A produção de leite está presente em 99% dos municípios brasileiros e só este percentual já mostra a dimensão da atividade que movimentou R$ 67 bilhões em 2016.
O Brasil é o quarto maior produtor do mundo – em 2016, foram produzidos 35 bilhões de litros -, e nos últimos cinco anos o setor leiteiro acumulou 78% de expansão de mercado. E este é apenas o começo de uma nova era, aponta o economista Paulo Martins, chefe-geral da Embrapa Gado de Leite. “A tecnologia vem revolucionando o agro como um todo, e também o leite. Como estamos falando de uma atividade intensiva em administração, o produtor precisa tomar muitas decisões ao longo do dia, e sua chance de errar é muito grande. Além disso, ele está inserido em um mercado que exige cada vez mais profissionalização e produção em escala, o que o leva, obrigatoriamente, a investir em pecuária de precisão”, descreve.
Antenados na imensidão de oportunidades que empresas da Europa, dos Estados Unidos e da América Latina já enxergaram no potencial de consumo que o país ainda tem, os empreendedores brasileiros se movimentam para oferecer ideias inovadoras baseadas em softwares web, aplicativos mobile e soluções em hardware, incluindo internet das coisas, para os diversos setores produtivos da cadeia do leite. Depois de enfrentarem mais de 80 concorrentes em uma disputa acirrada, dez startups de São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul terão a oportunidade de apresentar suas propostas a especialistas e investidores na final da segunda edição do Ideas for Milk, no dia 9 de dezembro, em Juiz de Fora (MG).
Oportunidade de negócios para investidores
Se para os empreendedores o desafio é uma oportunidade para entrar no mercado com o pé direito, para os investidores é a possibilidade de transformar, em pouco tempo, alguns milhares de reais em milhões. “Um evento como este é um campo fértil para quem quer acompanhar as novas tendências, e está em busca de startups em fase bem inicial, que ainda valem pouco diante do potencial que têm. Por exemplo, um investidor pode fechar negócio com uma empresa que hoje vale R$ 100 mil e em questão de um ano ver este valor passar para R$ 2 milhões”, observa Maikel Schiessl, diretor do comitê de AgTech da Associação Brasileira de Startups (ABStartups).
Ainda não existem muitos dados sobre a realidade das empresas brasileiras de tecnologia aplicada ao agronegócio. A informação oficial, do censo realizado em 2016 pela Esalq/USP e pela AgTech Garage, dá conta de que existam em torno de 100 startups neste segmento, mas Schiessl estima que este número já deve ter ultrapassado 500. Também não se sabe o faturamento, nem tampouco a quantidade de empregos gerados.
Por outro lado, considerando a significativa participação do agronegócio no PIB – no ano passado, o setor respondeu por 23% desta fatia -, a certeza que se tem, afirma o investidor e um dos parceiros do Ideas for Milk Cezar Taurion, é que “investir no agro é um negócio altamente rentável.” “Quando olhamos o PIB do país, vemos que o setor agropecuário é extremamente importante. Mas quando vamos à Associação Brasileira de Startups, observamos que o percentual de empresas que estão apostando neste segmento é muito pequeno. Fazendo esta conta, chegamos a um cenário bastante promissor. A pecuária leiteira, por exemplo, é uma atividade extremamente complexa, longa, e que demanda soluções inovadoras”, pontua o sócio e líder da prática de corporate ventures da Kick Ventures.
O consumo de leite no Brasil cresce, em média, 4% ao ano. E segundo o chefe-geral da Embrapa Gado de Leite, os grandes produtores, atentos a esta curva de ascensão, estão fazendo uma revolução silenciosa, aumentando a produtividade com foco no potencial de consumo da população. “Enquanto consumimos em torno de 170 litros por habitante/ano, nos países desenvolvidos o consumo médio chega a 270 litros de leite por habitante/ano. Para estimular um aumento de demanda, a atividade leiteira está caminhando rapidamente para um mundo digital, o 4.0. E com um detalhe. Tudo o que ouvimos sobre automação, internet das coisas, máquinas conversando entre si e gerando um problema ao tirar os empregos de pessoas no setor urbano-industrial, no caso do leite enxergamos como solução. Há um vazio muito grande gerado pela escassez de mão de obra, uma vez que os jovens estão optando pelas grandes cidades, e a máquina está chegando para ocupar este espaço, não para roubar vagas como tem acontecido na indústria”, contextualiza Martins.
Propostas e finalistas
As propostas deste ano que concorrem ao prêmio de R$ 20 mil vão desde soluções para o conforto animal a projetos de gestão de precisão, como um que desenvolveu um colar para as vacas onde ficam registradas todas as suas informações, e permite que seja feita uma rastreabilidade completa da sua vida, passando por sistemas de proteção que impedem fraudes no leite depois que ele sai da fazenda, e produtos que mostram quando o queijo está impróprio para o consumo. “Com o apoio de iniciativas como esta, o leite está deixando de ser o ‘patinho feio’, que tem baixa produtividade, não tem competitividade e não exporta, para fazer parte do padrão Brasil Agroexportador”, sinaliza o chefe-geral da Embrapa Gado de Leite.
Conheça a seleção de startups finalistas, listadas em ordem alfabética. A descrição foi enviada pelos participantes.
Farmin4Milk
Plataforma completa que auxilia o produtor a identificar o melhor momento para inseminação. Monitora o comportamento e a saúde dos animais, melhorando o resultado econômico da propriedade.
Dois Vizinhos (PR)
Medidor de leite embarcado informatizado com saca amostra proporcional para caminhão de coleta de leite
Mede, coleta e identifica amostras de leite, proporcionando precisão de volume e confiabilidade sobre a composição da matéria-prima. O sistema inovador de coleta de amostragem gerenciado por um software realiza a transferência dos dados em tempo real.
Caxias do Sul (RS)
MilkPlus
Plataforma de otimização de produtividade, qualidade e lucratividade para laticínios. Composta por dispositivos que resolvem problemas de rotas, rastreamento de viagens, medição de precisão, atividades de campo, gestão de qualidade, gestão de plataformas e pagamento de produtores.
Belo Horizonte (MG)
Mobimilk
Inovador conceito construtivo das salas de ordenha e de leite, desenvolvido em módulo tipo container, que chega pronto à propriedade. Basta conectar a um ponto de água e um ponto de energia para iniciar a ordenha, dispensando obras civis. Monitora a contagem de células somáticas (CCS) e sinaliza alta temperatura das vacas.
Canoas (RS)
Monitoramento, análise e automação de parâmetros referentes ao bem-estar animal
Tecnologia voltada ao bem-estar animal e ao aumento de produtividade. Mede as variáveis mais importantes do ambiente e gera relatórios personalizados. A solução tem potencial de aplicação de algoritmos de autoaprendizagem para cruzar dados com indicadores de produtividade em tempo real e direcionar a automação ao ponto ótimo operacional.
Castro (PR)
QualiSticker
Sensor aplicado a selo e/ou embalagem inteligente que, em contato com o queijo, é capaz informar se está fresco, por meio da mudança de cor. Trata-se de um material atóxico, biodegradável e de baixo custo, que pode ser aplicado nas etapas do processo de distribuição.
Belo Horizonte (MG)
Scanner Bovino
Plataforma de gestão zootécnica de rebanhos, intuitiva e interativa, capaz de proporcionar aumento da produtividade e eficiência do rebanho, por meio da identificação automatizada dos bovinos, aliada às boas práticas do manejo da pecuária de precisão. Soluciona o problema do elevado custo de identificação dos animais.
Juiz de Fora (MG)
SmartFarm – Tradutor de Vacas
Pacote tecnológico, composto por uma coleira de monitoramento capaz de captar o tempo de ruminação, atividade e ócio de cada animal, e software/aplicativo que alerta o produtor quando há variações comportamentais referente a bem-estar, saúde, cio e nutrição.
Santa Maria (RS)
Systech feeder – Nutrição de precisão em tempo real para bezerras leiteiras
Sistema integrado hardware/software que monitora em tempo real o consumo de concentrado pelas bezerras. Seu propósito é definir o momento do desaleitamento, otimizar tempo e mão de obra, promover ganho em desempenho e reduzir o custo alimentar com gerenciamento eficiente via dispositivos fixos e móveis.
Piracicaba (SP)
Zoograss, a sua ferramenta de campo
Aplicativo de fácil acesso voltado para a escolha de gramíneas que se adaptem à realidade da fazenda em que serão cultivadas. Auxilia no momento de escolha da forrageira, a partir das informações alimentadas pelo próprio produtor, como índice pluviométrico, informações acerca do solo e tipo de produção.
Uberaba (MG)
Sobre o Ideas for Milk
O Ideas for Milk busca desenvolver soluções digitais para os diversos setores produtivos da cadeia do leite – a mais extensa do agronegócio, presente em 99% dos municípios brasileiros e que emprega 4 milhões de pessoas, movimentando um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) do país. É uma competição nacional entre empreendedores que visa estimular ideias inovadoras de modelo de negócio, produto, processo ou serviço, baseadas em software web, aplicativo mobile e/ou solução em hardware, incluindo internet das coisas (IoT). As soluções devem promover a eficiência no setor lácteo.
O sucesso da primeira edição, em 2016, chamou a atenção de investidores do Sillicon Valley (EUA) e do governo da Índia – maior produtor mundial de leite – interessados em acompanhar o processo brasileiro de inclusão do agronegócio do leite, na indústria 4.0. Proposto pela Embrapa Gado de Leite, o Ideas for Milk tem como parceiros a Carrusca Innovation, o Agripoint, o Qranio e a Kick Ventures.
Também integra o programa do Ideas for Milk o Vacathon, um inédito hackathon rural que será disputado na sede e na fazenda da Embrapa Gado de Leite, em Coronel Pacheco (MG), com a participação de quase 20 universidades brasileiras. A lista das equipes participantes está disponível em www.ideasformilk.com.br/vacathon/conteudo/universidades-e-embaixadores. A final do Vacathon será no dia 10 de dezembro.
Por Embrapa Gado de Leite