A China é uma das maiores potências mundiais, e muito se deve ao seu grande território. Entretanto boa parte desse terreno chinês é composto por desertos, onde a agricultura não funciona. Esses locais áridos também geram problemas ambientais como as grandes tempestades de areia comuns naquela região.
E foi olhando para este cenário que o governo chinês teve a ideia de criar um projeto de se transformar áreas de desertos em florestas. Apesar de parecer um pouco absurdo, a ideia foi para frente e vem sendo desenvolvida a mais de 4 décadas. O resultado de tudo isso é que vamos acompanhar nesta matéria.
O problema
Em 15 de março de 2021, a China enfrentou a maior tempestade de areia, lembrando que estamos falando da China, o país que mais cresce no mundo em todos os sentidos e é claro que eles iam achar uma solução para acabar com as tempestades de areia nas grandes cidades. Foi aí que surgiram projetos para diminuir a extensão dos desertos, assim literalmente os chineses queriam transformar desertos áridos em florestas verdes, dessa forma criaram um dos projetos artificiais mais fantásticos da história. E olha que esse projeto deu certo mesmo, após alguns anos em prática foi possível ver seus frutos em 2010, neste mesmo ano o projeto se tornou a maior floresta artificial do mundo, cobrindo mais de 500.000 km².
O amarelo do deserto foi substituído pelo verde de plantas por todos os lados. A escassez deu lugar a vida, mas a China quer ainda mais do que isso.
Origem da iniciativa para transformar DESERTOS em FLORESTAS VERDES
Tudo começou em 1978, quando o governo chinês criou uma nova Lei muito direta e obrigou que toda a pessoa que tivesse mais de 11 anos de idade deveria plantar pelo menos três árvores por ano em uma região desértica específica, estas deveriam ser árvores de Álamo Eucaliptos e outras espécies.
E com esta lei a China plantou em 10 anos, cerca de 56 bilhões de árvores, somente em 2009 foram semeadas em 5.88 milhões de hectares de areia. Com esta nova lei a China plantou 2,5X mais árvores que todos os países do mundo juntos. Isso até rendeu ao país um prêmio Nobel.
Antes disso, em 2006, a China havia informado que 2,63 milhões km², ou seja, 27% de seu território, era de deserto. Esse número estava acima dos 18% registrados em 1994 mostrando o crescimento da área deste meio tempo. As novas florestas que foram plantadas durante um grande período absorvem mais dióxido de carbono do que as de crescimento lento que quase não restam na China. Também árvores de crescimento rápido como Álamo e Bétula Branca, talvez capturem o dobro de dióxido de carbono do que os Abetos e Pinheiros Coreanos, segundo os especialistas.
Até hoje o governo chinês faz uso da “Grande Muralha Verde” como forma de propaganda, por seus esforços para combater a mudança climática. Cerca de 3 milhões de membros do Partido Comunista, funcionários e trabalhadores plantam árvores da primavera, acontecimento bastante divulgado na China. O governo destaca a importância da floresta para combater décadas de danos ambientais, mas a campanha oficial tem várias críticas. E estes críticos afirmam que as espécies plantadas e sua localização, limitam a efetividade dessa iniciativa.
Desertos chineses transformados em floresta
A China possui 8 desertos dentro do seu território, então eles acham importante combater não apenas um deserto, mas vários deles. Hoje vemos vários exemplos da China além da “Grande Muralha Verde”, de desertos que estão sendo restaurados.
O deserto de Maowusu é dos quatro maiores desertos da China, quer dizer, era pelo menos até um tempo atrás. Agora o caminhar pelo seu interior o verde é a cor predominante ao invés do amarelo característico das areias do deserto. Já por cerca de 70 anos ali acontece a luta contra a desertificação. Hoje os resultados dos esforços de controle do deserto são muito visíveis, sendo que 860 mil hectares de areia movediça foram eliminados na região arenosa, a dispersão anual de poeira foi reduzida em mais de 100 dias para menos de 10 dias, a área de pastagens utilizáveis atingiu o 183 mil hectares dando lugar a um projeto regional de proteção florestal.
O mesmo tipo de transformação onde deserto se torna floresta, acontece em Kubuqi, o sétimo maior deserto da China.
Como uma das regiões que mais sofrem com a desertificação, a Mongólia Interior concentrou esforços na restauração ecológica e no manejo de terras arenosas do deserto mais recentemente e teve resultados notáveis. Nos últimos cinco anos, o espaço de terras desertificadas e arenosas continuou a diminuir, com uma área média anual de prevenção e controle de areias de 800 mil hectares, representando 40% do território de controle nacional.
Os engenheiros do Instituto de Pesquisa Yili do Deserto de Kubuqi usam a plataforma de Big Data do Deserto de Yili para planejar o plantio de terras e mudas da “floresta de sequestro de carbono para controle de areia e proteção do rio em Kubuqi”.
“De acordo com os padrões técnicos fornecidos pela plataforma, adquirimos mudas locais adequadas, como salix, caragana, pinus sylvestris, e organizamos o plantio experimental para garantir que a taxa de sobrevivência de mudas está estável acima de 85%”, disse Lv Rong, engenheiro-chefe do instituto.
Além de plantas nativas, também introduziram espécies tolerantes à seca de outras regiões na mesma latitude em Kubuqi. O objetivo é enriquecer a diversidade de plantas que controlam a dispersão de areia.
Lv Rong afirmou que recursos de germoplasma de alta qualidade são a base do controle de areia. “Por esse motivo, construímos um banco de recursos de germoplasma especial para arbustos do deserto e plantas raras e ameaçadas de extinção. Atualmente, recolhemos materiais relacionados a mais de 1.000 tipos de sementes de plantas que são resistentes ao frio, à seca e à salinização.”
Segundo o pesquisador, a inovação da tecnologia de plantio também melhorou a eficiência do controle das areias. Cavar grandes fossos para plantar árvores pode destruir facilmente a ecologia do solo do deserto. Por isso, os especialistas criaram técnicas para plantar árvores de forma “não invasiva”.
“Uma árvore pode ser plantada em dez segundos, economizando mais de 50% de água”, disse Lv. E acrescentou que este é o método de plantio mais ecológico, reduzindo a perturbação do solo e aumentando a taxa de sobrevivência das mudas para mais de 90%.
Desde a década de 1980, a cobertura vegetal do deserto Kubuqi aumentou de menos de 3% para 53%. A precipitação e as espécies biológicas aumentaram e o clima de areia e poeira diminuiu significativamente. A nova forma de plantio também foi promovida para outras terras arenosas e desertos.
Com o controle de desertificação e das terras arenosas, a vida dos fazendeiros e pastores melhorou, tirando famílias da pobreza. Nos últimos anos, as autoridades locais proibiram o pastoreio e implementaram projetos de restauração ecológica e criaram florestas com retorno econômico.
Bhejarlin Bheyel, um dos beneficiários do programa, disse que “os espinheiros marítimos podem ser transformados em sucos e também atrair turistas.” Agora ele ganha mais de 10 mil yuans como guarda florestal a cada ano e a renda anual da família chega a 50 mil yuans.
Outras inciativas no mundo
Em 2007, 11 países africanos se uniram e se comprometeram a plantar árvores – principalmente acácias, que resistem bem à seca, já que suas raízes acumulam água – e a formar A Grande Muralha Verde (The Great Green Wall) em uma imensa área desértica, na região do Sahel, na fronteira sul com o deserto do Saara.
Assim, Burkina Faso, República do Djibouti, Eritreia, Etiópia, Mali, Mauritânia, Niger, Nigéria, Senegal, Sudão e Chad formaram a União Africana para ‘construir’ uma ‘floresta’ que deverá ter 8 mil km de extensão e 15 km de largura, indo do Senegal à Etiópia.
Segundo a ONU – Organização das Nações Unidas, esses países, juntos, perdem cerca de de 1,712 milhão de hectares (ou cerca de 17.120 km2) de floresta por ano.
A região é um dos lugares mais vulneráveis, pobres e áridos do planeta, onde as temperaturas sobem 1,5 vezes mais rápido do que a média global, registrando secas e inundações cada vez mais constantes, que levam à degradação de terras e de fontes de alimentos.
Maior barreira viva do planeta
O objetivo do projeto é conter o avanço do deserto, reverter os efeitos das mudanças climáticas e combater a pobreza, criando condições econômicas e de qualidade de vida para as populações, o que também ajudará a reduzir ou zerar a migração para outros continentes, até 2030.
Depois de concluída, a Grande Muralha Verde será a maior estrutura viva do planeta, ultrapassando em três vezes o tamanho da Grande Barreira de Corais.
Para tanto, a organização conta com o apoio dos órgãos da ONU para o combate à desertificação ((UNCCD), sobre alimentação e agricultura (FAO) e meio ambiente (Unep), e atua com base em 15 dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), além de países europeus como a França, que têm todo interesse em reduzir a migração de africanos para esse continente.
Com 14 anos de existência, a Grande Muralha Verde está com 15% da área coberta por árvores e já foram investidos 8 milhões de dólares. No total, serão necessários 33 bilhões de dólares.
Em janeiro deste ano, durante o One Planet Summit for Biodiversity – encontro co-organizado pela França, Nações Unidas e Banco Mundial -, o projeto recebeu um aporte de US$ 14,326 bilhões em novos financiamentos para o período de 2021 a 2025. O montante foi liberado para “acelerar os esforços para restaurar terras degradadas, salvar a diversidade biológica, bem como criar empregos verdes e aumentar a resiliência do povo do Sahel”, como divulgado em nota.
Os organizadores do projeto acreditam que o maior obstáculo para dar prosseguimento à ‘construção’ e concluir a muralha não será recurso financeiro, mas, sim, da instabilidade política de alguns países, como o Sudão, o Niger, Chad e Mali, que registram a presença de organizações terroristas e grupos armados.
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Por AGRONEWS®, com informações de Mundo Desconhecido e China Hoje.