2016 será um ano de volatilidade, porém a pecuária continuará pujante.” A frase é do professor Sergio de Zen, da Esalq/USP e resume o Encontro de Analistas, promovido pela Scot Consultoria nesta sexta-feira, em São Paulo, que foi intitulado “Até quando a pecuária será uma ilha de calmaria em meio ao mar revolto”? É alusivo ao momento atual da bovinocultura de corte no país.
A atividade vai bem atualmente, mas a crise econômica, política e “moral” está instalada. No encontro, que reuniu estudiosos, como os professores De Zen e Décio Zylbersztajn (Pensa/USP), o ex-ministro Alysson Paolinelli, o presidente da ABCZ de Uberaba, Luiz Claudio Paranhos, e o executivo da Abiec, que representa a indústria exportadora de carne, Antônio Jorge Camardelli, entre outros, as opiniões foram um pouco diferentes, mas a conclusão foi igual: a pecuária foi bem e continuará crescendo em 2016. Convivendo com sobressaltos como a queda no consumo interno e custos robustos, e avanços, como o incremento nas exportações devido à entrada de países como a China, os EUA e a Arábia Saudita na lista de importadores, e ao câmbio, haverá um saldo positivo.
“A pecuária deve continuar bem, mas é necessário dar foco na gestão, já que os custos estarão altos e fixos”, observa o professor Zylberztjan. Segundo ele, o confinador terá dificuldades. “Temos vários tipos de pecuária. A mais tecnificada vai conviver com um cenário difícil. Tenho certeza, no entanto, que haverá reajustes drásticos, mas a pecuária continuará pujante”.
Com ele concorda Paolinelli: “O Brasil convive com crise moral, política e econômica, e a pecuária vai bem.” O ex-ministro afirma ainda que o país desenvolveu uma tecnologia tropical própria que lhe permite superar as crises periódicas. Ele avisa, porém, que o fato de o Brasil estar à margem de qualquer planejamento estratégico, vai influenciar negativamente. “Vejo o caso do crédito para custeio. Assusta os bancos exigirem garantia real para emprestar dinheiro aos agropecuaristas. Isso não existe.” Outros participantes do encontro reclamaram que as verbas oficiais para o campo chegaram minguadas às mãos dos produtores e agricultores.
Já o presidente da ABCZ, Paranhos, disse que a crise vai separar “homens e meninos em 2016”, ou seja, vai dar-se bem o pecuarista eficiente. “Bom investimento hoje é uma calculadora”, diz. Segundo Paranhos, o preço alto do bezerro neste ano tem outro lado que não é geralmente explicado: “O bezerro caro é um animal de qualidade. Quem compra, portanto, está investindo em tecnologia.”
Proprietário da Scot Consultoria, Alcides Torres responde à pergunta que pautou o Encontro de Analistas: “O mar não estará revolto. Arrisco até dizer que as ondas serão fracas.”
Abiec na China
Essa notícia vai de primeira mão: A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), por meio do seu principal executivo, Jorge Camardelli, informa que a entidade deverá abrir um escritório próprio na China, país que voltou a comprar carne do Brasil.
Camardelli adianta que a proposta será apresentada aos proprietários das indústrias exportadoras.
A expectativa é que o Brasil exporte 20 mil toneladas de carne bovina em 2016. Esse volume equivale a uma receita de US$ 1 bilhão.