Os benefícios da rotação de culturas não se limitam apenas ao aumento da produtividade, envolvem também a melhoria da qualidade física, química e biológica do solo, além da redução de pragas, doenças e plantas daninhas.
A maior parte das tecnologias geradas para o cultivo de grandes culturas como a soja, o milho, o trigo e o feijão, pressupõem sistemas de rotação de culturas com plantio direto na palha. Esta prática, juntamente com a cobertura permanente e o mínimo revolvimento do solo, são ações que normalmente conduzem á estabilidade do processo de cultivo.
A ausência de um sistema de rotação de culturas acarreta em alterações de ordem química, física e biológica no solo, que podem comprometer a estabilidade do sistema produtivo. Dentre as alterações observadas se destacam: a diminuição do teor de matéria orgânica do solo (MOS), a degradação da estrutura do solo, a intensificação dos processos erosivos, a redução da atividade e diversidade biológica, o aumento da incidência e severidade das pragas e doenças e o aumento da infestação de plantas daninhas. O conjunto desses problemas pode trazer também o aumento dos custos de produção face à concorrência de estresses bióticos e abióticos.
O aumento da diversidade biológica contribui para a estabilidade da produção devido à ciclagem de nutrientes, a fixação biológica de N, à diversificação da flora de plantas daninhas, á redução na ocorrência de doenças, ao aumento da cobertura do solo e ao trabalho realizado pelo sistema radicular das espécies, reduzindo o grau de compactação do solo em sistemas intensivos.
Os benefícios da rotação de culturas não se limitam ao aumento da produtividade, mas envolvem também a melhoria da qualidade física, química e biológica do solo, bem como a redução na ocorrência de pragas, doenças e plantas daninhas. A rotação de culturas é uma prática fundamental para aumentar a estabilidade da produção das culturas face às variações climáticas comumente observadas nas áreas agricultáveis do Brasil.
As culturas que compõe um sistema de rotação de culturas devem atender ao maior numero dos seguintes princípios:
1 – Produzir, quantidade suficiente de fitomassa da parte aérea e raízes visando ao aumento do teor de MOS e à formação de cobertura morta para controlar os processos erosivos, diminuir as oscilações de temperatura e reduzir as perdas de água por evaporação;
2 – Promover condições favoráveis de solos que diminuam a suscetibilidade das plantas aos danos de pragas e doenças ou contribuam para a formação de um ambiente supressor as mesmas;
3 – Apresentar exigências nutricionais e capacidade de aproveitamento de nutrientes diferenciais (ex: leguminosas e gramíneas);
4 – Apresentar suscetibilidade a pragas e doenças diferentes, evitando as espécies que sejam hospedeiras de pragas e doenças de importância econômica para as culturas principais;
5 – Permitir a diversificação de princípios ativos de mecanismos de ação de herbicidas, inseticidas e fungicidas, visando evitar a seleção de espécies ou biótipos tolerantes ou resistentes;
6 – Reduzir o tempo em que a área permaneça sem culturas vivas, contemplando a inclusão, em alguma fase, de culturas caracterizadas por alta produção de fitomassa e sistemas radiculares profundos, agressivo e abundante, visando melhorar a qualidade do solo;
7 – Resultar em renda direta pela produção de grãos, sementes ou forragem. Ou, indireta através de efeitos positivos sobre as culturas subsequentes.
Veja as melhorias que a rotação de culturas exerce na qualidade do solo:
Na qualidade física – evita a compactação, aumenta a porosidade e a aeração, facilita a infiltração de água e condutividade hidráulica, melhoria na estrutura do solo.
Na qualidade química – aumento na qualidade de MOS, fornecimento de nutrientes como o fósforo, aumento na capacidade de troca de cátions (CTC), complexão de elementos tóxicos as culturas como o alumínio, aumento da biomassa e da atividade biológica do solo, aumento da quantidade de nitrogênio. Do ponto de vista energético e ambiental, a melhor forma de aportar N aos sistemas produtivos é através da introdução de leguminosas nos sistemas de rotação de culturas (soja, feijão).
Na qualidade biológica do solo – A importância dos micro-organismos do solo se justifica em razão das diversas funções exercidas pelos mesmos, as quais englobam a ciclagem e reciclagem de nutrientes, a decomposição de matérias orgânicos e sua incorporação às frações orgânicas presentes no solo, a formação e estabilização de agregados de solo, o controle biológico e a fixação de nitrogênio.
Entenda o rendimento das principais culturas de grãos quando se adota um sistema de rotação de culturas:
Soja – a soja apresenta respostas positivas à rotação de culturas, particularmente quando cultivada subseqüente ao cultivo de milho de verão. A produtividade media da soja no sistema de rotação com milho de primeira safra em relação à sucessão depois de milho de segunda, chega a ser de 12% maior.
Os efeitos positivos da rotação de culturas sobre a produtividade da soja podem ser atribuídos à recuperação da qualidade do solo devido a maior produção de fitomassa da parte aérea e raízes pelas culturas do milho, de braquiária ou milheto.
Milho 1ª safra (verão) – o milho é importante para compor os sistemas de rotação de culturas, tanto no cultivo de primeira safra, quanto no de segunda safra. No caso do milho de verão, 1ª safra, resultados de pesquisa comprovam que a cultura responde de modo significativo às espécies vegetais de outono-inverno que o antecedem.
O milho apresenta melhor desenvolvimento inicial quando cultivado sobre a palhada de plantas de cobertura com capacidade de fixar N, como a ervilhaca, quando comparado à palhada de gramíneas. Entre as gramíneas, a aveia, por ser uma planta de cobertura com manejo no estádio de grão leitoso, quando a palhada ainda não se encontra totalmente lignificada, e apresenta menor imobilização de N durante sua decomposição, resulta em melhor desenvolvimento do milho do que se observa palhada de milho de segunda safra. As palhadas de milho safrinha, segunda safra, por representarem um resíduo vegetal pós colheita dos grãos, apresentam grande imobilização de N, reduzindo assim o desenvolvimento inicial do milho.
Milho 2 safra (inverno) – O milho “safrinha” ou de segunda safra ou de outono, é uma importante alternativa para intensificar o uso da terra e, assim aumentar a renda do produtor rural. No entanto, é motivo de preocupação o fato de que muitos produtores têm adotado o sistema milho safrinha /soja de forma continua, chegando o sistema a ocupar imensas áreas agricultáveis no Brasil.
Os restos vegetais produzidos pelo milho de segunda safra, embora em quantidade próximas de 6 t/há, não proporcionam uma cobertura satisfatória so solo. Esse fato, além de favorecer a ocorrência e intensificação da erosão hídrica, aumenta a temperatura do solo e as perdas de água por evaporação.
Uso de forrageiras tropicais em sistemas de produção de soja:
Em anos recentes, a inserção de forrageiras tropicais em sistemas de sucessão ou rotação com a soja tem se mostrado uma alternativa viável para conferir sustentabilidade à produção desta cultura. O objetivo principal das forrageiras é aumentar a produção de palhada e recuperar qualidade do solo, podendo ainda, eventualmente, serem utilizadas para pastejo.
O uso de braquiária, tanto em cultivo solteiro, quanto consorciado com milho safrinha, aumenta a produtividade da soja, principalmente em anos caracterizados pela ocorrência de secas.
Documento base deste texto: importância da rotação de culturas para a produção agrícola sustentável no Paraná/ Julio Cezar Franchini…et al. Londrina:Embrapa Soja , 2011. 52 p.—(documentos/Embrapa Soja. N. 327)
Por: Áureo Lantmann, consultor técnico do Soja Brasil