O consumidor cuiabano pagou R$ 442,50 em julho para a compra da cesta básica, que considera 13 produtos essenciais. O valor representa aumento de 13,21% se comparado ao início do ano e 2,72% sobre junho. O movimento de alta nos preços no mês passado foi registrado em outras 22 das 27 capitais brasileiras que estão na Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, divulgada nesta quinta-feira (4), pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Para conseguir adquirir o básico, quem recebe 1 salário mínimo precisou trabalhar 110 horas e 38 minutos em Cuiabá, sendo que 54,66% do que recebeu foi comprometido com a alimentação. A dona de casa Terezinha Castanha, 59, relata que não tem diminuído o valor gasto com a alimentação, mas que o volume das compras diminuiu drasticamente nos últimos meses. “No básico não tem como mexer. Não dá para ficar sem o arroz, o feijão, a carne e os produtos de limpeza. Uma mistura diferente também é importante. O problema está na quantidade de produtos que a gente compra, cada vez menor”. Terezinha explica que para economizar tem dado preferência às promoções. “Agora tenho comprado fardo de arroz, feijão, açúcar e outros produtos que são possíveis estocar. A maioria desses produtos sustenta por até 2 meses”.
O empresário Kassio Rodrigo Catena, que é delegado da Associação dos Supermercados de Mato Grosso (Asmat) junto à Associação Brasileira de Supermercados (Abras), explica que a demanda no supermercado não diminuiu, apesar do aumento do valor dos produtos. “O dinheiro é o mesmo. Se o consumidor gastava uma média de R$ 500 com as compras do mês vai continuar gastando basicamente a mesma coisa, a diferença é a quantidade de produto que leva para casa. Se antes eram 10 itens agora são 8”, exemplifica.
Na capital mato-grossense, os alimentos que lideraram a majoração nos preços no mês passado foram o leite integral (28,89%), o feijão carioca (16,07%), a banana (R$ 12,46%), o arroz agulhinha (8,16%), o açúcar cristal (R$ 2,44%), a manteiga (1,92%), o café em pó (1,28%) e o pão francês (0,30%), como detalha a economista técnica do Dieese em Mato Grosso, Meiresângela Miranda Muniz. Houve recuo nos preços da batata (-17,07%), do tomate (-5,30%), do óleo de soja (-2,66%), da farinha de trigo (-1,95%) e da carne bovina – cortes de primeira (-1,14%).
“Para mim, a carne (bovina) continua cara. O feijão também. O leite ficou um absurdo e o café também está caríssimo. Já nem dá mais para servir cafezinho para as visitas”, desabafa a diarista Sandra Santana de Alencar, 47, que diz não saber mais o que fazer para economizar. “O tomate e a cebola, por exemplo, tiveram um aumento de preço que nunca mais reduziu. Antes, com R$ 100 eu comprava várias coisas. Esses dias fui ao mercado e voltei para casa com 4 sacolinhas. A cada ida ao supermercado levo um susto e retorno com menos produtos”.
Cuiabá ocupa a 7ª posição no ranking nacional de maior custo no conjunto de alimentos básicos. São Paulo está no topo da lista, com a cesta básica cotada a R$ 475,27 em julho, seguida por Porto Alegre (R$ 468,78), Rio de Janeiro (R$ 448,28), Brasília (R$ 447,36), Florianópolis (R$ 443,11) e Boa Vista (R$ 442,83).
Os menores preços foram percebidos em capitais do Norte e Nordeste, com destaque para Natal (R$ 362,63) e Rio Branco (R$ 371,94). Com relação aos reajustes mensais, as maiores altas foram observadas em Boa Vista (8,02%), João Pessoa (5,79%), Manaus (5,27%) e Maceió (4,50%). As retrações foram verificadas em Florianópolis (-4,35%), Belo Horizonte (-0,64%), Belém (-0,60%), Porto Velho (-0,56%) e Brasília (-0,23%).
O leite foi o produto que liderou a alta na cotação da cesta básica em julho, quando ficou mais caro em todas as 27 capitais brasileiras pesquisadas pelo Dieese. Cuiabá foi o local onde o produto apresentou a maior majoração mensal, de 28,89%. Conforme o levantamento do Departamento Intersindical, por meio da Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, o consumo médio de leite por trabalhador corresponde a 7,5 litros por mês e que exigiu, em julho, o desembolso de R$ 36,45, ante o gasto médio exigido em junho (R$ 28,28).
Além de Cuiabá, outras capitais que se destacaram pelo aumento mensal nos preços do alimento foram Teresina (21,75%) e Rio de Janeiro (17,49%). As menores taxas foram observadas em Macapá (3,57%), Aracaju (3,79%) e Manaus (3,86%). Conforme registra a economista do Dieese, Meiresângela Miranda Muniz, o valor do leite seguiu em alta em todas as cidades devido ao aumento dos custos de produção, que contribuíram para a diminuição da oferta num cenário de alta demanda.
Sobre a oferta e a demanda, os analistas do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) observam, no boletim mensal divulgado na segunda-feira (2), que o preço pago ao produtor aumentou 20% no 1º semestre deste ano, ante igual intervalo de 2015. Nos 6 primeiros meses do ano passado, o produtor recebeu, em média, 79 centavos por litro. Este ano, o valor médio repassado foi de R$ 95 centavos (litro). Por outro lado, a captação (de leite) reduziu 4% no mesmo período e sustentou os reajustes para cima.
“Essa redução na captação já era esperada, uma vez que, muitos produtores deixaram a atividade no ano passado, em virtude dos baixos preços pagos pela matéria-prima. Além disso, os que resistiram à crise no setor, diminuíram seu plantel, a fim de baixar os custos, e agora se têm uma queda na oferta de leite e derivados em geral. Portanto, espera-se para os próximos meses um novo momento para a cadeia de leite, com recuperações na margem do produtor, tendo em vista os altos custos de produção”, descreve um trecho do boletim do Imea.