Uma das maiores empresas de alimentação do mundo, a JBS tem presença dominante no mercado de abate de bovinos no País
No entanto, ainda na quarta-feira, logo após a prisão do presidente da companhia, Wesley Batista, a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) foi informada por produtores que os compradores de gado da companhia haviam comunicado que as aquisições de animais estavam suspensas. O Estado é o maior em abates no País. A situação foi mantida ontem. A empresa teria prometido regularizar hoje a questão. A associação informou que cobrou uma posição oficial da JBS, sem sucesso.
A “parada estratégica” nesse período de indefinição é natural, segundo o vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Pedro de Camargo Neto, até porque, em última instância, a ordem de compra de gado vinha de Wesley. Camargo Neto disse esperar que a situação se resolva nos próximos dias e não vê motivo para um novo pânico no mercado, como o que tomou conta dos pecuaristas na época da divulgação do acordo de leniência dos irmãos Batista com o Ministério Público Federal (MPF), em maio.
Na época da divulgação da delação, a JBS ainda não havia renegociado a dívida com os bancos – a empresa alongou prazos para débitos de quase R$ 20 bilhões – e se especulava que a companhia pudesse entrar em recuperação judicial. Agora, a situação é vista de forma diferente.
A série de vendas de ativos feita pela J&F, que controla o grupo de alimentos, veio para tranquilizar o setor sobre a capacidade de pagamento das empresas que pertencem ao grupo. Entre os negócios de que a J&F se desfez, estão a Alpargatas (dona da Havaianas) e a Eldorado Brasil (de celulose e papel). Apesar das vendas de ativos e renegociações com bancos, a JBS ainda contabiliza dívida bruta de cerca de R$ 60 bilhões.
No início deste ano, a capacidade de abate da companhia era de cerca de 45 mil cabeças de gado por dia. O domínio da JBS no mercado nacional era de 20%, mas subia para cerca de 40% no Mato Grosso do Sul e 50% no Mato Grosso. Não existem dados mais recentes sobre a capacidade de abate da empresa.
Nos últimos meses, pecuaristas vinham se movimentando para reduzir o domínio da JBS no Mato Grosso. Um grupo de produtores anunciou, em junho, a formação de cooperativas para reativar o abate em 15 frigoríficos no Estado.
Bancos: Ontem, durante o evento Empresas Mais, do Estadão, o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, afirmou que as prisões dos irmãos Batista não afetam a percepção de risco da companhia e que, por isso, não é necessário, neste momento, incluir as dívidas da companhia nas provisões para devedores duvidosos.
“Os bancos prorrogaram mais de 90% do crédito de curto prazo da empresa. O relacionamento dos bancos é com a pessoa jurídica, com a administração, e não com a pessoa física”, disse Trabuco. “A empresa tem um fluxo (de caixa)”, acrescentou. Trabuco explicou que as prisões não ampliam o risco da JBS porque a renegociação de dívidas da empresa foi feita com base em aumento de garantias. Sobre eventual impacto da delação no acordo da leniência fechado pela holding J&F, o executivo disse que não tinha condições de comentar.
No mesmo evento, o vice-presidente do Banco do Brasil, Alberto Monteiro, também afirmou que o acordo de renegociação está mantido e também negou incluir o valor na conta de provisões – o BB participou do mesmo “pacote” de renegociação de débitos da JBS, no valor de R$ 17 bilhões, que incluiu também Bradesco, Caixa, Santander, HSBC, Citi e outros bancos estrangeiros. O Itaú fez uma renegociação separada, com débitos de R$ 1,5 bilhão.
Procurada, a JBS não quis comentar a interrupção nas compras de gado.
Fonte: Estado de São Paulo