Preços baixos do açúcar no mercado internacional e mudanças na tributação de combustíveis no Brasil têm dado força ao etanol no centro-sul do país, cuja produção no centro-sul pode surpreender no restante da safra 2017/18 e ser até 1 bilhão de litros maior do que a inicialmente prevista, segundo especialistas ouvidos pela Reuters
“Há um inversão de tendência. Como a safra deste ano deve ser menor e terminar até mais cedo, pelo menos uma quinzena antes, a tendência é mesmo se produzir mais etanol, pois o mercado está abastecido com amplos estoques de açúcar”, resumiu o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e diretor da consultoria Canaplan, Luiz Carlos Corrêa Carvalho.
Pelos seus cálculos, a produção de etanol no centro-sul no acumulado da temporada, que se encerra oficialmente em março do próximo ano, pode ser em torno de 1 bilhão de litros maior ante os 23,8 bilhões de litros esperados anteriormente, com usinas destinando mais cana para a fabricação do biocombustível do que o previsto, em meio a preços deprimidos do açúcar.
As cotações do açúcar bruto na bolsa ICE estão em torno de 14 centavos de dólar por libra-peso, cerca de um terço inferior ao valor registrado há um ano, com o mercado global do adoçante passando a um superávit no ciclo 2017/18.
O total de etanol produzido, portanto, ficaria mais próximo, porém ainda abaixo, dos 25,6 bilhão de litros de 2016/17, segundo a Canaplan, que deverá realizar sua revisão oficial de safra em 17 de outubro.
A maior alocação de cana para o biocombustível se refletiria, consequentemente, em uma fabricação de açúcar entre 500 mil e 1 milhão de toneladas inferior em relação aos 34 milhões esperados anteriormente, acrescentou Carvalho.
Tal movimento entre as usinas do centro-sul, que responde por mais de 90 por cento da safra de cana do Brasil, já vem sendo observado nas últimas quinzenas, apontam os relatórios da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), que, procurada pela Reuters, preferiu não comentar o assunto.
Ainda na primeira metade de agosto, a entidade já havia dito que a arbitragem se mostrava favorável ao etanol em razão do prolongado período de preços baixos do açúcar no exterior.
Na segunda quinzena do mês passado, quando a produção de etanol cresceu a um ritmo maior do que a moagem de cana, a Unica citou a demanda aquecida no mercado doméstico e a menor necessidade de fabricação de açúcar para cumprimentos de contratos pré-estabelecidos.
De acordo com o diretor da comercializadora Bioagência, Tarcilo Rodrigues, a demanda por etanol hidratado passou agora para cerca de 1,3 bilhão de litros por mês no centro-sul, ante aproximadamente 1,1 bilhão de litros anteriormente.
“E esse aumento ocorre com manutenção dos preços, porque a demanda está firme. Essa inversão de tendência no mix de produção é estrutural, consistente”, destacou.
FORÇA TRIBUTÁRIA
Outro fato é que o mercado de etanol no Brasil iniciou o segundo semestre revigorado por uma alteração na tributação de combustíveis, com o governo aplicando alíquotas maiores de PIS/Cofins sobre a gasolina do que sobre o etanol hidratado, seu concorrente direto.
Além disso, o Brasil definiu uma taxa de 20 por cento sobre importações de etanol, limitadas a uma cota trimestral de 150 milhões de litros ou 600 milhões de litros por ano, por um prazo de dois anos.
“Taxar a importação de etanol favorece a produção de etanol anidro para a entressafra, para se cumprir contratos”, explicou o analista, João Paulo Botelho, referindo-se ao biocombustível misturado em 27 por cento à gasolina e que é o mais comprado pelo Brasil no exterior.
Pelas projeções da Unica, principal associação do setor sucroenergético brasileiro, o centro-sul deve moer 585 milhões de toneladas de cana neste ano, queda de 3,65 por cento.
A produção de etanol deve recuar 3,71 por cento, para 24,7 bilhões de litros, e a de açúcar diminuir 1,2 por cento, para 35,2 milhões de toneladas. As estimativas são de abril.
Fonte: Reuters