Sem alarde, sem brigar com ninguém, pecuaristas do Médio Araguaia aderem a programas de conservação de florestas mantendo a atividade da pecuária intensiva.
Se tem pecuarista querendo resultados financeiros concretos para encarar um sistema produtivo a pasto com sustentabilidade ambiental, lá pelos lados do Araguaia mato-grossense, vai achar. Pode não ser para já e talvez não seja o suficiente para cobrir os custos que ele acredita que terá – ou que deixará de ganhar (como a maioria pensa) -, para manter mais árvores em pé, mas na soma das alternativas a história pode ser outra.
A Liga do Araguaia tem como ajudar.
Junto com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), que formalizou acordos com a Holanda e Noruega, estão selecionando produtores que querem conservar a floresta acima do exigido pelo Código Florestal. R$ 300 por hectare adicional mantido será a remuneração.
Com a JBS, via subsidiária Friboi bancando inicialmente os custos, há um projeto de gestão integrado para fomentar a entrega garantida de gado superior mas criado dentro de requisitos ambientais. O terminador que aderir terá um prêmio fidelizado sobre os animais com indicadores de qualidade e produtividade superiores.
Esses são dois dos projetos desse agrupamento, hoje com 60 participantes, nas terras baixas do Vale Média do Araguaia mato-grossense. Não é entidade. Não tem taxa de participação. A adesão é voluntária. E não é preciso abraçar todos os programas.
A lógica é não forçar e não entrar em embates ideológicos com ninguém, explica José Carlos Pedreira, coordenador-executivo da Liga do Araguaia.
Essa história da Liga começou há seis anos e nunca fez muito alarde, mas já ganhou manchetes no Brasil e no mundo, além de atenções de empresas e ongs que veem uma forma de catequese ambiental de crescimento paulatino, mas sólido.
Tudo começou com os ideais da família Penido, do tradicional – e um dos pioneiros no Araguaia – Grupo Roncador. Para os demais que abraçaram a ideia de pecuária intensiva sustentável, “a gente não precisa falar que Deus existe”, brinca Pedreira.
Hoje são seis projetos sendo tocados, e mais alguns em fase inicial de estudos, além do Conserv Araguaia (em conjunto com o Ipam) e do Rebanho Araguaia (com JBS).
Em fase também avançada de montagem há um com a Dow Brasil, a gigante mundial dos defensivos, conta Pedreira. Trata-se da comercialização de crédito de carbono, no futuro, quando a conservação de áreas pode ser “comprada” por empresas e governos para compensar suas emissões de CO².
“É inexorável, não há de ser diferente, pois em algum momento não haverá portas para manter a rentabilidade da pecuária com os grandes mercados exigindo cada vez mais o mandato de ESG (Ambiental, Social e de Governança, em português).
Por enquanto, a China não incomoda com essa história. Mas, como muitos preveem, no futuro também o gigante comprador global vai ter que aderir ao mesmo modelo que a Europa está exigindo, pois para fazer parte do comércio global com as nações desenvolvidas Pequim também terá que entrar no comércio de responsabilidade ambiental e social.
É uma questão de tempo, que talvez os sucessores dos empreendedores rurais tradicionais terão que se virar para trocar o pneu com o carro andando.
Quem quiser se antecipar, pode começar já.
José Carlos Pedreira, o coordenador da Liga, conta que tem gente corajosa que estão entrando em programas que causam espanto nos mais céticos.
Sem citar nome, ele fala de um produtor que perdeu mais mil cabeças de gado por ataques de onças. Mas que decidiu conservar a floresta e aderiu ao programa hora deslanchado com o Instituto Onça-Pintada.
A lógica é simples: a onça ataca o gado porque está perdendo seu habitat natural e, com isso, suas presas tradicionais.
Conservando, o produtor mantém a vida selvagem, ganha por isso, e não perde mais gado (ou perde menos).
Por: Giovanni Lorenzon – AGRONEWS® é informação para quem produz