Entidades do agronegócio mato-grossense repudiaram campanha de marketing do Bradesco e vídeo publicado pelo banco que sugeria redução no consumo de carne. Em nota o Sindicato Rural de Cuiabá pede respeito à pecuária nacional e ao trabalho realizado pelos pecuaristas do estado.
Segunda COM carne
Acontece na próxima segunda-feira, 03 de janeiro, em várias localidades do Brasil, um ato simbólico contra a campanha divulgada pelo Bradesco, a “Segunda COM Carne”. Em Cuiabá, a capital do maior estado produtor de bovinos do país, o Sindicato Rural, a Associação de Criadores de Mato Grosso – Acrimat, a Nelore MT e a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu -ABCZ, realizarão um churrasco em frente a agência central do banco em repúdio às ações do banco.
Esta ação é resultado da indignação dos produtores rurais contra uma campanha publicitária do Bradesco na qual em um vídeo aparece uma jovem sugerindo reduzir o consumo de carne e adotar a prática de comer um prato sem carne pelo menos um dia da semana, às segundas feiras, no movimento que ficou conhecido como Segunda Sem Carne.
Em nota de repúdio, o Sindicato Rural de Cuiabá se manifesta:
Com o maior rebanho bovino do país e com a grande responsabilidade de alimentar o planeta, não podemos admitir ações que denigram o trabalho da pecuária brasileira.
Nossos modelos de produção utilizam práticas sustentáveis, pastagens produtivas e integrações para a criação de bovinos que contribuem positivamente para o balanço de carbono.
Por isso NÃO CONCORDAMOS com esta desinformação propagada pelo BRADESCO.
Outras entidades também se manifestaram
ABCZ
Em nota, a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), disse que “é inacreditável que uma instituição financeira preste um desserviço social como este, desaconselhando o consumo desta excelente fonte de proteína, cujos benefícios já foram cientificamente comprovados”.
IMAC
Também por nota, o Instituto Mato-Grossense da Carne (Imac), afirma que “os modelos de produção que utilizam pastagens produtivas para a criação de bovinos contribuem positivamente para o balanço de carbono, sequestrando como gasto desse gás que produção a pecuária emite. Dessa forma, podemos dizer seguramente que a pecuária brasileira já resolve seus problemas com carbono. Além disso, vale ressaltar, que nosso código florestal é exigente e foi construído a várias mãos, considerando órgãos de pesquisas nacionais e internacionais, terceiro setor, órgãos públicos e privados e amplamente discutido.
A aplicação de nosso CF garante a preservação de mais de 60% do território brasileiro. Dessa maneira, não é aceitável associar a responsabilidade integral pela emissão de gases de efeito estufa com a pecuária brasileira, tão pouco faz sentido ou possui respaldo científico a sugestão de reduzir o consumo de carne bovina no Brasil”.
Nelore Brasil
A Associação dos criadores de Nelore do Brasil se posicionou fortemente em defesa da pecuária nacional, leia abaixo a nota da entidade assinada pelo seu presidente Nabih Amin El Aour:
A ASSOCIAÇÃO DOS CRIADORES DE NELORE DO BRASIL (ACNB) vem publicamente manifestar seu REPÚDIO contra às MANIFESTAÇÕES públicas, tendenciosas, e SEM O DEVIDO CONHECIMENTO a respeito da cadeia produtiva da carne bovina brasileira.
Vimos ainda convidar os chamados “influenciadores”, organizações (INCLUINDO CERVEJARIAS E INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS), e o público em geral, a conhecer em mais detalhes o sistema produtivo da carne bovina brasileira, responsável pela geração de receitas, e pela produção de alimentos para o Brasil e diversos países do mundo.
Por natureza, OS BOIS EMITEM GÁS METANO, derivado de seu processo digestivo. Porém, é fato que, especialmente no Brasil, OS BOIS SÃO CRIADOS SEMPRE AO AR LIVRE, na maioria das vezes EM PASTAGENS, ONDE OS GASES EMITIDOS E A ÁGUA CONSUMIDA SÃO TAMBÉM ABSORVIDOS PEO MEIO AMBIENTE.
Com isso, o potencial efeito prejudicial à natureza é minimizado, e em muitas situações, onde as pastagens são cultivadas e intensificadas, A PRODUÇÃO DE CARNE BRASILEIRA GERA OS CHAMADOS CRÉDITOS DE CARBONO.
A SELEÇÃO GENÉTICA implementada no rebanho bovino no país vem, ano a ano, propiciando o ENCURTAMENTO DO CICLO DE PRODUÇÃO E O AUMENTO DA EFICIÊNCIA PRODUTIVA, naturalmente, REDUZINDO A EMISSÃO DE GASES pela atividade pecuária.
A atividade PECUÁRIA BRASILEIRA está ciente, e há tempos, COMPROMETIDA COM A SUSTENTABILIDADE DO PLANETA!
Esperamos que outras atividades, especialmente urbanas, também se comprometam com este desafio.
Convidamos todos a fazerem as contas de qual atitude teria maior efeito na redução do balanço de gases geradores do efeito estufa (emissão versus absorção de carbono). Mas ainda assim, isoladamente, parece-nos muito simplista sugerir que a população abra mão de algum hábito de consumo e/ou de vida em específico, por apenas um dia, para “salvar” o mundo. O compromisso tem que ser contínuo!
A visão, e a ATITUDE, do PECUARISTA BRASILEIRO que sobrevive da atividade, é de TODOS OS DIAS, adotar ações que contribuam para a SUSTENTABILIDADE de sua atividade e do PLANETA.
VOCÊ ESTÁ DISPOSTO A ESTAR CONOSCO NESTA MISSÃO DE PRESERVAR A NATUREZA, TODOS OS DIAS DA SEMANA?
Ministro chamou de “ridícula” a propaganda
Uma das pessoas que também ficou indignado com a campanha contra o Bradesco foi o ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles que, por meio de suas redes classificou a campanha do banco como “ridícula”.
“Que propagandazinha mais ridícula hein @Bradesco ! Não tem cabimento trabalhar contra a pecuária brasileira! Viraram a ONU agora ?!??! Adotar um Parque da Amazônia no programa #adoteumparque que é bom … até agora nada…!“
Empresas e produtores rurais se manifestam
Estância Bahia
Em comunicado publicado nas redes sociais, a Estância Bahia Leilões anunciou o rompimento das relações financeiras com o banco Bradesco. A empresa, uma das principais do país no ramo de leilões, classificou a propaganda do banco nas redes sociais que associa a pecuária à destruição da camada de ozônio de “ato de insanidade”.
“Em respeito à pecuária brasileira e indignados com o ato de insanidade do Bradesco, que viola os nossos mais de 40 anos de relacionamento bancário, retiramos 100% de nossa movimentação financeira da instituição”, diz o texto assinado pelo empresário Maurício Cardoso Tonhá, proprietário da Estância Bahia Leilões.
A empresa, que tem sede em Cuiabá (MT), está presente nos principais Estados brasileiros. Conforme material publicitário em seu site na web, tem 15 mil clientes cadastrados, “com alto poder aquisitivo”, 260 leilões por ano e 310 mil animais comercializados.
Produtores rurais
O produtor rural José Neves Ferreira do Programa Taurino Tropical, da Fazenda Arinos, em Nova Mutum-MT, também veio a público e compartilhou nas redes sociais seu desabafo (vale a pena a leitura):
Bradesco, precisamos de você, e não contra nós, brasileiros.
Uma instituição de vida longa seria capaz de compreender que uma nação é diferente de um país. Se os donos levarem isso a sério, certamente essa empresa vai ser mais respeitada.
País é a junção de estados. Nação é um grande grupo de pessoas diferentes que lutam por ideais semelhantes, um agrupamento de estados políticos, sociais e humanos, crescendo rumo a um futuro seguro.
Presumimos que a segurança alimentar não deve estar nos planos de vocês, banqueiros. Compreendemos. Vocês lidam com dados e queremos acreditar que tenham um lastro físico (financeiro) caso um dia, todos nós, ao mesmo tempo, resolvamos trocar as moedas, títulos e aplicações, pelo verdadeiro capital que foi aí guardado. Imaginamos que vossas senhorias tenham ouro suficiente para quitar a dívida adquirida conosco. Será que tem?
É uma situação diferente de nós pecuaristas. Se falamos que temos 100 ou 1.000 cabeças, precisamos entrega-las fisicamente ao frigorífico e não apenas a promessa de que estão bem guardadas e rendendo.
Sabe esse negócio de confiança, é o que nos une, mas da parte de vocês, parece que não. Muitos de nós, criadores de gado, somos seus clientes e não fazemos campanhas do tipo “Um Dia Sem Bradesco.”
Sim, vocês precisam atender as minorias, os diferentes, os únicos e os que prezam por caprichos que nem sempre compreendemos mas respeitamos.
Não comer carne é uma opção. Contudo, quem segue por esse caminho, deve lembrar que a proteína sustenta pessoas, gera empregos, move industrias, impostos, bens e serviços. Agredimos o meio ambiente, sim, como toda a atividade humana, desde os primórdios, mas é muito menos do que se supõem. Afinal, vivemos neste planeta e também queremos que ele seja bom. Não existe uma linha que divide quem come carne de quem não come. Todos ocupam o mesmo ecossistema.
Lembramos aos que ainda não viram a história, que quem abre o sertão é o casco do boi. Dependemos, inegavelmente do gado para nos movermos, carregar madeira, puxar equipamentos, arar a terra. É de vacas e bois que vem o leite e a carne. Somente no Brasil, essa história tem 500 anos.
Claro, evoluímos ao ponto de aprendermos, por exemplo, sobre respeito e bem estar animal. Mais do que isso. No mundo moderno é possível criar gado com menos sacrifícios por parte dos animais, com menos agressão ao meio ambiente e o uso racional de medicamentos. Tudo isso faz parte dos protocolos de criatórios responsáveis porque prezam pela vida longa dos projetos e das pessoas.
Bradesco, diante de tudo isso, solicitamos que justifique o slogan que está no seu site, “Reinvente o Futuro”. E, cuidado, porque um futuro sem alimentos pode não existir.
Para que todos possam refletir: entre alimentos e bancos… o que é mais importante para a sobrevivência das pessoas? Não precisamos nos dividir, setor produtivo x setor bancário mas é necessários nos falarmos mais e melhor, antes de erguer bandeiras que sejam muito pesadas para carregar sozinhos.
Bradesco se defende
O AGRONEWS® entrou em contato com a assessoria de imprensa do banco e a instituição afirmou que:
O Bradesco é há décadas o maior banco privado dó agronegócio. Foram a pecplan e a fundação Bradesco, com o apoio de seus técnicos, que implantaram e capacitaram milhares dê pecuaristas a fazer inseminação artificial, ajudando a agropecuária a chegar ao atual é reconhecido nível de excelência mundial.
Atualização
Veja como foi a manifestação na porta da agência do Bradesco em Cuiabá/MT.
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