Os produtores de carne bovina da Nova Zelândia ficaram sabendo que o Brasil, país com o maior rebanho de bovinos de corte do mundo, deverá surgir como uma força competitiva no mercado global nos próximos cinco anos.
O especialista do setor de carne bovina da América do Sul, Adolfo Fontes, analista sênior do Rabobank no Brasil, disse em uma visita à Nova Zelândia que o país pretende aumentar a produtividade para ampliar a competitividade nos mercados globais de carne bovina e “o potencial de aumentar a produção lá é enorme”, através de melhoramento genético e sistemas de engorda com grãos para aumentar os pesos das carcaças.
Entretanto, Fontes disse que a indústria de carne bovina da Nova Zelândia não precisa ficar muito preocupada, pelo menos, em médio prazo, com a posição da Nova Zelândia como um produtor de carne bovina de qualidade premium provavelmente devendo proteger sua participação de mercado.
“A Nova Zelândia tem uma reputação fantástica ao redor do mundo de produtor de carne bovina de qualidade superior, apoiada pelos mais altos padrões de segurança alimentar, bem como de status de livre de doenças, o que garantirá que a demanda por carne bovina da Nova Zelândia se mantenha forte daqui para frente”.
Falando em uma série de apresentações para produtores na Nova Zelândia, Fontes disse aos produtores locais que a mudança para sistemas de produção mais intensivos estava surgindo no Brasil, com expectativas de que até 2025, 20% da carne bovina ser produzida através do sistema de confinamento – mais que os 10% atualmente.
“Também estamos vendo os produtores brasileiros adotarem cada vez mais sistemas de integração lavoura-pecuária para utilizar o cultivo de milho e soja e estima-se que cinco milhões de hectares são produzidos dessa forma”.
Fontes disse que embora sistemas de produção intensivos devam aumentar a quantidade e também a qualidade da carne bovina brasileira, o país ainda está bem atrás dos sistemas sofisticados de produção dos Estados Unidos e da Austrália – onde os confinamentos representam cerca de 80% a 30% da produção de carne bovina, respectivamente.
Embora a Nova Zelândia não tenha um grande setor de confinamento e dependa de sistemas de produção a pasto, Fontes disse que em muitos mercados desenvolvidos e em desenvolvimento, a demanda por carne produzida a pasto permanecerá forte e terá mais crescimento no futuro.
Fontes disse que os produtores brasileiros também estão focados no melhoramento genético, com as raças britânicas e europeias, como Angus e Hereford, cada vez mais incorporadas no rebanho nacional através de cruzamentos.
“Se o Brasil puder aumentar a produtividade de nosso rebanho bovino – que está em 220 milhões de cabeças – poderá surgir como o maior produtor de carne bovina do mundo. Atualmente, os Estados Unidos são o maior produtor, ainda que com cerca de 90 milhões de cabeças”.
Como o segundo maior produtor de carne bovina do mundo, o Brasil também está em segundo lugar no comércio de carne bovina, com importantes mercados, como China, Egito, Rússia e União Europeia (UE).
“O Brasil deverá se tornar o maior fornecedor de carne bovina à China, com cerca de 200.000 toneladas devendo ser exportadas nesse ano. Entretanto, a maioria desse crescimento representa uma transição do mercado de Hong Kong para os canais oficiais chineses”.
Sobre o acesso ao mercado dos EUA, ele disse que melhorará a posição do Brasil nos mercados internacionais e poderá catalisar para outros países abrirem seus mercados – com sinais vistos em Japão, Coreia do Sul, México e Canadá – apesar de isso poder demorar mais.
Fontes disse que a melhor posição comercial do Brasil não deverá, entretanto, acabar com a participação de mercado da Nova Zelândia, com o consumo global de carne bovina devendo continuar ultrapassando a crescente produção do Brasil, com China, em particular, sendo um crescente mercado, dado o crescimento da população e a maior demanda por carnes vermelhas.
“Tendo dito isso, uma vez que o Brasil melhorar a organização de sua cadeia de valor da carne bovina, o que deve ocorrer nos próximos 10 a 20 anos, poderemos ver um aumento na competição”.
Fontes disse que há desafios para o cenário brasileiro, entretanto, com o país enfrentando gargalos de infraestrutura devido às incertezas politicas.
“O PIB deverá cair mais do que 3% nesse ano. Isso, no entanto, tem levado a um declínio no consumo doméstico de carne bovina em favor de proteínas mais baratas, como frango, o que levou uma maior proporção de carne bovina sendo direcionada às exportações, com a competitividade das exportações ajudada pela desvalorização do Real”.
“A fraca taxa de câmbio brasileira apoia a competitividade do Brasil na China de uma perspectiva de preços, embora esperemos que o preço por unidade da carne bovina brasileira se estabilize com a moeda não devendo cair mais”.
Fonte: Rabobank