Muitos pecuaristas imaginam, erroneamente, que no período de chuvas (normalmente de outubro a março) o animal não precisa receber suplementação adequada.
Pelo contrário, como o pasto de melhor qualidade oferece condições para que o animal ganhe mais peso, suas exigências de minerais e vitaminas são aumentadas. Portanto, uma correta suplementação de mineral-vitamínico é o mínimo que se deve fazer nessa época. Além, é claro, de garantir disponibilidade de pasto.
A arte e a ciência de manejo do pastejo evoluíram muito ultimamente e, hoje, já se discute não só qual deve ser a quantidade total de massa de forragem disponível, mas também quanto dessa massa é potencialmente digestível e de que forma está disponível ao animal, uma vez que a estrutura do pasto e não somente sua quantidade/qualidade interfere no hábito de pastejo do bovino e, consequentemente, na sua capacidade de colheita do capim que será, em última instância, traduzida em ganho de peso.
Maximizando o valor econômico
Seja por questões mercadológicas (compra e venda de animais de acordo com oportunidades de mercado), de clima (precipitação, temperatura etc), disponibilidade e qualidade de mão de obra, infraestrutura disponível (divisões de pasto, aguadas, cochos etc), método de pastejo (contínuo ou rotacionado) etc, o manejo do pastejo está, na maioria das situações, um pouco aquém do ideal. Mas isso não significa que não se possa otimizar a produtividade, por animal e por área, maximizando o retorno econômico.
Sistemas intensivos
Em sistemas mais intensivos de produção, que se caracterizam por maior uso de insumos, com práticas de correção e adubação de pastagens implementadas de forma regular, associadas a manejo correto dos pastos, em que o ajuste da taxa de lotação é controlado com maior rigor de forma a se manter uma pressão de pastejo ótima, a forragem produzida e disponível ao animal certamente apresentará características nutricionais distintas de um pasto mantido e manejado sob um controle do manejador não tão intenso.
Plano nutricional
Dessa forma, o delineamento do plano nutricional a ser implementado (suplementação energética ou proteica, por exemplo) deve levar em consideração as características do sistema de produção, principalmente no que se refere à forma como a pastagem é manejada e o capim oferecido ao animal, como também de outros fatores primordiais, como meta de desempenho almejada, objetivos do sistema produtivo, categoria animal, capacidade de investimento, disponibilidade de infraestrutura e de mão de obra etc.
Suplementação energética
Pastos adubados e submetidos ao manejo preconizado nas alturas ideais de entrada e resíduo pós-pastejo permitem elevadas taxas de ganho de peso, sendo energia, muito provavelmente, o nutriente mais limitante para se maximizar o ganho de peso. Nessa cirscunstância, a suplementação energética é a mais indicada, sendo o nível de oferta de suplemento a ser fornecido dependente da taxa de ganho almejada, bem como da taxa de lotação, visto que por meio da suplementação e da exploração do efeito substitutivo do pasto por concentrado torna-se possível manipular a taxa de lotação de uma área de pastagem.
Uso de proteinado
Em condições médias, ou seja, que representam a grande maioria dos sistemas de produção de bovinos de corte no país, a pastagem tropical, mesmo durante o período das águas, pode não apresentar conteúdo de proteína su ciente para maximizar o ganho de peso. Assim, o uso de um proteinado durante o período das águas ajuda a eliminar a flutuação do teor de proteína bruta do pasto, mantendo o desempenho dos animais mais constante.
Nessas circunstâncias, portanto, o uso de suplementação proteica apresenta-se como uma grande oportunidade para maximizar o ganho por animal e por área. No entanto, caso o pecuarista não disponha de infraestrutura de cocho, ou em cenários em que a logística de distribuição do suplemento não seja favorável, ainda assim é possível explorar ganhos de peso superiores apenas pela dupla pasto + mineral de boa qualidade. Isso é possível a partir do uso de suplemento mineral aditivado, que nada mais é do que um sal mineral adicionado de um aditivo melhorador de desempenho.
Subindo-se a escada da intensificação e adotando-se suplementos proteicos de baixo/médio consumo (0,1 – 0,3 % do PV), os ganhos adicionais podem chegar a 130 – 220 g/animal/dia, otimizando o ambiente ruminal para maior digestibilidade da fração brosa (FDN) do capim, permitindo maior consumo pelo animal, o que dará suporte e maior ganho. Diferenciais de ganho de peso superiores a esse também podem ser obtidos, porém níveis maiores de oferta de concentrado a pasto passam a ser requeridos, situação em que haverá substituição de parte da forragem por suplemento.
Suplementação nas águas
Para se ter uma ideia da oportunidade em se maximizar o resultado econômico com a suplementação nas águas, fizemos uma simulação usando uma das ferramentas do portfólio de serviços que a Cargill Alimentos tem à disposição de seus clientes, que pode ser aplicada facilmente a vários sistemas de produção de bovinos criados a pasto no Brasil. Consideramos um garrote em recria, com peso de 250 kg na entrada das águas, dia 1o de novembro, a preço de mercado de R$ 1.300,00. Consideramos também o custo do pasto como sendo R$ 20,00/mês (equivalente ao aluguel de pasto), e computamos todos os demais custos (mão de obra, vacinas, vermífugos, frete, fornecimento do suplemento utilizado etc). Ajustamos os valores para mortalidade de 1%, e, então, incluímos os seguintes planos nutricionais:
Sal mineral 60 – Probeef 60: bastante usado em sistemas de recria a pasto nas águas, por ser de menor custo por cabeça
Sal aditivado com Flavomicima – linha Probeef Pasto Bom
Sal Proteinado – linha Probeef Proteinado 30, com consumo de 0.1 % do PV
Considerando-se também o custo de cada um desses produtos e os ganhos de peso esperados com o uso de cada linha, calculamos o lucro por animal no período, assumindo rendimento de carcaça de 50% e preço da arroba de R$ 140,00 (arroba de boi magro). O resultado é mostrado no gráfico abaixo:
Lucratividade (R$/boi) de diferentes alternativas tecnológicas de suplementação de garrotes em recria no período das águas
Conforme pode ser observado na figura, o uso de suplemento mineral aditivado ou de um proteinado de baixo consumo permitiria a obtenção de quase R$ 50,00 a mais por animal de lucro líquido, somente durante o período das águas. Se a análise for estendida para uma situação em que os animais são confinados no final das águas e na entrada da estação seca, o resultado seria ainda mais notável, uma vez que animais que entram no confinamento vindos de um melhor plano nutricional na recria tendem a ficar menos tempo no cocho para atingir peso de abate, se adaptam muito mais rápido à dieta, apresentam melhor rendimento de carcaça e, consequentemente, deixam mais dinheiro no bolso.
Por Pedro Veiga – SNA