A política de segurança alimentar garante importações, dentro do programa de desenvolvimento com qualidade definido já para 2021, com crescimento mais sustentado em qualidade
Por Giovanni Lorenzon – AGRONEWS®
Parece filme velho, mas não é. Como tem acontecido todo final de ano, o mundo olha o ano seguinte para a China.
O Brasil, então, não tem nem como desviar os olhos, tamanha a dependência do apetite chinês por nossos grãos e carnes.
E o que está no radar, agora, é a decisão do comitê que governa o país: o crescimento do PIB não deverá passar de 5% em 2022.
Em 2021, cravaram 6%. E vai ficar nisso.
Muitos ainda se perguntam por que a China está abandonando as projeções de sua economia abaixo daqueles índices, até 2019, de crescimento de 8% até 9% ao ano.
E o que representaria para os países exportadores de commodities, portanto, essa espécie de “pouso forçado”.
Bom, a China mudou sua política. Cresceu muito, antes, e sem qualidade. A poluição explodiu, a renda não foi bem distribuída, os incentivos para o desenvolvimento não foram equilibrados entre todos os setores etc.
Aproveitaram a pandemia, que acabou forçando uma certa reestruturação, para definirem um ritmo de desenvolvimento mais sustentável.
A gente está vendo a crise dos fertilizantes e outros insumos químicos. Isso foi só uma ponta. A China forçou a menor exploração de carvão para produção de energia, poluente, e consolidou milhares de pequenos fabricantes químicos em um número menor de empresas.
Mais recentemente, com a crise da Evergrande, a incorporadora falida, Pequim viu também que não vai mais encher os bolsos das empresas imobiliárias com dinheiro, sem garantias de retorno.
Enfim, no geral, o gigante asiático vai se preparando para fazer a economia andar com menos recursos públicos.
Lembra o capitalismo? Ou lembra o Brasil de hoje?
Sim, não querem correr riscos de, num futuro talvez não tão longe, haja desequilíbrio de contas públicas.
Mas, tudo isso, não significa que haverá menos comida nas mesas. Pode haver menos dinheiro em circulação, porém a política de segurança alimentar continua garantindo importações.
Haverá algum controle, como nós estamos vendo neste segundo semestre, com compras mais reguladas de soja e, desde a vaca louca brasileira, sem novas compras de carne bovina.
Os estoques chineses vão sempre regular a oferta e demanda.
Quando precisarem, voltarão para os mercados.
Análises do Centro Empresarial Brasil-China (CEBC), bem como de outras fontes internacionais, não estão pessimistas quanto a isso.
O que muda, frisamos mais uma vez, é que haverá sempre algum controle e monitoramento da voracidade dos fornecedores globais para imposição de preços, mas os volumes importados pelos chineses não significam que cairão.
A dependência deles seguirá sendo grande.
Claro, Pequim sempre vai tentar ganhar tempo em alguns setores. Por exemplo, até que seu plantel de suínos se recomponha, para encurtar suas importações de carnes.
Mas, por outro lado, isso requererá mais grãos para alimentação animal, até, também, que o governo vá mudando o cardápio, criando um colchão de novas alimentações para substituir os insumos mais tradicionais, como soja e milho. O trigo foi muito importado este ano.
Porém, tudo isso leva tempo.
E não será em 2022.
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