A volatilidade continuou intensa no mercado internacional de café ao longo de setembro. Na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), que baliza a comercialização mundial, o mês foi de altos e baixos, mas termina com a bolsa se encaixando na faixa de US$ 1,90 a US$ 2,00 a libra-peso, mostrando grande apreensão com a safra de 2022 do Brasil, com potencial prejudicado por longas estiagens e pelas geadas de julho. No país, o mercado teve um setembro de preços mais firmes que nas bolsas, mostrando um descolamento e reação nas cotações à oferta curta e dúvidas produtivas para 2022.
O consultor de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, comenta que o café em NY continua vulnerável às mudanças de humor dos investidores. “Os mercados globais passam por um novo realinhamento, por conta da revisão para baixo nas perspectivas de crescimento mundial. Os sinais de desaceleração da atividade são mais acentuados na China, o que tem um impacto maior sobre as commodities, trazendo instabilidade ao índice CRB (de commodities) e por extensão aos preços do café”, avalia.
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Além desse aspecto financeiro, ele indica que o sobe e desce dos preços do café em NY é explicado pelo “mercado de clima” com as floradas no Brasil. “As chuvas, ou melhor, a sua falta, vêm direcionando os preços internacionais do café, particularmente nesse momento de transição produtiva da safra brasileira 2021, que acabou de ser colhida, para a safra 2022, cujas floradas dão o pontapé inicial para o desenvolvimento do novo ciclo de produção”, comenta.
É preciso que se confirmem as previsões de melhores chuvas em outubro para a abertura e pegamento das floradas. Isso travaria a quebra da safra 2022, que é certa, pelas estiagens e geadas. Mas, se não chover bem, com mais regularidades, as perdas podem aumentar na próxima safra. Boas chuvas podem ser aspecto de pressão de baixa para os preços, atenuando os temores produtivos, mas a falta delas pode manter o mercado em elevação podendo superar os US$ 2,00 a libra-peso novamente.
Barabach observa que a quebra da safra 2021 e os baixos estoques projetados para o final do atual ciclo comercial indicam a necessidade de uma boa safra 2022. “Aquela ideia de uma safra excepcional já foi deixada de lado faz tempo, por conta do frio e falta de chuva. Só que o quadro é tão preocupante que já se levanta dúvidas se a produção em 2022 será suficiente para atender às necessidades”, adverte.
No Brasil, o produtor continua muito pessimista, baseado no estado das lavouras. “E considera que ICE irá refletir mais à frente essa piora produtiva. Lá fora, o operador adota uma postura mais cautelosa, ainda acreditando na recuperação das lavouras com o retorno das chuvas ao longo da primavera. O resultado das floradas no Brasil segue como determinante para os preços de café na ICE”, prevê o consultor.
No balanço de setembro na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), o contrato dezembro do arábica acumulou desvalorização de 1,0%, tendo fechado agosto em 195,90 centavos de dólar por libra-peso e encerrado setembro em 194,00 cents. No trimestre julho-setembro, a alta acumulada para este mesmo contrato foi de 19,3%, refletindo as geadas de julho, especialmente.
Em Londres, o contrato novembro do robusta subiu no mesmo comparativo 4,9% no mês e 24,2% no trimestre. Preocupações com a oferta no Sudeste asiático, com falta de contêineres e problemas logísticos no Vietnã atrapalhando as exportações, garantiram sustentação aos preços em Londres. Além disso, as indústrias torrefadoras têm usado mais o robusta em seus blends diante do alto custo do arábica, o que determina queda nos estoques, inclusive certificados em Londres, e dá um adicional de suporte aos ganhos no terminal londrino.
Já no mercado físico brasileiro de café, as cotações estiveram bem melhor sustentadas do que nas bolsas em setembro. Como dito, os produtores brasileiros estão retraídos nas vendas até por não saberem o quanto irão colher em 2022 e aguardando pelas floradas. A alta no dólar é um ingrediente a mais nessa “fervura de alta”, como indica Barabach. A moeda norte-americana avança acima do patamar de R$ 5,43 e se soma à ICE para oferecer sustentação aos preços físicos internos de café, que testam novas máximas. “O vendedor, mesmo com a cotação alta, continua na defensiva, mantendo baixa a liquidez dos negócios”, descreve. No balanço de setembro, o dólar comercial subiu 5,36% em relação ao real e 9,6% no trimestre julho-setembro.
O mercado físico está muito firme e estratificado, e descolado da influência mais direta muitas vezes das bolsas de NY e Londres. “A maior agressividade do comprador, cobrindo necessidade, associado a interesses pontuais de venda continua dando a dinâmica dos negócios”, diz o consultor.
No balanço de setembro, o café arábica bebida boa no sul de Minas Gerais, com 15% de catação, subiu 5% em setembro e 38,8% no trimestre, fechando o mês agora em R$ 1.145,00 a saca na base de compra. O conilon tipo 7, em Vitória, Espírito Santo, avançou 21,5% em setembro e incríveis 65,7% no trimestre, fechando o mês em R$ 820,00 a saca.
O consultor descreve ainda que o arábica de bebida mais fraca e o conilon já tem uma dinâmica voltada ao mercado interno. O café rio nas Matas de Minas alcança R$ 1.015 a saca e reduz a diferença em relação ao café de bebida boa. Já o conilon tipo 7/8 é indicado a R$ 810 a saca em Colatina no Espírito Santo. “E embora muito caro ainda segue atrativo à indústria doméstica, pois continua bem mais barato que o arábica. Nesse sentido, o torrefador continua ajustando o seu blend, acrescentando o máximo que pode de conilon”, destaca.
Fonte: Safras & Mercado
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