Preços dispararam sem parar por demanda pela fibra. Também aqui, impasse entre canavieiros e usinas pode levar a ruptura pelo renovaBio
Por Giovanni Lorenzon – AGRONEWS®
Chama a atenção da Conab, em seu último boletim, as altas do algodão em outubro, em 9 cents de dólar no contrato mais líquido da bolsa de mercadorias de Nova York, o dezembro. Mas a flexibilidade de alta, que a empresa pública reputa à vacinação contra a covid no mundo, vem de meses.
No dia 30 de julho, saiu dos 89 centavos de dólar para os 114 desta sexta (29), com alguns ajustes de baixa no meio do caminho.
Ou seja, a demanda aquecida global fez a cotação andar 25 cents no período, com o contágio mais dominado pela vacinação, oportunizando vida social e desrepresou o consumo. As indústrias de tecelagem e confecção deslancharam.
Ao mesmo tempo, o mercado doméstico brasileiro está com valores nominais recordes pela procura maior pela pluma, quando as indústrias devem assegurar 725 mil toneladas de consumo em 2021.
A Conab, inclusive, vê que em parte do primeiro semestre de 2022, as cotações internas podem passam a paridade da exportação. E oferecer rentabilidade maior que a do milho.
Lembre-se: o algodão de segunda safra, período de maior volume de produção, concorre com milho em área, que também tem na segunda safra, a safrinha, a maior expressão.
A safra 20/21, mundial e brasileira ficou menor, sobretudo na Índia e Estados Unidos.
Com esse retrato, espera-se mais 1,5 mil de hectares em área no Brasil na próxima safra.
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Usinas querem cana limpa do produtor, mas querem os CBios só para elas
Cresce à beira da ruptura a relação entre fornecedores de cana e a maior representação das usinas brasileiras, a Única pela discrepância de posições entre o que as indústrias querem pagar pelos Créditos de Descarbonização (CBos) e o que os produtores defendem.
Juntas, Orplana e Feplana, as duas entidades de canavieiros, prometem manutenção do diálogo, mas não cederão à “mão de ferro” que a entidade industrial está impondo.
Até agora os produtores elegíveis no RenovaBio nada ganham pelos títulos negociados pelas usinas e destilarias referentes às vendas de etanol e biodiesel, buraco que ficou quando da elaboração do programa e, pelo qual, havia um entendimento na cadeia de acerto futuro.
Como eles têm que atender as necessidades de entrega da matéria-prima dentro dos padrões exigidos, como menos conteúdo de origem fóssil na produção, de modo a melhorar a nota de precificação dos CBios, a Orplana e a Feplana pedem que o valor a ser pago seja integralmente.
As indústrias não aceitam e, com “mão de ferro”, segundo as entidades acima, impõem o pagamento de 60% aos fornecedores elegíveis e 50% aos certificados com dados padrão.
A ruptura entre as posições ficou mais evidente há cerca de 10 dias, durante audiência na Câmara dos Deputados a cerca da PL 3149/20, que trata dessa mudança. Em nota, a Orplana classificou como “deselegante” a postura do presidente da Única, Evandro Gussi, por “deixar de mão atadas” o setor produtivo independente.
Mãos atadas porque os canavieiros não têm outra opção. A cana, afinal, só tem um destinatário, a usina, ao contrário dos grãos, por exemplo, que podem ser negociados in natura.
Não há outra alternativa a não ser processamento.
E por desqualificar os dados técnicos que embasam o pleito e sem que fossem apresentados, também, argumentos técnicos por parte das indústrias.
A Feplana, com base mais nacional, envolvendo 60 mil fornecedores, endossa a nota da Orplana.
Alexandre Lima, presidente, há dois anos, desde a implantação do RenovaBio, está a frente da causa, tanto que a Coaf, cooperativa presidida por ele na Zona da Mata Norte de Pernambuco, é a única empresa até agora a honrar 100% dos Cbios aos seus cooperados.
“E agora vamos nos recertificar para aumentar a nota de todos”, diz Lima, que também preside a associação estadual de produtores (AFCP).
A Unida, que agrega produtores nordestinos, igualmente endossa a disputa.
AGRONEWS® – Informação para quem produz