Cerca de 20% da área do país (154 milhões de hectares) é ocupada por pastagens. A maior parte do rebanho brasileiro, de 218 milhões de cabeças (segundo maior rebanho mundial), é criada em pasto, o chamado “boi verde”.
Segundo o relatório de Anual da Pecuária da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC) estima-se que somente 12% do rebanho é terminado em sistema intensivo (confinamento). Ainda segundo a ABIEC, a lotação média (número de cabeças por unidade de área) é de 1,25 cabeças por hectare. Em sistemas de baixa produtividade o valor chega à 0,7 cabeças por hectare ou menos. Já em sistema melhorado, 3 cabeças por hectare ou mais.
Informações compiladas em Dias-Filho (2011b) indicam que entre 50% e 70% das áreas de pastagens do Brasil apresentariam algum grau de degradação, ou seja, estariam abaixo da capacidade máxima de produção ou apresenta-se com solo exposto, erosões, pragas e doenças, etc.
Assim, é possível estimar que, para cada hectare de pastagem recuperada, cerca de 3,0 hectares poderiam ser destinados para outros fins (atividade agrícola, florestal ou reflorestamento), sem que com isso promovesse perdas de produção da pecuária nacional. Ou ainda se as pastagens degradadas fossem reformadas para serem devidamente produtivas, haveria um potencial de aumento de 3 vezes nossa atual produção sem desmatar 1 pé de árvore.
Segundo dados do projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e Uso do Solo no Brasil (MapBiomas), o aumento das pastagens no período de 2000 a 2014 foi de 27%, já o aumento do rebanho, segundo o IBGE foi de 28%, ou seja, a taxa de aumento do rebanho foi maior do que a taxa de aumento de pastagens. Um dos fatores que podem ser atribuídos a este fenômeno é o aumento do investimento em pastagens, genética animal, manejo do rebanho, entre outros. Porém, caso este aumento do rebanho ocorra sem tais investimentos, a taxa de degradação de pastagem aumentará, ocasionando perda de produtividade e degradação ambiental, além de estimular a abertura de novas áreas para manter ou aumentar os níveis de produção absoluto.
Tabela 1: Ampliação da pecuária entre 2000 e 2016
Segundo o relatório anual da pecuária (ABIEC, 2016), a projeção para o ano de 2025 é que a área de pastagem diminua 5,6%, sendo o principal motivo, a ocupação das áreas de pastagem pela agricultura (commodities). Por outro lado, o rebanho tende a aumentar 5,7%.
Como pode-se observar no gráfico abaixo, apesar do grande caminho a ser percorrido no que diz respeito a este assunto, a taxa de desmatamento ao longo dos anos tem diminuído.
A diminuição da área de pastagem devido à substituição por commodities, aliado ao aumento de políticas efetivas de controle à abertura de novas áreas (desmatamento), leva a pecuária a ser pressionada e estimulada cada vez mais ao caminho da intensificação do uso das pastagens e da produção. É de grande importância que esta intensificação seja realizada de maneira adequada, sustentável. Desta maneira, a pecuária poderá ser aliada à preservação dos recursos naturais e à qualidade ambiental.
Como demonstrado num artigo de pesquisadores do Brasil e da Escócia publicado na NatureClimateChange (uma das revistas cientificas mais respeitadas do mundo), se a intensificação da pecuária se der por recuperação de pastagens degradadas, ocorre aumento significativo dos estoques de carbono no solo, o que, segundo o estudo, seria suficiente para contrabalancear o aumento das emissões dos animais.
O Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) cita que uma cabeça de gado gera cerca de 63kg de metano por ano. Esse estudo, porém, não leva em consideração as condições tropicais, e especialmente a condição brasileira, na qual 88% de sua produção é boi a pasto, portanto, não é levado em consideração o que é absorvido por esse pasto. Um pasto bem manejado tem um papel fundamental na absorção de gases do efeito estufa da atmosfera, sendo capaz de absorver mais metano do que os animais podem emitir (Adams, 2010). Estudos comprovam que 1,0 kg de matéria orgânica no solo tem capacidade de extrair 3,67kg de CO2 da atmosfera. Se houver aumento do teor de matéria orgânica no solo em 1%, consegue-se capturar cerca de 100.000 kg por hectare de carbono (Machado, 2010).
As principais estratégias que englobam a recuperação de pastagens degradadas e o desenvolvimento de uma pecuária sustentável consistem nas boas práticas de produção agropecuárias, preconizadas pela Embrapa, Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS) e protocolos internacionais. Além disso, o desenvolvimento da pesquisa e da tecnologia de produção vem estimulando a melhoria de sistemas de produção alternativos, tais como os sistemas integrados (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, Integração Lavoura-Pecuária e Integração Pecuária-Floresta), do qual representa cerca de 11,5 milhões de hectares no país e em constante crescimento.
Este sistema possui diversos benefícios tais como: diversificação da produção e da receita, aumento do bem-estar animal, aumento da produtividade, otimização do uso dos insumos, conservação em melhoria da qualidade do solo, conservação dos recursos naturais, entre outros.
A associação da pecuária à uma atividade agressiva ao meio ambiente pode ser desconstruída através do desenvolvimento e expansão da pecuária sustentável. Através do incentivo a pesquisas, políticas públicas e conscientização do mercado consumidor, esta realidade se torna cada vez mais próxima.
Por Fábio Ramos e Eduardo Azeredo – Animal Business
Referências bibliográficas:
ADAMS, M. “Grassllands Absorvb Grassfed Cows Metane Production” Ringelands: SGF, Vol 10, num. 7. P4, 2010.
DIAS-FILHO, M. B. Degradação de pastagens: processos, causas e estratégias derecuperação. 4. ed. rev., atual. e ampl. Belém, PA, 2011b
IBGE. Pesquisa Pecuária Municipal, 2016.
IPCC 2006. IPCC 2006 Guidelines for National Greenhouse Gas Inventories.
24 Intergovernmental Panel on Climate Change – IPCC. [http://www.ipcc.ch].
MACHADO, L.C.P. Pastoreio Racional Voisin. São Paulo: Expressão Popular, 2010.