Os controladores da Minerva Foods começaram a discutir a possibilidade fechar o capital da companhia, apurou o Pipeline. A transação, um leveraged buyout, se daria para aproveitar o desconto implícito que os acionistas enxergam numa empresa que vem gerando caixa regularmente.
O assunto ainda não chegou ao conselho de administração da Minerva, mas já entrou na pauta do comitê prévio dos controladores. Por meio de um acordo de acionistas, a VDQ — holding da família Vilela de Queiroz — e a gestora saudita Salic controlam a Minerva com 51% do capital.
Nas discussões internas, VDQ e Salic já começaram a fazer as contas. Uma análise obtida pela reportagem mostra que a operação poderia custar cerca de R$ 3 bilhões. Nesses cálculos, os controladores da Minerva chamariam uma OPA de fechamento de capital a R$ 12 por ação, um prêmio de 40% sobre a atual cotação. Em 2019, antes da pandemia, as ações chegaram a valer mais de R$ 14. Antes de comprar a BRF, a Marfrig chegou a sinalizar à VDQ com uma oferta de R$ 11.
Controladores da Minerva Foods avaliam fechamento de capital
A avaliação é que, diante da consistência de geração de caixa, a Minerva teria condições de dar um passo nesse sentido sem tornar o índice de endividamento da companhia insustentável.
Na análise, os acionistas consideraram que a Minerva vai gerar mais R$ 700 milhões em caixa livre no segundo semestre, apenas seguindo a atual toada dos negócios e com uma melhora de margens que já está contratada. Além disso, a companhia ainda deve receber R$ 313 milhões do bônus de subscrição que alguns acionistas detém — essas opções, a R$ 5,39, vencem em dezembro e a VDQ detém o direito de subscrever R$ 250 milhões.
Os ingressos de caixa esperados para os próximos meses fariam com que a Minerva fechasse o ano com um índice de alavancagem de 1,7 vez, um nível confortável para uma operação do gênero. Em junho, o indicador estava em 2,4 vezes.
A OPA de fechamento de capital poderia ser chamada antes de o grupo declarar, em março do ano que vem, os dividendos relativos ao atual exercício. Assim, a companhia faria o uso do próprio caixa para fechar o capital ao invés de distribuir dividendos ou fazer programas de recompra.
“Fechando o capital, os controladores passariam a ter direito da 100% do fluxo de caixa”, diz uma fonte. Numa operação de R$ 3 bilhões, a alavancagem subiria para cerca de 3 vezes.
O fechamento de capital da Minerva pode ser positivo para a Salic. A gestora do reino da Arábia Saudita prefere que os investimentos fiquem em companhias privadas, sem a necessidade de prestação de contas trimestrais ao mercado.
As discussões em torno do fechamento do capital da Minerva ocorrem enquanto as ações da companhia se distanciaram dos pares — JBS e Marfrig contam com o bom momento dos EUA para entusiasmar os investidores. Desde 2020, os papéis perderam 25% do valor. Na B3, a Minerva está avaliada em R$ 4,8 bilhões.
No entendimento dos acionistas, os investidores não estão precificando a companhia corretamente, perdendo de vista que a operação fora do Brasil é cada vez mais relevante para os resultados. Nesse cenário, o preço mais alto do boi gordo no país — um indicador chave para o mercado — seria insuficiente para avaliar a companhia.
Procurado pelo Pipeline, o diretor financeiro da Minerva, Edison Ticle, respondeu em nota. “Não comentamos rumores. Estamos sempre atentos a oportunidades de gerar valor, especialmente através de arbitragens de mercado. Claramente há uma grande oportunidade nas ações da Minerva em função de superficialidade e miopia do mercado acerca dos resultados da empresa, e obviamente isso pode despertar nossa criatividade em procurar estruturas mais sofisticadas e pouco usuais de extrair valor dessa assimetria”, disse. “Estamos sempre olhando tudo, atentos a todos os cenários possíveis, mas hoje não há absolutamente nada concreto a ser compartilhado.”
A provocação está feita. Agora, o jogo é entre minoritários e controladores.
Por Luiz Henrique Mendes – Valor Econômico
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