A recuperação de pastagens degradadas e a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) são grandes apostas do governo brasileiro para atingir sua meta de redução das emissões de gases causadores de efeito estufa no setor agropecuário. Aos poucos essas tecnologias sustentáveis estão ganhando espaço entre os produtores, que veem nelas também uma forma de melhoria da produção e de renda.
O pecuarista Valdemar Antoniolli é um exemplo. Com pastagens degradadas em sua fazenda no município de Santa Carmem (MT), ele começou a fazer a integração lavoura-pecuária como uma forma de custear as despesas com a reforma das pastagens. Começou em uma área de 380 hectares, mas em poucos anos adotou a técnica em todos os 2.400 ha de área produtiva da fazenda.
Desde que começou a fazer a integração lavoura-pecuária, a Fazenda Platina passou de um rebanho de 1.700 cabeças para 4.500 cabeças. Isso mesmo utilizando parte da área como lavoura e sem tocar nos 1.100ha de floresta nativa da fazenda. O tempo médio de abate dos animais também foi reduzido em quase um ano.
Na agricultura, a soja teve um aumento de produtividade de 5 a 7 sacas por hectare. Além disso, outros benefícios foram notados, como maior acúmulo de matéria orgânica no solo, ciclagem de nutrientes, melhor cobertura do solo, manutenção da umidade do solo reduzindo o estresse das plantas em veranicos, menor incidência de plantas daninhas, além da diversificação da renda.
“O grande negócio da integração é que você tem faturamento mensal o ano inteiro. O que acontece é que um lavoureiro não gosta de gado e o pecuarista não gosta de lavoura. É difícil de aceitar essa integração. Mas eu diria que todos que são produtores, deveriam, de uma maneira ou outra, se encaixar, para o bem deles. Porque todo mundo gosta de resultado econômico”, aconselha Antoniolli.
Expansão da área
Assim como Valdemar Antoniolli, outros pecuaristas estão passando a integrar culturas como forma de recuperar pastagens degradadas. Somente em Mato Grosso estima-se que a área com alguma configuração de ILPF seja de aproximadamente 700 mil hectares. A maior parte desta área é com integração lavoura-pecuária. O número é estimado com base em uma pesquisa feita em 2013 e em dados sobre a comercialização de sementes de braquiária ruzizienses, uma espécie de forrageira muito utilizada em sistemas integrados.
Números mais precisos, entretanto, serão obtidos em 2016 com uma pesquisa encomendada pela Rede de Fomento à ILPF que fará a estimativa de uso dos sistemas integrados em todo o país. A Rede de Fomento à ILPF é um grupo formado pela Cocamar, DowAgrosciences, John Deere, Parker, Schaeffler, Syngenta e Embrapa para fomentar a transferência de tecnologia sobre sistemas integrados de produção em todo o país.
Além de subsidiar o trabalho de transferência de tecnologia de ILPF, os números obtidos ajudarão o Brasil a se situar diante de seu compromisso de chegar a 5 milhões de hectares com sistemas integrados e recuperar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas até 2020.
Incentivo financeiro
Para incentivar a adoção de tecnologias sustentáveis como a ILPF e a recuperação de pastagens, foi criado o Programa ABC. Esta linha de crédito oferece juros e carências especiais para cada tipo de tecnologia adotada.
Emissão de gases
Por possibilitar um uso mais intenso do solo, produzindo mais em uma mesma área, a ILPF é considerada uma tecnologia sustentável. Entretanto, para quantificar a mitigação de gases causadores de efeito estufa, pesquisadores da Embrapa estão trabalhando em diferentes frentes.
Na Embrapa Agrossilvipastoril, em Sinop (MT), estudos estão sendo feitos para se obter o balanço de carbono de sistemas de integração lavoura-pecuária, lavoura-floresta, pecuária-floresta e lavoura-pecuária-floresta em uma região de transição entre os biomas Cerrado e Amazônia. Para isso, estão sendo medidas as emissões de gás carbônico (CO2), óxido nitroso (NO2) e metano (CH4) pelo solo e pelos animais, além de se mensurar a captura de carbono em forma de matéria orgânica e de biomassa nas árvores.
As pesquisas ainda estão em fase intermediária, mas contam com grande aparato tecnológico como um sistema de câmaras automáticas que faz avaliação das emissões do solo em tempo real e três cochos automáticos que mensuram o metano emitido pelas vias aéreas dos bovinos enquanto se alimentam.
Dados iniciais já indicaram, por exemplo, que a presença do componente arbóreo nos sistemas integrados contribui para o balanço positivo de carbono, uma vez que há grande acúmulo de biomassa.
“Começamos a comprovar que a ILPF tem grande potencial de mitigação. Queremos chegar a um fator de emissão, que vai ser um valor usado como referência no monitoramento do Plano ABC [Agricultura de Baixa Emissão de Carbono]”, explica o pesquisador Renato Rodrigues, referindo-se ao plano governamental que estimula a adoção de tecnologias de baixo carbono como forma de reduzir as emissões da agricultura brasileira.
Para se chegar a um fator de emissão para a ILPF, ainda será necessário maior repetição das avaliações e fazer a correlação das emissões de gases de efeito estufa pelo solo com informações sobre química e física do solo, biomassa, características de clima e emissões dos bovinos por fermentação entérica.
De acordo com Renato Rodrigues, como o Plano ABC tomou como base informações obtidas em outros países, com outras características de clima e sistema produtivo, é possível que a ILPF tenha maior potencial de mitigação, o que exigiria menor área para se chegar à meta de redução prevista pelo governo brasileiro.
Fonte: primeira hora