Mato Grosso pretende se tornar a maior bacia leiteira do país. Melhoramento genético, facilidade de acesso a créditos e assistência técnica qualificada, serão implementadas como estratégias para alavancar o setor leiteiro no estado
Na última segunda-feira (20), a Frente Parlamentar de Apoio ao Produtor de Leite da Assembleia Legislativa de Mato Grosso realizou sua oitava reunião ordinária. Sob a condução de seu presidente, deputado Gilberto Cattani. Também participaram do encontro, representantes de entidades de classe, indústria, cooperativas, iniciativa privada e produtores, que se reuniram para discutir os desafios enfrentados pelo setor lácteo no estado e propor soluções para fortalecer a cadeia produtiva do leite.
A convite do deputado Cattani, nós do Agronews, fizemos a apresentação de abertura da reunião, demonstrando um panorama atual do setor lácteo em Mato Grosso. Entre as informações apresentadas, o que chamou a atenção foi a capacidade industrial do estado estar sendo utilizada em apenas 50% do seu potencial.
Mato Grosso, representa 1,77% da captação total de leite nacional, com 442,79 milhões de litros produzidos em 2022, segundo IBGE. Apesar de sua baixa participação nacional, aparecendo na 10º posição do ranking, Mato Grosso possui 118,68 mil produtores, sendo 29,34% pecuaristas de leite, o estado destaca-se pela agricultura familiar, representando 80,44% dos produtores. Em torno de 64,09% desses produtores possuem áreas de 20 a 100 hectares, segundo dados levantados pelo IMEA
“A atividade leiteira além de fixar o homem no campo, gera emprego e renda a milhares de pessoas que trabalham nas 37 empresas de laticínios ativas no estado, refletindo sua importância socioeconômica. Apesar disso, a capacidade industrial esta ociosa em cerca de 50%, com isso podemos dobrar a produção sem a necessidade de instalação de novas plantas. (Fonte: OCB/MT)“, destaca Vicente Delgado, do Agronews.
Grupo de Trabalho para impulsionar produção de leite em Mato Grosso
Durante a reunião, foram abordados diversos aspectos relacionados à produção de leite em Mato Grosso. Um dos principais desafios destacados pelos participantes foi a dificuldade enfrentada pelos produtores, especialmente em garantir alimentação adequada para o gado durante o período de seca. O alto custo de estruturação para enfrentar esse desafio, aliado à falta de acesso a crédito, foi apontado como um obstáculo significativo para muitos produtores.
O presidente da Frente Parlamentar do Leite, deputado Gilberto Cattani enfatiza os projetos que aguardam sanção oficial para entrar em vigor. “Nós temos já hoje duas leis que já foram aprovadas pela Assembleia. Uma é para a desburocratização de pequenas agroindústria no estado e a outra é justamente para créditos para pequenos produtores, que hoje não tem acesso a crédito tradicional Produtores que estão em assentamento por exemplo, que não tem escritura da sua terra, ou seja não tem garantia real. Então o governo do Estado entraria aí subsidiando essas pessoas para aquisição de crédito. Isso é um caminho muito bom, muito fácil. Essas leis já existem e podiam ser regulamentadas, mas estamos trabalhando para isso.“, explica o parlamentar.
Cattani também acredita que o melhoramento genético pode ser um fator crucial para elevar a produtividade dessas pequenas áreas. “Outra proposta que fizemos aqui para melhorar a genética e para aumentar a distribuição de novilhas já prontas para a produção. Os parlamentares podem colocar suas emendas parlamentares para aquisição da segunda novilha. O governo estadual tem um programa para que ele entrega uma novilha e o produtor compra a segunda novilha. Muitos outros não aderem ao programa justamente pela compra da segunda novilha, porque a genética ela custa caro. Então nós estaremos entrando com emendas parlamentares para subsidiar a segunda no vinil. Tudo isso são ideias que surgiram aqui na reunião da Frente Parlamentar e nós vamos batalhar para que sejam realidades.“, completa.
Diante desse cenário, foi ressaltada a importância de iniciativas que visam fortalecer a cadeia produtiva do leite em Mato Grosso. Uma proposta apresentada durante a reunião foi a criação de um programa específico para essa atividade, inspirado em iniciativas bem-sucedidas, como a Lei do Agro da Gente, implementada no município de Cuiabá. Esse programa teria como objetivo fornecer suporte financeiro e técnico aos produtores, incentivando a adoção de boas práticas agrícolas e contribuindo para o desenvolvimento sustentável do setor.
O Secretário de Agricultura, Trabalho e Desenvolvimento Econômico de Cuiabá, Francisco Vuolo relembra que a capital possui 92% de sua área em zona rural e estas iniciativas beneficiarão os produtores que atuam na agricultura familiar. “É uma reunião extremamente produtiva, tendo em vista que nós tivemos alguns encaminhamentos de fortalecimento dessa cadeia produtiva e efetivamente, a proposta que nós fizemos foi da criação de um programa específico para essa atividade no estado de Mato Grosso. Este programa se assemelha, de certa forma, com o que já está sendo praticado dentro do município de Cuiabá, onde foi criado uma lei, uma lei específica chamada Lei do Agro da Gente.“, comenta o secretário.
Resumidamente, Vuolo elencou os pontos principais que devem ser considerados para o sucesso:
- Criação de um programa cooperativo entre todos os elos da cadeia produtiva para fortalecimento do setor;
- Identificação dos municípios com aptidão para a produção de leite, para que tenham prioridade;
- Capacitação dos produtores para a gestão efetiva da propriedade rural e redução de custos de produção;
- Melhoramento genético, com a substituição do gado por matrizes mais produtivas (gado girolando);
- Facilitar o acesso a créditos, subsidiando recursos para aquisição de insumos, implementos e matrizes;
- Melhorar a infraestrutura de escoamento da produção;
- Incentivar a comercialização com a aquisição do leite produzido através do (PAA) [Lei Nº 7073 DE 05/04/2024]
Fortalecimento do produtor rural
Além disso, foi destacado o papel fundamental da Frente Parlamentar do Leite em dar voz aos produtores e defender seus interesses perante as autoridades e instituições. Os produtores expressaram sua gratidão pela oportunidade de serem ouvidos e enfatizaram a importância de entidades que representem seus interesses e promovam o diálogo com os órgãos governamentais e a sociedade em geral.
Celso Nogueira, presidente do Sindicato Rural de Cuiabá reforça a necessidade de políticas públicas para auxiliar o produtor, principalmente no enfrentamento aos desafios climáticos. Momento em que o produtor perde muito dinheiro com o aumento do custo de produção. “Hoje produzir leite não é fácil. Mato Grosso é um estado maravilhoso, mas tem muitos extremos. Nós temos muita comida no período das águas e pouca comida na seca, então para que você possa estruturar, fazer silagem, fazer capineira, isso é muito caro. E o produtor que não tem acesso a crédito ele tem mais dificuldade.“, enfatiza Nogueira.
Para o presidente da Associação de Produtores de Leite do Oeste (APLO), Luciano Rodrigues, a Frente Parlamentar está abrindo espaço para que o setor produtivo tenha mais participação nas decisões. “Nós vemos que a Frente Parlamentar do Leite ela está dando voz ao produtor. Nós, produtores, sempre ficamos esquecido no campo. Não tem entidade que defende o produtor para falar ou do preço do leite, ou da genética, ou do melhoramento do capim, ou de uma capineira boa. A gente como associação, nós vamos ouvir o produtor para tentar trazer um projeto do produtor pra frente parlamentar, ou que seja para a Empaer, ou que seja, para a prefeitura. Nós queremos mostrar que o produtor tem necessidade de trabalhar e ganhar dinheiro, e tem como melhorar a produção de leite ou que seja a carne que ele produz na propriedade. Mas precisamos de alguém que invista o dinheiro para nós dar o início de pontapé, que é aumentar o leite ou engordar gado.“, avalia Luciano.
Incentivos para o melhoramento genético
Outras propostas discutidas durante a reunião incluíram a facilitação do acesso a crédito para pequenos produtores, especialmente aqueles em assentamentos, e a criação de programas de incentivo para melhorar a genética do rebanho e aumentar a distribuição de novilhas prontas para a produção. Os parlamentares se comprometeram a utilizar suas emendas parlamentares para subsidiar a aquisição de novilhas pelos produtores, contribuindo assim para o fortalecimento do setor.
O criador Getúlio Vilela, da Agropecuária GV5, avalia que nós temos todas as condições para ser a maior referência Brasil na produção de leite, desde que o setor se alinhe e comece a atuar de forma equilibrada. “O caminho das pedras é sempre dar condições e assistência para o pequeno. Ele vai ver que a vaca dele não está produtiva, ele gosta dela, mas ele vai ver a economicamente que é a hora dele trocar essa vaca por uma que da mais produção. Então nós temos tudo para ela ser referência no mundo, faltando somente acreditar em nós mesmos.“, considera sr. Getúlio. “Com genética de qualidade, políticas públicas adequadas e incentivos, Mato Grosso tem o potencial para se tornar a maior bacia leiteira do país“, finaliza.
Em resumo, a reunião da Frente Parlamentar de Apoio ao Produtor de Leite em Mato Grosso foi marcada por discussões produtivas e propostas concretas para enfrentar os desafios do setor lácteo. Com o apoio conjunto do poder público, entidades de classe, indústria, cooperativas, iniciativa privada e produtores, é possível construir um futuro mais próspero e sustentável para a produção de leite no estado.
Você pode assistir a reunião completa no vídeo abaixo. Aperte o play e confira!
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