Somados, produção vegetal e animal, a previsão de crescimento é de 11,6% no PIB agropecuário em 2023, segundo Ipea.
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou um estudo na última sexta-feira (25/3) que projeta um elevado crescimento para o setor agropecuário em 2023, após uma queda da atividade econômica setorial em 2022. De acordo com o estudo, a expectativa é de um aumento no valor adicionado (VA) da agropecuária em 11,6% neste ano. A produção vegetal deve crescer em 14,2%, enquanto a previsão para a produção animal foi revista de 1,6% para 0,8%.
Produção Vegetal
A participação da produção vegetal no setor agropecuário aumentou significativamente nos últimos anos, sendo responsável por cerca de 80% do VA. As novas estimativas para as produções de milho e café na safra 2023/2024 compensaram a revisão para baixo na produção de soja, mantendo o VA do setor com alta de 11,4%. Para este ano, a soja deve ter crescimento de 21,3%, o milho de 10,2%, e o café de 5,7%. As projeções para a produção de arroz e trigo, no entanto, são de queda de 6% e 13,8%, respectivamente.
Vale destacar que a produção vegetal passa por uma transição para um modelo mais sustentável e que isso pode agregar mais valor ainda com a consolidação do mercado de carbono.
Visando isso, uma iniciativa promovida pela Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), apresentada durante a Show Safra (24/03), em Lucas do Rio Verde, destacou o “Mercado de Carbono no Agronegócio”. Segundo informações apresentadas, a intenção vai além do mercado de carbono, a proposta é trazer para perto do produtor rural, pessoas que atuam nessa área com larga experiência, apresentar dados consistentes, com segurança técnica e jurídica, informações estas que são extremamente importantes e necessárias em todo novo negócio.
“Queremos tirar do papel esta oportunidade, escalonar de forma que seja acessível, viável e rentável, colocando o nosso Estado na vanguarda da realização do desenvolvimento da agricultura carbono neutro em larga escala, contribuindo para o desenvolvimento da produção sustentável no Mato Grosso”, esclareceu a gerente de sustentabilidade da Aprosoja-MT, Marlene Lima.
O diretor executivo do Instituto Ação Verde, Álvaro Leite, considerou a palestra como de extrema importância para que os agricultores entendam como o mercado de carbono pode ajudar na obtenção de outra fonte de renda. “A Aprosoja-MT em parceria com o Instituto Ação Verde desenvolve através da plataforma INOVACPR o levantamento dos Potenciais Ativos Ambientais das propriedades que passam a conhecer os seus produtos ambientais escaláveis como pagamento de serviços ambientais”, disse.
Produção Animal
Por outro lado, a produção animal teve uma revisão menos otimista para 2023, justificada por uma desaceleração no crescimento da produção de suínos e na manutenção de um cenário adverso para a produção de leite. Isso levou a uma revisão para baixo nos dois segmentos: suínos (crescimento de 5% para 2,2%) e produção de leite (alta de 1,3% para queda de 1,4%). No entanto, as projeções atualizadas apontam avanços para bovinos (de 2,4% para 2,6%), aves (de 3,5% para 4,4%) e ovos (de 1,9% para 3,2%).
Sobre a desaceleração no crescimento da produção animal, o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (ABRALEITE), Geraldo Borges, avalia que o setor produtivo continua sofrendo com o aumento dos custos de produção, efeitos colaterais na economia causados pela pandemia, guerras e outras situações adversas. Segundo Geraldo, tudo isso influencia diretamente nos resultados alcançados no último ano. “A cadeia produtiva do leite (como outras cadeias produtivas) sofreu e está ainda sofrendo efeitos como alta generalizada nos custos de produção e instabilidade econômica gerada pela pandemia do Covid-19 e da guerra da Rússia e a Ucrânia no Leste Europeu, com novos efeitos que virão da crise internacional que afetou até o setor monetário da economia mundial, como bancos e outros agentes econômicos.“, avalia o presidente da ABRALEITE.
Para Geraldo Borges, se faz necessário combater a inflação com as altas taxas de juros observadas no momento e diminuir a elevada taxa de endividamento (79% das famílias). Ele considera também que os auxílios/programas sociais destinados à classe de baixa renda são essenciais. “Esses problemas impactam o consumo de leite e principalmente seus derivados com maior agregação de valor, que são muito dependentes do desempenho da economia e da renda das famílias consumidoras. O decréscimo na produção de leite observada no último trimestre de 2022 se deve a todos esses fatores, somados ao desestímulo causado à classe produtora, sobretudo aos aproximadamente 1 milhão de pequenos produtores de leite de todo o país que tiveram queda de preço pago à sua matéria prima preciosa que é o importantíssimo alimento, o leite.”, completa Geraldo.
Projeções para o Setor Agropecuário em 2023
O resultado previsto para o setor agropecuário em 2023 é condicionado, principalmente, à estimativa positiva para a soja. Até o momento, a probabilidade de que essa projeção permaneça em um patamar próximo de um crescimento de 20% é elevada. Entretanto, uma nova revisão da safra de soja no Rio Grande do Sul é o principal risco de uma redução na estimativa da produção brasileira desse grão em 2023.
Além disso, fatores como a recuperação do mercado após a suspensão de embarques de carne bovina para a China, principal destino das exportações brasileiras, e a possibilidade de um novo ano negativo para a produção do leite são pontos de atenção em 2023.
Entre os demais produtos da pecuária, as projeções apontam para avanços na produção de bovinos, aves e ovos, com estimativas de alta entre 2,6% e 4,4%.
Abaixo você pode fazer o download do estudo completo e detalhado.
Por Vicente Delgado – AGRONEWS®