O Brasil é o único país no cinturão tropical do globo que foi capaz de conquistar a posição de potência agrícola.
As tecnologias de manejo transformaram solos pobres em terra fértil. A tropicalização dos cultivos, com ciclos diferenciados, permitiu aproveitar terras em todas as condições climáticas. Os manejos e as práticas sustentáveis que desenvolvemos constituem um arsenal de defesa ambiental. Com seu dinamismo empreendedor, os produtores souberam combinar esses conhecimentos e aproveitar as oportunidades de mercado.
Porém, a condição tropical tem lá seus ônus. Tamanha eficiência na produção de alimentos é constantemente posta à prova por toda sorte de estresses. Com a mesma pujança com que faz brotar as plantas, a abundância de sol e umidade acolhe e multiplica doenças e pragas. Os novos requerimentos do Código Florestal brasileiro e as alterações climáticas impõem limitações à ampliação de área para produção e aumentos nos custos.
É por isso que o termo “Intensificação sustentável” ganha cada vez mais notoriedade. Produzir de forma mais intensiva e resiliente se tornou um imperativo para o Brasil e demanda sofisticação tecnológica que amplie a eficiência de uso dos recursos ambientais – especialmente água, solo e biodiversidade – e garanta serviços ecossistêmicos adequados, como reciclagem de resíduos, recomposição das reservas hídricas, melhoria da atmosfera, dentre outros.
O Brasil chama a atenção do mundo pelo potencial de intensificação da sua agricultura. Uma grande extensão de nossas áreas agrícolas pode ser utilizada de maneira segura 365 dias ao ano, produzindo, no mesmo espaço, grãos, proteína animal, fibras, bioenergia e, em futuro próximo, químicos renováveis de biomassa. A Embrapa, apoiada por uma rede de parceiros públicos e privados investe na intensificação baseada em tecnologias “poupa-recursos”, de baixa emissão de carbono e em ganhos na produtividade da terra, em sintonia com o novo Código Florestal e com o novo padrão de consumo definido por uma sociedade cada vez mais engajada nas causas ambientais.
O Plano ABC – “Agricultura de Baixa Emissão de Carbono” é uma arrojada política pública baseada nos resultados da pesquisa agropecuária brasileira e alinhada à resposta global às mudanças de clima. Visa ampliar a recuperação de pastagens degradadas, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), o sistema de plantio direto (SPD), a fixação biológica de nitrogênio (FBN), as florestas plantadas e o tratamento de dejetos animais.
Ampla pesquisa realizada em âmbito nacional apontou uma área de adoção de sistemas ILPF no Brasil que alcança a expressiva marca de 11,5 milhões de hectares, representando parte importante da resposta brasileira à mitigação e adaptação às mudanças do clima no planeta. Este resultado é parte da estratégia robusta de enfrentamento da mudança do clima pela agricultura brasileira, que avança na consolidação da capacidade adaptativa dos seus sistemas agrícolas, lastreada pela gestão do conhecimento e da inovação tecnológica, pela forte ênfase em transferência de tecnologia via parcerias público privadas, e sustentada na visão e empreendedorismo dos nossos agricultores, que percebem e respondem ao tempo de rápidas mudanças em que vivemos.
Escrito por: Maurício Antônio Lopes – Presidente da Embrapa