Hoje, 15 de julho, é comemorado o Dia do Pecuarista e é importante saber que esta atividade cresceu muito nos últimos anos e não admite mais amadores. Mato Grosso, que começou como atividade de colonização, se consolida a cada ano, como uma das regiões mais importantes na produção de gado de corte do mundo, com cerca de 32 milhões de cabeças.
Pecuária e tecnologia
E nossos últimos tempos, o pecuarista vem seguindo a tendência da conectividade do mercado mundial. O fluxo de informação cada dia mais rápido, hoje o produtor de gado absorve as mais variadas vertentes de tecnologia com a Internet das Coisas (IOT), uso de drones para mapeamento de pastagem, balança de pesagem 24 horas, entre outras coisas.
O mercado de leilões de gado mudou. Boa parte dos leilões são feitos de forma virtual, surgiram aplicativos para venda de animais online, novos rumos para a nutrição, enfim a pecuária vem crescendo, expandindo o comércio e trazendo divisas para o país de forma sustentável e eficaz. Dentro de novo cenário, a tecnologia e a internet se tornaram ferramentas indispensáveis para o produtor de gado moderno que tem que estar preparado para dar respostas à demanda cada vez mais exigente do mercado globalizado, principalmente com questões ambientais e bem-estar animal.
Para Celsinho Nogueira, empresário e um dos administradores do negócio familiar – Estância Nogueira Leilões, que conta o experiente Celso Nogueira (Pai) e também Leonardo Nogueira (irmão), esta mudança torna mais eficaz e causa menos impacto ao ecossistema dos leilões de gado comercial, pois os animais não precisam sair do seu habitat natural até o momento da entrega ao comprador. Para ele, esse modelo gera uma economia considerável em transporte, pessoal e bem-estar animal. “Nosso estado é responsável por 21% das exportações de carne do Brasil. O rebanho mato-grossense é considerado o maior do país, com mais de 31 milhões de cabeças de bovinos, e é justamente nesta cadeia produtiva que nos destacamos. Queremos e vamos avançar ainda mais, para entregar qualidade, segurança e bons negócios a todos os envolvidos (vendedor-comprador-leiloeira)“, esclarece Celsinho.
A chegada recente da tecnologia 5G representou uma grande oportunidade para a melhoria da competitividade na agropecuária brasileira, trazendo mais eficiência, controle, aumento de produtividade e redução de custos. Por exemplo, o conceito da pecuária 4.0 fornecem ferramentas e softwares que automatizam e otimizam tarefas importantes no dia a dia da propriedade, fazendo assim com que o empreendedor tenha mais tempo para se dedicar à gestão e ao crescimento do negócio. A tecnologia tem possibilitado uma integração maior entre a pecuária e o meio ambiente, através de práticas como a ILPF- Integração Lavoura Pecuária Floresta.
Mercado global da carne
O Brasil exporta carne vermelha para mais de 120 países. E hoje, a carne bovina de Mato Grosso é um produto que transmite confiabilidade, qualidade visual, gustativa, nutritiva e higiênica-sanitária. ”A nossa carne é uma das melhores do mundo, pois tem qualidade, sabor e maciez”, garante o pecuarista Francisco Manzi. Ele que é diretor técnico da Acrimat – Associação de Criadores de Mato Grosso, sente-se orgulhoso em produzir a nobre proteína vermelha que é responsável por fortalecer e movimentar a economia de brasileiros e estrangeiros.
Em Mato Grosso são mais de cem mil pecuaristas que se dedicam à alimentação, sanidade, reprodução e bem-estar animal. A atividade está presente em todos os municípios, e assim como o gado de corte, a pecuária leiteira começa a se destacar aqui no Estado, com o aumento também da produção e qualidade do leite.
A pecuária do futuro
Com um rebanho de cerca de 32 milhões de cabeças, Mato Grosso produz carne das mais variadas formas possíveis. Animais de confinamento, animais criados a pasto, animais de origem europeia, boi japonês – o famoso wagyu, comprovando que qualidade e quantidade já temos. “A situação de exportação e ser esse grande player do mercado é muito nova, nosso Estado vem trabalhando arduamente para agregar valor ao nosso produto”, afirma Manzi.
Um Estado do tamanho de Mato Grosso os desafios são muitos e regionalizados. Os desafios enfrentados pelos pecuaristas do Pantanal não são os mesmos daqueles enfrentados pelos produtores do Vale do Araguaia, mas podemos dizer que a logística é um dos maiores problemas. “Da porteira para dentro, temos os desafios de compra de insumos, mão de obra capacitada, manejo sanitário regionalizado, manejo de pastagem para períodos de estiagem, manejo reprodutivo e estação de monta”, destaca Manzi.
O pecuarista garante que outro grande desafio é como gerar dados (confiáveis) da porteira para dentro, que esses dados subsidiem as tomadas de decisões, dessa forma reduzindo o risco e potencializando o ganho. “Existe necessidade do pecuarista, do peão, do gerente da fazenda, busquem capacitação para que o conhecimento adquirido posso aplicar na propriedade, garantindo uma pecuária mais produtiva e rentável”, destaca o pecuarista Nabih Amim, presidente da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil.
Logística e infraestrutura
Já a logística surge como uma das principais demandas do setor, justamente porque ela atua em todos os níveis da cadeia pecuária, vai da cria ao abate, da compra de insumos até como e quando escoar o animal terminado. “Onde a logística é ruim e dificultosa, temos uma situação de achatamento da margem de lucro, dificulta a aquisição e absorção de novas tecnologias”, afirma Manzi.
O diretor técnico da Acrimat, Francisco Manzi destaca a dificuldade de um pecuarista do município de Colniza, distante mais de 1 mil km de Cuiabá. “O município tem uma estrada de ligação com o restante do Estado, estrada essa não pavimentada, isso impede que muitos produtores vendam animais para abate, devido a diversos fatos, tais como a quantidade de contusões e fratura dos animais no transporte, e isso é um fator limitante do ganho por arroba do pecuarista”, aponta Manzi.
Ele destaca ainda que os pecuaristas de Colniza dificilmente compram milho, pois o valor do frete torna o preço inviável para a produção animal. Dessa forma Colniza perde muito devido a limitação de logística. Outra demanda dos pecuaristas é em relação a regularização fundiária que é fundamental para acesso ao crédito, lastro comercial e manutenção da legalidade.
Inovações na Pecuária de leite
Para o pecuarista Getúlio Vilela de Figueiredo, também conhecido como o “Rei do Gado Leiteiro”, Mato Grosso tem potencial para se tornar a maior bacia leiteira do país. Como grande produtor da raça Girolando, Vilela aposta no avanço do estado em genética, tecnologia e qualidade do leite. “Nós já estamos preparando vacas com padrão nacional de elite, para atender a produção de qualidade do leite do futuro, o tipo A2A2. Esse é nosso trabalho incansável e persistente, mas que estamos fazendo para ver Mato Grosso ser o maior produtor de leite do país“, afirma Sr. Getúlio.
Sustentabilidade
Outras estratégias para alavancar o setor produtivo do leite ficam por conta da sustentabilidade, é o que podemos observar com as recentes parcerias público-privadas. Recentemente a Embrapa Gado de Leite e a Nestlé iniciaram uma parceria pioneira para o desenvolvimento de uma pecuária de leite “Net Zero” no Brasil. O projeto integra o compromisso global da empresa de neutralizar as emissões de carbono de suas operações até 2050, já prevendo uma redução de 20% até 2025 e 50% em 2030.
“Nosso propósito é contribuir para que os produtores brasileiros adotem técnicas sustentáveis visando à produção de leite carbono neutro. Este desafio será compartilhado entre os pesquisadores da Embrapa, os técnicos da Nestlé e os produtores participantes”, explica Paulo Martins, chefe-geral da Embrapa Gado de Leite.
Segundo Bárbara Sollero, gerente de Desenvolvimento do Fornecedor e Qualidade da Nestlé, há o compromisso assumido de levar oito das 20 fazendas ao balanço neutro de carbono e a reduzir a emissão nas demais. “Além do trabalho de analisar os cenários da fazenda, o processo será validado, garantindo que de fato foi neutralizado. Outro ponto importante é que, dessa parceria, vai se originar o primeiro grupo de especialistas em pecuária leiteira de baixo carbono do Brasil”, explica.
O negócio do leite no Brasil
O Brasil produz cerca 36 bilhões de litros de leite/ano e é o 3º maior produtor de leite do mundo, perdendo apenas para a Índia e Estados Unidos. Em quantidade de animais, o Brasil possui aproximadamente 16 milhões de vacas ordenhadas e ocupa a 2ª posição no ranking mundial.
Em termos de produtividade, o Brasil deu um salto em relação aos demais produtores no mundo. Nas últimas 4 décadas o país cresceu + de 391%, que representa um aumento de 35 bilhões de litros de leite.
O Leite é o quarto maior faturamento no ranking do agronegócio
De acordo com a Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o valor bruto de produção (VBP) no segmento pecuário, em 2019, alcançou R$ 250,8 bilhões. Só do setor leiteiro, foram mais de R$ 50 bilhões, ocupando o quarto lugar do ranking dos maiores faturamentos, atrás, apenas, da soja, da carne bovina e do milho. Mas, se for considerada a geração de riqueza até no varejo, o faturamento anual da cadeia chega a R$ 100 bilhões. O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), Geraldo Borges, analisou o cenário brasileiro. De acordo com ele, o setor leiteiro vem passando por mudanças nas últimas quatro décadas de desenvolvimento, produção e de aumento de produtividade.
“O Brasil é o terceiro produtor de leite no mundo. É fundamental que na Câmara dos Deputados exista um trabalho focado na cadeia produtiva láctea para que as políticas públicas possam ser bem elaboradas, as leis sejam bem trabalhadas, para que tragam melhorias para o setor: desburocratizar, fazer com que ele se desenvolva e seja competitivo. Por isso, é muito importante essa visita hoje, para que o trabalho lá na casa legislativa seja bem conduzido, bem trabalhado, dentro da realidade que nós, da cadeia produtiva do leite, precisamos”, destaca Geraldo. De acordo com ele, um dos problemas reais hoje é o custo de produção, que tira a competitividade com os maiores produtores e exportadores de lácteo do planeta.
Enfim, estes são apenas alguns detalhes do setor que resolvemos destacar nesta atividade tão importante para o agronegócio brasileiro. Ser Pecuarista é uma missão nobre e devemos respeitar e aplaudir àqueles que trabalham em prol de um mundo melhor, mais saudável e com sustentabilidade.
Parabéns amigo pecuarista!
Por: Vicente Delgado e Márcio Moreira – AGRONEWS BRASIL