Como a produção de grãos de leguminosas secas pode contribuir com a segurança alimentar global.
Não é novidade pra ninguém que os olhos do mundo estão voltados para nosso País como um celeiro, um grande fornecedor de alimentos. Isso porque, até 2050, quando seremos cerca de 10 bilhões, a produção de alimentos terá de aumentar em 70% para atender a essa demanda. E o Brasil tem papel importante neste processo, já que apresenta condições de crescimento e terras agricultáveis para aumentar sua produção em até 40%.
Hoje somos pioneiros na exportação de alguns produtos – soja, milho, laranja, café, açúcar, carne bovina – commodities agrícolas. Mas quando o assunto é comida no prato, será que o Brasil é capaz de produzir para os mercados interno e externo?
2016 foi eleito pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) o Ano Internacional das Leguminosas para chamar atenção à importância que esses alimentos têm em relação ao alto poder nutritivo e de seu papel para a segurança alimentar global. A produção de leguminosas secas, que contempla as culturas – ervilha, feijão, grão-de-bico e lentilha – no Brasil, com exceção do feijão-vagem, é suprida por importações. “Na minha opinião, isso se deve a três fatores – questão cultural – o feijão está diariamente no prato do brasileiro e os outros produtos ainda não fazem parte da dieta alimentar; falta de conhecimento e interesse do agricultor na produção destas leguminosas; e o preço destes alimentos para o consumidor final”, disse Warley Nascimento, pesquisador da Embrapa.
“Na década de 80, fomos grandes produtores de ervilha. Hoje, importar sai mais barato do que produzir aqui”, pondera o pesquisador. De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, nos últimos cinco anos, apesar de continuar importando esses produtos, observa-se uma variação de decréscimo nesta transação. Em 2011, a importação de ervilha foi de 47,39 toneladas e em 2015, de 41,53 toneladas; uma queda de 12,37%. O volume de lentilha importado em 2011 foi de 14,59 toneladas contra 11,04 toneladas em 2015, um decréscimo de 32,2%; já para o grão-de-bico, a variação foi de -6,2%, passando de 7,64 toneladas em 2011 para 7,16 toneladas em 2015.
“Existe demanda de outros países pela importação desses produtos no Brasil. Temos tecnologia e condições de ampliar nosso leque de produção, o que nos falta são políticas públicas de apoio. É necessário que se faça um trabalho com os produtores e também com a população para estimular o consumo dessas leguminosas. Só assim, conseguimos aumentar a oferta”, explica Nascimento.
Projeto-piloto
“Além da questão cultural, não tínhamos aqui bons materiais para produção dessas culturas em clima tropical. Mas, agora as condições são outras. Temos cultivares e um pacote tecnológico de qualidade pra isso”, disse o pesquisador. “Estamos em um projeto-piloto para grão-de-bico com duas indústrias – a Bonduelle e a Goiás Verde, que tem apresentado resultados bastante interessantes”, conta.
O pesquisador explica que, além da produção de grão-de-bico hoje estar totalmente mecanizada, o custo de produção é inferior ao do feijão e o produtor consegue uma produtividade maior e também um preço melhor no mercado.
“Os experimentos estão sendo feitos em Cristalina/GO. Chegamos a colher de 3.000 Kg a 3.500 Kg de grão-de-bico por hectare. Esses números estão fazendo com que o nosso produtor parceiro pense em migrar do feijão, cujo maior problema hoje é o controle da mosca branca, para o grão-de-bico”, completa.
Por que as leguminosas secas são importantes?
De acordo com a FAO, o consumo regular de leguminosas secas melhora a saúde e a nutrição humana por conta de seu elevado teor de proteínas e minerais. A inclusão desses alimentos em sistemas agrícolas de culturas intercalares aumenta a fertilidade dos solos e reduz, assim, a dependência de fertilizantes químicos, contribuindo para um sistema de produção mais sustentável.