para ele, os fatos envolvendo os irmãos empresários poderão refletir nas decisões estratégicas futuras da companhia. “Podem mudar e até melhorar”, pondera. O problema surgirá se persistir uma situação de insegurança e de vácuo nas decisões. Para ele, o mercado de carnes acaba afetado por causa da hegemonia da companhia no setor.
Galesso avalia, ainda, que os preços pegos ao pecuarista pela arroba do gado se manterão. “Entendo que a alta na cotação da arroba é mais reflexo da seca, em conjunto com um certo grau de recuperação do consumo”. De acordo com o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), na última semana os produtores resistiram mais em entregar bovinos e com isso os preços da arroba do gado permaneceu valorizada. A alta semanal para o boi gordo foi de 4,26%, cotado a R$ 131,20 a arroba.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) informou que não se manifestará sobre “desdobramentos políticos de grupos empresariais que atuam na cadeia produtiva da pecuária de corte”. A direção do Sindifrigo/MT também se absteve de comentar a prisão dos diretores da JBS e os efeitos no mercado da carne.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) emitiu nota à imprensa na qual defende a abertura de processo seletivo para escolha de um novo presidente para a JBS. Neste sentido, o Conselho de Administração da JBS é a instância adequada, afirma em trecho do comunicado.
O BNDES é detentor de 21,3% do capital da JBS por meio de sua subsidiária de participações, a BNDESPar. “Independentemente do ocorrido nesta quarta-feira (13), o BNDES mantém sua posição em relação à realização da Assembleia Geral Extraordinária (AGE) para deliberação acerca das medidas a serem tomadas pela companhia na defesa dos seus direitos e interesses com relação às responsabilidades por prejuízos causados por administradores, ex-administradores e controladores envolvidos em atos ilícitos por eles já confessados”, prossegue no documento enviado à imprensa. Informa ainda que recorreu da decisão judicial que suspendeu a realização da assembleia por 15 dias no último dia 1º de setembro. “O Banco entende que a assembleia deve acontecer o quanto antes e sem o conflito de interesses que seria caracterizado pelo voto dos controladores”.
Após a prisão do diretor-presidente da JBS, Wesley Batista, a companhia emitiu comunicado ao mercado em geral e acionistas. Limitou-se a informar que não teve acesso à íntegra da decisão que culminou no mandado de prisão expedido pela 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo e que manterá seus acionistas e o mercado devidamente informados acerca do tema.
Em nota, pela manhã, o advogado dos irmãos Batista, Pierpaolo Cruz Bottini, qualificou a prisão dos irmãos Batista no inquérito de insider information como “injusta, absurda e lamentável”. Mais tarde, uma nova nota foi divulgada, informando que ao ser apresentado ao juiz nesta quarta-feira (13/09), após ser preso, o empresário Wesley Batista foi indagado se saberia qual a razão de sua prisão, “ao que respondeu que começa a acreditar que o único erro que cometeu foi fazer a colaboração premiada”. Segundo a defesa do empresário, a prisão é baseada em elementos que comprovam a inocência dos acusados e em documentos entregues à Justiça pelos próprios colaboradores, sem qualquer fato novo. “A investigação corre há meses, com plena participação dos investigados. Não há um elemento que sustente essa prisão, que além de ilegal e arbitrária, coloca em descrédito o instituto da colaboração”, sustenta o advogado Pierpaolo Cruz Bottini.
Fonte: Acrimat