O potencial do país em ser uma potência agro-ambiental foi destacado pelos participantes do painel organizado pela Centro de Estudo em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas.
De acordo com eles, o Brasil tem tudo para ser reconhecido mundialmente pela sua capacidade de conciliar a produção agropecuária com a preservação do meio ambiente, contribuindo não apenas para baixa emissão de carbono, mas também para uma agricultura carbono negativo.
Um painel realizado nesta quarta-feira, dia 15, no espaço Brasil na Conferência das Partes para Mudança do Clima (COP 23), em Bom (Alemanha), discutiu a competitividade da agricultura de baixa emissão de carbono no país. Representantes de instituições brasileiras abordaram os avanços do Plano ABC e os desafios ainda encontrados para expansão e reconhecimento interno e externo.
Avanços significativos já foram dados com o Plano ABC, Cadastro Ambiental Rural e o Código Florestal. Um exemplo é a adoção da integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) em 11,5 milhões de hectares, ultrapassando de maneira antecipada a meta voluntária estipulada pelo governo federal em 2009 para aumentar em 4 milhões a área com o sistema produtivo até 2020.
“O Brasil é um ator fundamental no equacionamento da segurança alimentar no mundo. Mas tem que fazer isso de forma sustentável. E a agricultura de baixo carbono é uma introdução muito importante nesse cenário. Uma adição. Nós já temos uma coisa muito boa e é fundamental que a gente continue progredindo, melhorando. A Embrapa tem feito um esforço extremamente relevante. Na verdade a Embrapa é uma das razões do sucesso da agropecuária brasileira e precisa continuar contribuindo”, destacou o embaixador e presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos (Apex-Brasil), Roberto Jaguaribe.
Para o embaixador, o Brasil precisa estar ainda mais presente nas grandes discussões sobre a agricultura no mundo e mostrar sua capacidade de produção sustentável.
“O Brasil tem uma percepção muito menos positiva do que a realidade produtiva brasileira. E a gente está fazendo um esforço para trabalhar na redução dessa distância. As demandas ambientais são todas extremamente relevantes, para não dizer fundamentais. Mas existe um componente demagógico que a gente precisa superar. Para isso é preciso engajar outros atores fora do país que tenham uma visão mais realista, mais racional, mais lúcida sobre a realidade brasileira”, disse o embaixador se referindo à interesses comerciais que são ocultados em demandas ambientais internacionais.
O pesquisador da Embrapa e presidente do Conselho Gestor da Rede ILPF, uma parceria público privada para fomento dos sistemas integrados de produção agropecuária, Renato Rodrigues, destaca a vanguarda do Brasil na produção sustentável quando comparado a outros países produtores de alimentos no mundo.
“O Brasil está muito à frente de todos os outros países, principalmente os grandes players da agricultura mundial, como Estados Unidos, Argentina e tantos outros. Nós temos uma tecnologia, um sistema de produção, uma política pública, instituições organizadas e articuladas buscando melhorar cada vez mais o sistema de produção. E é isso que a gente vem fazendo tanto pela Embrapa quanto pela Rede ILPF, buscando cada vez mais melhorar esse sistema de produção, oferecer mais benefícios ao produtor e também levar junto essa agenda ambiental”, afirmou.
Desafios
Para que o país seja devidamente reconhecido como uma potência agro-ambiental entretanto, ainda é preciso avançar na ampliação do crédito às tecnologias de baixa emissão de carbono, facilitando o acesso aos pequenos e médios produtores, além de fortalecer a assistência técnica no país.
Para os painelistas, um exemplo disso é a pequena participação do Programa ABC, linha de crédito para as tecnologias de baixa emissão de carbono, em relação ao total do Plano Safra. Porém, ressaltaram que as técnicas sustentáveis não são dependentes apenas da linha de crédito oficial.
“Nem só via crédito tem havido o crescimento da adoção dessas tecnologias”, ressaltou o pesquisador da GV Agro Ângelo Costa Gurgel.
Rede ILPF na COP
A Rede ILPF está participando da COP 23 divulgando a tecnologia de integração lavoura-pecuária- floresta (ILPF) e buscando junto a fundos internacionais apoio financeiro para a implantação de um projeto chamado “Programa de Segurança Alimentar e Nutricional, Valorização do Campo e Tecnificação da Agricultura Tropical: ILPF, a alternativa para a agricultura do amanhã”.
A proposta, elaborada pela Rede ILPF, prevê ações para os próximos dez anos e busca captar 1 bilhão de dólares junto a instituições internacionais.
O programa é composto por oito eixos que englobam desde ações para certificação de propriedades que adotem os sistemas ILPF até ações que fomentem a assistência técnica e incentivem a adoção da tecnologia. Também entram no programa ações de comunicação e de valorização da agricultura brasileira e a transferência de tecnologias de ILPF para a África, América Latina e Caribe.
A Rede ILPF é uma parceria público-privada criada em 2012 para fomentar a adoção dos sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta no país. Fazem parte atualmente da Rede além da Embrapa, a Cocamar, Dow Agrosciences, John Deere, Parker e Syngenta.
Por: Gabriel Faria (mtb 15.624/MG) – Embrapa Agrossilvipastoril